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Urgente : deputado ensina a comprar votos e difamar adversrios
Enviado por alexandre em 22/07/2013 01:57:45

Aelton Freitas deputado federal pelo PR de Minas Gerais. Em um vdeo exclusivo obtido pelo Fantstico, ele ensina como se disputa uma eleio comprando votos e espalhando boatos sobre os concorrentes.

“Eu tenho uma teoria que eu digo que problema de companheiro meu problema meu. Acho que poltica isso”, diz em um trecho do vdeo.

Antes de ser eleito deputado, ele foi senador, no lugar de Jos Alencar, que deixou o Senado para assumir a vice-presidncia da Repblica, em 2003.

O vdeo obtido pelo Fantstico foi gravado em setembro de 2012, na retal final das eleies para vereador e prefeito. O deputado est em um restaurante em Capetinga, interior do estado.

Na mesa, esto o ento prefeito da cidade, Carlos Roberto Custdio, conhecido como Carlito, o candidato a prefeito, Donizete do Escritrio, e o candidato a vice, Adriano do Gs. Tambm esto na mesa as mulheres deles e um assessor do deputado.

“O verdadeiro lder, muitas vezes, aquele que no faz questo de aparecer”, diz Aelton no vdeo.

O grupo est reunido para receber ensinamentos polticos de Aelton Freitas sobre como uma fazer campanha eleitoral.

Lio nmero 1: como comprar votos. A tcnica do ‘cartozinho’: “Ns vamos fazer 200 cartezinhos para prefeito. No quer dizer nada, 200 cartezinhos. E ns vamos pegar 20 amigos nossos confiveis. Quem da confiana? Vinte. Ento voc vai ter dez, voc vai ter dez, voc vai ter dez. Voc vai buscar dez companheiros seus l e que no esto votando no Donizete”.

E quanto vale o voto de um eleitor? Segundo Aelton: “Esse cartozinho vale R$ 100. O cara no vai votar em voc. Vai votar nos R$ 100 que o cartozinho que est no bolso dele vale. E outra: s vo pagar se tiver sido eleito”.

Lio nmero 2: como espalhar boatos contra o adversrio. preciso convocar o esquadro da fofoca: “Vamos buscar trs, quatro pessoas dentro do nosso grupo que saiba incomodar o Daniel”, ensina no vdeo.

Daniel Bertholdi era um dos candidatos a prefeito de Capetinga, adversrio de Donizete do Escritrio.

“Trs ou quatro pessoas que possam estar em boteco ou em ponta de rua soltando boato e fofoca. Porque o Daniel tem que desmentir e perder tempo naquilo. No voc. A cpula da campanha, que est por cima, nem conhece. Baixa o retrovisor e esquece que tem concorrente. Vocs esto indo em uma viagem ao futuro de Capetinga, pronto”, diz.

Depois dessas lies, Aelton explica como retribui a votao recebida: ele usa a verba das chamadas emendas parlamentares para favorecer os municpios onde obteve mais votos: “Um parlamentar tem 12 milhes de emenda por ano. Eu procuro distribuir essas emendas proporcionais aos votos que eu tenho. Eu preciso de 100 mil votos e tenho 12 milhes, eu divido 12 milhes por 100 mil votos. Significa dizer que, a cada mil votos que eu tenho em uma cidade, aquela cidade tem 120 mil meu por ano. Est certo?”.

Capetinga tem pouco mais de 7 mil habitantes e mais de 6.100 eleitores. As eleies de 2012 tiveram quase 5 mil votos vlidos. L, o eleitor se queixa de abandono das autoridades. “No tem transporte aqui, uma pobreza lascada”, reclama o pedreiro Antnio Flavio Terra.

“No tem mdico, o posto ficou fechado 15 dias. O posto aqui no funciona sbado e domingo”, conta a aposentada Regina Rodrigues da Silva.

Um homem que trabalhou para o ento candidato Donizete do Escritrio, apoiado pelo deputado federal, confirma que a campanha comprou votos, sim. usando a tcnica do cartozinho.

Reprter: Voc chegou a distribuir cartes?
Testemunha: Cheguei. Cheguei a distribuir.
Reprter: Quem te deu o carto para distribuir?
Testemunha: O prprio Donizete.

No vdeo, o deputado federal afirma que o dinheiro s pode ser pago depois da vitria do candidato. Mas uma eleitora afirma que Donizete, que acabou perdendo a eleio, estava to convencido da vitria que pagou adiantado: “O candidato Donizete pensou que j tinha ganhado a eleio. A ele resolveu pagar o pessoal uma semana antes porque ele ‘contou’ vitria”.

Ela diz tambm que recebeu R$ 100 a mais que o valor sugerido pelo deputado no vdeo. “Eu ganhei 200 reais no cartozinho”.

Reprter: O voto era comprado de outras formas?
Testemunha: De vrias formas. Uma conta de gua paga, uma conta de luz paga, um txi, uma consulta com um mdico, uma cesta bsica.

Eleitores dizem que a compra de votos comum na regio. “D cesta bsica, d material de construo, d bujo de gs, d o que pede”, diz uma aposentada.

“J aconteceu isso em vrias eleies”, afirma um trabalhador.

“A nica coisa que os candidato sabem fazer aqui pagar bebida para Deus e todo mundo. Paga vontade. Menino, mulher, velho, velha, menina, todo mundo”, garante a aposentada Regina.

O candidato a prefeito de Capetinga, Donizete do Escritrio, nega tudo: “Ns no usamos isso a. Estava confiante que ia ganhar, estava bem na frente das cotaes. Ento no tinha nem motivo para isso”, afirma.

O candidato a vice, Adriano do Gs, que tambm estava na reunio, alega que a aula de falcatrua gravada em vdeo era sobre outras cidades: “Teve caso de contar histria, sim, em outros municpios, mas isso totalmente rejeitado por ns porque uma prtica ilusria. Voc est comprando aquilo que voc no sabe”, diz.

O Fantstico tentou falar com o ento prefeito, Carlos Roberto Custdio, o Carlito, que tambm estava na reunio. “Ele est viajando. Nem telefone eles levaram”, respondeu uma mulher.

Uberaba a principal base eleitoral do deputado Aelton de Freitas. O Fantstico tambm foi at o local e mostrou o vdeo para ele.

“Em reunies fechadas, quando a gente faz com um grupo de companheiros, de repente a gente fala muita coisa que no deve, que no pode. O que eu falei ali foi em uma reunio fechada, entre companheiros, que nem gravando eu sabia que estava”, explicou.

O vdeo contradiz o deputado: por duas vezes, Aelton Freitas se mostra preocupado com a gravao. “Se a eleio estiver fcil, uma coisa. Se no estiver, so estratgias que ns temos. Voc bem companheiro? Porque ele est gravando”, avisa em um trecho.
A segunda logo na sequncia da explicao da tcnica do cartozinho. “Vai votar nos R$ 100 que o cartozinho que est no bolso dele vale. E outra: s vai pagar se tiver sido eleito. Por isso que eu perguntei se est gravando, se bem companheiro, porque uma tacada”.

“Tinha uma pessoa com a cmera, outra com mquina fotogrfica, outro com celular. Falei: ‘aqui tudo companheiro? Posso falar o que eu penso?’ ‘Pode, no esto gravando’”, ele justifica.

O deputado nega que tenha ensinado a comprar votos na eleio municipal de Capetinga e afirma que jamais comprou votos: “Eu nunca participei, eu nunca comprei. Estou h 20 anos na poltica, nunca comprei”.

Segundo ele, tudo no ou de brincadeira. “Fiz alguma brincadeira, que eu sou muito de contar piada em reunies, depois pedi desculpas no final da reunio pelo que eu tinha falado e pelas brincadeiras de mau gosto, me despedi e fui embora. Porque, quando brincadeira, pode fazer de mau gosto, igual quando voc brinca, s vezes, com a raa, com a cor de uma pessoa, voc conta uma piada pesada, aquilo pode se tornar um processo”.

No vdeo, o deputado tambm ensina como se deve atacar, com boatos e fofocas, a reputao dos adversrios. Primeiro, o deputado diz que isso normal.

Aelton: Isso natural, igual jogo. um jogo, campanha um jogo.
Reprter: Isso natural na poltica?
Aelton: Na campanha.
Reprter: Difamar o adversrio? natural na campanha?
Aelton: No, no . Prefiro falar o que voc quer ouvir: no .

A pena pra quem compra votos pode chegar a quatro anos de priso, mais multa. J os crimes de calnia, difamao ou injria podem dar de 3 meses a 2 anos de priso e tambm multa.

Segundo Arnaldo Versiani, ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral, o vdeo por si s no prova que qualquer crime tenha sido cometido.

“Isso a meu ver no est caracterizado. O que h, de certa maneira, uma incitao a prticas criminosas, como por exemplo, fazer com que eventuais adversrios em a se preocupar com desmentir boatos e, com isso, tentar conturbar o processo eleitoral”, explica o ex-ministro.

“Ele est induzindo os candidatos a vereador ou a prefeito a cometerem uma ilegalidade. Ento, na minha forma de ver, eu entendo que ele j se enquadraria para ir para a Comisso de tica da Cmara”, avalia Ricardo Caldas, professor do Instituto de Cincia Poltica da UNB.

“Ele usa o critrio de onde ele tem votos e onde ele quer ter mais votos. Quer dizer: o interesse pblico muitas vezes pode ar ao largo”, diz Gil Castelo Branco, secretrio geral da ONG Contas Abertas.

A Cmara e o Senado esto em recesso. Uma cpia do vdeo foi entregue anonimamente ao Ministrio Pblico em Minas, que enviou o material para a Procuradoria Geral da Repblica.

“O eleitor est desiludido com poltico. A nossa moral est l embaixo”, destaca Aelton em um trecho do vdeo.

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