 Josias de Souza
A Lava Jato eliminou a ideia de que o Brasil estava condenado a viver beira do abismo. A operao fez desaparecer a noo de borda. O pas escorregou para dentro do precipcio. A delao da Odebrecht, que chega ao noticirio em conta-gotas, leva o brasileiro para um outro patamar, bem mais profundo. Com suas revelaes devastadoras, os corruptores da maior construtora brasileira expem nao o subsolo do abismo. onde se aloja o insondvel. O Brasil est sendo apresentado, finalmente, ao magma que o pariu. No subterrneo do abismo, o sonho de “estancar a sangria” tornou-se um pesadelo hemorrgico.
Visto de baixo, o governo de Michel Temer ganhou a aparncia de um empreendimento precrio. Todos sangram. O prprio presidente aparece nas delaes requisitando uma odebrechtiana de R$ 10 milhes. Seus amigos e correligionrios do PMDB plantam bananeira na areia movedia: Padilha, Moreira, Geddel, Juc, Renan… Candidatos do Planalto s presidncias do Senado e da Cmara, Euncio e Maia so pavios acesos. Aliados como Acio, Serra e at Alckmin, “o santo”, brincam na lama depois de se banhar nas guas do impeachment.
Tornou-se impossvel prever como o governo Temer chegar a 2018. Difcil dizer at mesmo se chegar to longe. O futuro chega to rpido que j est atrs de ns. Em 3 de maio de 2015, Emlio Odebrecht, o patriarca da construtora, anotou o seguinte num artigo:
''A corrupo problema grave e deve ser tratado com respeito lei e aos princpios do Estado democrtico de Direito, mas fundamental que a energia da nao, particularmente das lideranas, das autoridades e dos meios de comunicao, seja canalizada para o debate do que precisamos fazer para mudar o pas. Quem aqui vive quer olhar com otimismo para o futuro —que no podemos esquecer—, sem ficar digerindo o ado e o presente.''
Nessa poca, Emlio cobrava, estalando de pureza moral, “uma agenda clara de crescimento com desenvolvimento para o Brasil.” E seu filho, Marcelo Odebrecht, preso em Curitiba, dizia que no seria delator porque no tinha o que delatar. Desnudados pelos investigadores, pai, filho e os santos espritos da Odebrecht despejam sobre o presente revelaes de um ado que leva o pas a desacreditar do futuro.
Conselho til: aperte os cintos. Com a delao da Odebrecht, o Brasil est aterrissando no subsolo do abismo. O PT celebra a chegada de companhia. Quem olha ao redor percebe por que o Brasil o mais antigo pas do futuro em todo o mundo.
Acio pediu R$ 1 milho para Agripino Maia
O senador Acio Neves (PSDB-MG) tambm est na delao premiada de Claudio Melo Filho, o diretor da Odebrecht em Braslia que decidiu implodir Michel Temer e seus principais aliados, como Eliseu Padilha e Romero Juc.
Segundo Melo Filho, o presidente nacional do PSDB pediu Odebrecht que desse R$ 1 milho em ajuda financeira ao senador Agripino Maia (DEM-RN) como contrapartida por seu apoio na eleio presidencial de 2014.
Esta, no entanto, no a acusao mais grave. A Odebrecht tambm diz ter pago despesas pessoais de Acio por meio de seu marquteiro Paulo Vasconcellos, que seria seu caixa informal..(Minas 247)
Veja mais apelidos de polticos que pegavam propina
Em relato ao Ministrio Pblico Federal, ex-executivo da empreiteira relatou pagamentos de propina e exps por quais apelidos os polticos eram chamados.
Boca mole, todo feio, angor, missa, botafogo, gripado entre outros
Por G1, com informaes da Jornal Hoje
Ex-executivo da Odebrecht conta os apelidos de cada poltico envolvido no esquema
Nas oitenta e duas pginas entregues ao Ministrio Pblico Federal, o ex-vice-presidente institucional da Odebrecht, Cludio Melo Filho, contou s autoridades da Operao Lava Jato como a empresa fazia doaes de caixa dois a polticos e acabou revelando os apelidos pelos quais eles eram chamados dentro da empreiteira.
As inspiraes so as mais diferentes. O senador Romero Juc (PMDB-RR), era conhecido como "Caju". O deputado Jos Carlos Aleluia (DEM-BA), era o "Missa". O senador Jos Agripino (DEM-RN), era o "Pino" ou "Gripado", em aluses ao sobrenome.
Os times de corao foram lembrados para os deputados Rodrigo Maia (DEM-RJ), chamado de "Botafogo", e Marco Maia (PT-RS), o "Gremista".
Outros apelidos so curiosos, como o do senador, Renan Calheiros (PMDB-AL), o "Justia", dos ministros Eliseu Padilha, o "Primo", e Moreira Franco, o "Angor", todos do PMDB.
O senador Ciro Nogueira (PP-PI) era o "Cerrado". O ex-senador pelo PTB, Gim Argello, era conhecido como "Campari". O ex- senador pelo PT, Delcdio do Amaral, era o "Ferrari".
Tem ainda os ex-ministros Jaques Wagner, do PT, chamado de "Plo" e Geddel vieira lima, do PMDB, o "Babel".
A lista da Cmara dos Deputados variada. O deputado cassado, Eduardo Cunha, do PMDB, era o "Caranguejo". O deputado Duarte Nogueira (PSDB-SP) era conhecido como o "Corredor". Antnio Brito (PSD) tinha o apelido de "Misericrdia".
Arthur Maia (PPS) era o "Tuca". E tem ainda o deputado Herclito Fortes (PSB-PI), o "Boca Mole". E o ex-deputado pelo PL Inaldo Leito, conhecido como o "todo feio".
Delator: Temer pediu doao pessoalmente no Jaburu
Delao de ex-diretor da Odebrecht atinge Temer e cpula do PMDB
Cludio Mello Filho disse que o presidente pediu, em 2014, R$ 10 milhes ao empreiteiro Marcelo Odebrecht. Presidncia disse repudiar delao.
Por G1. com informao do Jornal Hoje
Delator da Odebrecht cita Michel Temer e outros polticos em delao.
No acordo de delao premiada, o ex-diretor de relaces institucionais da Odebrechet Cludio Mello Filho dedica um captulo ao relacionamento que tinha com o presidente Michel Temer. Os relatos fazem parte de um depoimento de 82 pginas que ele deu ao Ministrio Pblico, no qual fala sobre doaes da empresa a polticos.
A informao de que Temer solicitou dinheiro Odebrecht est em material entregue pelo executivo nos termos de confidencialidade – espcie de pr-delao que antecede a do acordo.
O ex-diretor afirmou que Temer atuava de forma "muito mais indireta, no sendo seu papel,em regra, pedir contribuies financeiras para o partido, embora isso tenha ocorrido de maneira relevante no ano de 2014".
No entanto, segundo Cludio , ao menos uma vez Temer pediu doaes pessoalmente. Foi durante um jantar no palcio do Jaburu, residncia oficial do vice-presidente da Repblica. Tambm estavam presentes, segundo ele, o empreiteiro Marcelo Odebrecht e o atual ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha.
Cludio disse: "eu participei de um jantar no Jaburu juntamente com Marcelo Odebrecht, Michel Temer e Eliseu padilha, atual ministro da Casa Civil. Michel temer solicitou, direta e pessoalmente para Marcelo, apoio financeiro para as campanhas do PMDB em 2014".
O delator afirma ainda que ele e Odebrecht foram recebidos no palcio por Padilha e, como Temer ainda no tinha chegado, ficaram os trs "conversando amenidades em uma sala direita de quem entra na residncia pela entrada principal". "Aps a chegada de Michel Temer, sentamos na varanda em cadeiras de couro preto, com estrutura de alumnio", completou.
Melo Filho tambm disse que, no jantar, Marcelo Odebrecht se comprometeu a pagar R$ 10 milhes. Ele afirmou ainda que o local escolhido para o encontro foi "claramente" uma opo para dar mais "impacto" ao pedido de Temer.
"Acredito que, considerando a importncia do PMDB e a condio de possuir o vice-presidente da Repblica como presidente do referido partido poltico, Marcelo Odebrecht definiu que seria feito pagamento no valor de R$ 10 milhes. Claramente, o local escolhido para a reunio foi uma opo simblica voltada a dar mais peso ao pedido de ree financeiro que foi feito naquela ocasio", afirmou o delator ao Ministrio Pblcio.
"Inclusive, houve troca de e-mails nos quais marcelo se referiu ajuda definida no jantar, fazendo referncia a temer como "MT", completou.
O ex-diretor disse que, do total de R$ 10 milhes prometido por Marcelo Odebrecht em atendimento ao pedido de Michel Temer, Eliseu Padilha ficou responsvel por receber e alocar R$ 4 milhes.
"Compreendi que os outros R$ 6 seis milhess, por deciso de Marcelo Odebrecht, seriam alocados para o Paulo Skaf, na poca candidato ao governo de So Paulo pelo PMDB", explicou Melo Filho.
Ainda segundo o delator, os R$ 4 milhes foram destinados a Padilha, sendo que um dos endereos para entrega foi o escritrio de advocacia de Jos Yunes, hoje assessor especial da Presidncia da Repblica, o que deixa a entender que o ree foi em dinheiro vivo.
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Padilha centrava arrecadaes do PMDB na Cmara
Segundo Cludio Melo, Temer e Moreira Franco tambm comandavam ncleo do PMDB na Cmara. Os trs negam afirmaes de ex-diretor da Odebrecht.
Por G1, com informaes do Jornal Hoje
Delator da Odebrecht fala sobre relao entre a empreiteira e a Cmara Federal
Nas negociaes para o acordo de delao premiada, o ex-diretor de relaes institucionais da Odebrecht Cludio Mello Filho afirma que o ncleo poltico organizado do PMDB na Cmara era historicamente liderado pelo presidente Michel Temer, quando ainda era deputado federal.
Esse ncleo era formado tambm por Eliseu Padilha, hoje ministro-chefe da Casa Civil e Moreira Franco, outro com cargo de destaque no Palcio do Planalto.
“Pelo que pude perceber ao longo dos anos, a pessoa mais destacada desse grupo para falar com agentes privados e centralizar as arrecadaes financeiras Eliseu Padilha, conhecido pelo codinome ‘primo’”, disse Cludio nos termos de confidencialidade – espcie de pr-delao que antecede a do acordo com o Ministrio Pblico Federal (MPF).
“Ele atua como verdadeiro preposto de Michel Temer e deixa claro que muitas vezes fala em seu nome. Eliseu Padilha concentra as arrecadaes financeiras desse ncleo poltico do PMDB para posteriores rees internos”, afirmou.
Eliseu padilha disse que a acusao mentirosa e que no foi candidato em 2014. O ministro afirmou que nunca tratou de arrecadao para deputados ou para quem quer que seja.
Claudio Melo Filho tambm disse s autoridades que Geddel Vieira Lima, de codinome “babel”, ex-secretrio de governo de Temer, “tambm possui influncia dentro do grupo, interagindo com agentes privados para atender seus pleitos em troca de pagamentos”.
O ex-diretor falou que na ocasio do aniversrio de cinquenta anos de Geddel, em maro de 2009, “demos, em nome da Odebrecht, um presente relevante a ele. Compramos um relgio Patek-Philippe, modelo Calatrava, que foi enviado juntamente com um carto assinado por Emlio Odebrecht, Marcelo Odebrecht e eu”.
Cludio anexou a foto do relgio ao acordo de delao.
Ele falou tambm das reclamaes de Geddel. “Apesar dos pagamentos frequentes, sempre me disse que poderamos ser mais generosos com ele. Geddel sempre me dizia que se considerava um ‘amigo da empresa’ e que isso precisava ser mais bem refletido financeiramente”, afirmou.
Cludio diz que em 2006, a pedido de Geddel, foram realizados pagamentos por meio de contribuies oficiais e tambm pagamentos no declarados via caixa dois. “Os pagamentos realizados atingiram R$ 1 milho aproximadamente”, disse. “Durante a disputa de Geddel ao cargo de governador da Bahia na campanha de 2010, a pedido de Geddel, solicitei e ocorreu um pagamento entre R$ 1 milho e R$ 1,5 milho”.
O melhor amigo de Temer
A delao premiada de um dos executivos da Odebrecht que cita rees irregulares para a cpula do governo Temer casa com algumas das perguntas feitas por Eduardo Cunha ao presidente da Repblica.
Sergio Moro vetou 21 indagaes de Cunha a Temer. Duas coincidem com a informao do dirigente de que levou dinheiro ao escritrio de Jos Yunes. “Qual sua relao com o sr. Jos Yunes?”, Yunes j “recebeu alguma doao de campanha?”, questionou o ex-deputado.
Presidente municipal do PMDB de So Paulo, Jos Yunes o melhor amigo e um dos mais prximos auxiliares de Temer. ( - Folha de S.Paulo)
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