Em meio a um cenrio mundial profundamente marcado pela mudana climtica, a 30 Conferncia da ONU sobre Mudanas Climticas (COP 30) ser sediada em Belm (PA) em novembro de 2025. Com a Floresta Amaznica como centro, discusses e projetos sobre sua sustentabilidade e biodiversidade tornam-se essenciais, como o projeto do professor e bilogo Dalton de Souza Amorim, do Departamento de Biologia da Faculdade de Filosofia, Cincias e Letras de Ribeiro Preto da USP, que aborda a biodiversidade na Amaznia, o impacto do desmatamento sobre a biodiversidade e a importncia das espcies de insetos para a floresta.
Segundo o professor, refletir sobre o cenrio do desmatamento e sua ampla expanso na atualidade essencial, principalmente ao se pensar na possibilidade do desmatamento zero.
“Entre agosto de 2023 e julho de 2024, o desmatamento na Amaznia Legal teve uma reduo de 30%, um pouquinho mais de 30% em relao ao mesmo perodo do ano anterior. Isso ainda representa a perda de 4.300 quilmetros quadrados s nesse perodo de um ano. Quatro mil e trezentos quilmetros so 80 quilmetros por 50 quilmetros que foram perdidos neste ano, ou seja, enquanto a gente no tiver desmatamento zero, a extino da floresta uma questo de tempo, porque ela cumulativa”, enfatizou o professor.
Dessa maneira, a proteo da biodiversidade e interrupo do desmatamento no so apenas aes recomendveis, mas ticas e urgentes, assim como explicado por Souza Amorim, que tambm enfatiza a importncia da proteo dos pequenos insetos, classe de animais profundamente afetada pelo desmatamento.
“Quando a o “corrento” [tcnica de desmatamento], 100 mil, 150 mil, 200 mil espcies podem estar sendo impactadas em cada lugar, pois no existe uma nica Amaznia. reas diferentes da Amaznia tm espcies diferentes de mamferos, espcies diferentes de aves, e deve ser o mesmo com os insetos. O nosso projeto precisa dimensionar o tamanho da biodiversidade, mostrar a complexidade, pois a teremos ferramentas muito mais precisas para indicar caminhos para a conservao.” Peculiaridades
E a perda de tal biodiversidade no representa apenas uma perda biolgica, mas econmica e medicinal tambm, afinal, vrias dessas espcies tm valores cientficos para pesquisas farmacuticas, alm de sua importncia para processos biolgicos como polinizao, por exemplo. “Cada espcie tem uma bioqumica prpria e, portanto, tem um potencial de frmacos que podem ser encontrados, desde parasitoides e outros produtos que a gente usaria na medicina, que simplesmente so removidos sem que a gente sequer conhea”.
Souza Amorim ainda ressalta o aspecto econmico associado ao processo de desmatamento na regio amaznica, profundamente ligado indstria agropecuria e extrativismo brasileira.
“A remoo da floresta interessa a um grupo muito pequeno dentro da economia como um todo, basicamente pecuria, minerao e extrativismo de madeira”.
Alm disso, ele reitera que, sob o lucro dessa pequena camada de pessoas, toda a populao brasileira prejudicada: “Prejudica a sociedade inteira e inclusive a economia inteira. A gua o fator principal, tanto no sentido de gua disponvel para as cidades, para o consumo humano, quanto gua para a agropecuria. Hoje a gente sabe que 80% da agropecuria brasileira depende de chuvas geradas na floresta em reas indgenas. Isso significa que as naes originrias so nossos parceiros na preservao da floresta, na preservao da gua, na gerao de chuva para a agropecuria. Isso nem todo mundo entende. No uma questo romntica de preservao da floresta amaznica, um elemento supercentral na economia”, explica o professor.
Sobre o futuro do projeto, Souza afirma-se esperanoso e detalha que tem coletado e estudado material biolgico desde julho de 2023.
“J estudamos o DNA de 20 mil exemplares de insetos aqui, ainda faltam 300 mil no nosso, e tem um projeto parceiro no Inpa, no Instituto Nacional de Pesquisa da Amaznia, em Manaus, que vai estudar mais de 260 mil exemplares, junto com a Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ento um projeto muito grande, financiado pela Fapesp e com apoio de vrias partes, e a gente deve ter um mapeamento da fauna de insetos da Amaznia Central que nunca teve antes.”
Pesquisa para conter desmatamento ilegal na Amaznia destaque na revista Nature Sustainability
Cientista de Dados do CEPID-CeMEAI investiga origem dos produtos comercializados e atesta confiabilidade da cadeia de suprimentos. Por Redao
O desmatamento na Amaznia j foi considerado uma situao fora de controle. ndices recentes, porm, indicam tendncia de reduo, devido principalmente aos mecanismos de controle implementados e as pesquisas cientficas que viabilizaram um monitoramento eficaz das florestas.
So vrias vertentes de solues nascendo dentro das universidades e uma delas, a que auxilia a conter a extrao ilegal de madeira no Brasil, foi destacada pela edio janeiro/2025 da revista Nature Sustainability, uma das mais importantes publicaes cientficas do mundo.
Um dos autores do artigo e coordenador do projeto o professor Luis Gustavo Nonato, do Instituto de Cincias Matemticas e de Computao (ICMC/USP-So Carlos) e pesquisador do CEPID-CeMEAI.
Segundo ele, a base do estudo est na anlise da rede de comrcio madeireiro no Brasil.
“Ao implementar mecanismos de controle e regulamentaes, o governo brasileiro conseguiu impactos positivos nas taxas de desmatamento”, disse. “Ao mesmo tempo, produziu dados importantes sobre o comrcio madeireiro, uma vez que todo produto resultante da extrao de madeira, desde toras brutas at madeira processada, que devem ser registrados nos sistemas de controle a fim de serem transportados e comercializados, permitindo a modelagem e anlise da rede madeireira ao longo do tempo”.
Leia tambm: Mais de 90% do desmatamento da Amaznia para abertura de pastagem, informa MapBiomas O professor responsvel pela pesquisa. Foto:Divulgao/FGV EMAp
Nonato observa que o grande desafio foi a integrao de dados oriundos dos trs principais sistemas de controle operando no Brasil.
“Este estudo integra dados desses sistemas para criar redes de comrcio de madeira, que ajudam a identificar empresas ou grupos que operam fora dos padres esperados. Tambm propomos um mtodo para rastrear provveis cadeias de suprimentos de empresas madeireiras, abordando preocupaes governamentais de longa data sobre a rastreabilidade da madeira”, explicou o autor.
Entre os resultados, o estudo demonstra que certas componentes da rede de comrcio de madeira operam sem conexes com florestas licenciadas, sugerindo que madeira no registrada inserida nesses componentes, o que ilegal. “Mostramos ainda como a anlise da cadeia de suprimentos pode aumentar consideravelmente a confiana de consumidores na legalidade dos produtos de madeira adquiridos”.
O trabalho publicado na Nature Sustainability foi desenvolvido em parceria com Victor Russo, Bernardo Costa, Felipe Moreno Vera, Guilherme Toledo, Osni Brito de Jesus, Robson Vieira, Marco Lentini e Jorge Poco.
“A abordagem proposta faz uso de dados j existentes nos sistemas de controle, evitando o emprego de tecnologias economicamente custosas e de difcil implementao. Sistemas de rastreamento mais eficientes tendem a reduzir fraudes. Alm da reduo do desmatamento ilegal em si e preservao da biodiversidade, a confiabilidade sobre a origem dos produtos adquiridos aumenta a competitividade da madeira amaznica no mercado global, atraindo investimentos sustentveis que fortalecem o setor. Estamos contribuindo ainda com a melhoria nas condies de trabalho e beneficiando as comunidades locais, uma vez que a extrao e o comrcio ilegal fomentam conflitos sociais que impactam principalmente as populaes mais vulnerveis”.
Leia tambm: Desmatamento e degradao aumentam pelo quinto ms consecutivo na Amaznia
Outro fator importante a ser destacado, segundo o pesquisador, o fato do modelo proposto ser adaptvel a outros contexto, viabilizando solues para problemas semelhantes que envolvam a modelagem e anlise de redes comerciais e cadeias de suprimentos, abrindo caminho para projetos novos.
digital na Avenida Paulista, em So Paulo, marca 35C em dia de calor intenso – Foto: Reproduo
O Brasil enfrenta uma nova onda de calor nesta semana, com temperaturas at 5C acima da mdia, segundo o Climatempo. O fenmeno comeou no domingo (2) e deve durar at sexta-feira (7). “Durante esse perodo, as temperaturas, que j so elevadas nesta poca do ano, subiro ainda mais, bem acima da mdia climatolgica de fevereiro”, afirma a previso.
O calor ser mais intenso na regio Sul, afetando principalmente o Rio Grande do Sul e Santa Catarina, alm de atingir partes do Mato Grosso do Sul e do Centro-Oeste. O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu um alerta laranja para essas reas, vlido at quarta-feira (5). “O aviso laranja deixa em ateno boa parte do Rio Grande do Sul, com destaque para o sudoeste e o noroeste do Estado, alm da regio metropolitana de Porto Alegre”, informa o instituto.
As temperaturas podem variar entre 35C e 40C no Rio Grande do Sul, podendo superar os 42C no oeste do Estado. A Grande Porto Alegre tambm deve registrar marcas prximas de 40C. Alm do calor intenso, h alertas de chuvas fortes at o fim desta segunda em regies do Centro-Oeste, Norte, SP, RJ, MG e interior do Nordeste.
Impactos da atividade preocupam especialistas e a populao local
Ricardo Stuckert/PR
Verso em udio
incio de dezembro em Manaus, e o calor escaldante. O Amazonas enfrenta a pior seca da histria, com nveis de gua baixssimos, como nunca se viu antes. No percurso de lancha at o encontro dos rios Negro e Solimes, o guia indica no horizonte partes de terra do continente e das ilhas que j deveriam estar cobertas por gua.
Toda a regio sente os efeitos sociais e econmicos da estiagem. Um dos setores mais afetados o turismo, fonte de renda para boa parte da populao. O calor e a seca afastam os visitantes, porque muitas atividades esto prejudicadas.
“Os ribeirinhos sofrem, principalmente aqueles que recebem gente de fora de Manaus. O pessoal que oferece a pesca do pirarucu, aqueles que trabalham com restaurante. Diminuem, por exemplo, as atividades de focagem de jacar, que a gente costuma fazer durante a noite. E na seca fica muito difcil de ver jacar. E tambm atrapalha muito a vida da gente que trabalha transportando os turistas pelo rio, porque nem todos os lugares esto navegveis”, explica o guia turstico e capito de lancha Rodrigo Amorim.
O guia turstico Rodrigo Amorim diz que os ribeirinhos sentem os efeitos da estiagem- Tnia Rgo/Agncia Brasil g3v32
O cansao visvel no rosto de Daniel Hanrori, indgena do povo Tukano, que lidera uma aldeia com 38 pessoas de diferentes etnias na regio do Lago Janauari. No perodo de seca, parte do grupo se desloca para um acampamento perto do rio, que fica a duas horas de distncia da aldeia. So entre quatro e cinco meses vivendo de um jeito improvisado, para conseguir receber os poucos turistas que ainda aparecem e alguma renda para sustentar as famlias.
“Aqui, quando tem temporal e ventania, muito perigoso. muito violento o vento aqui, ento a gente corre muito risco. Mas a gente precisa da renda e no pode parar”, diz Daniel Hanrori.
Ele conversa com a reportagem da Agncia Brasil sentado em uma pedra, mais ofegante e com muitas gotas de suor escorrendo pelo rosto. Foram 20 minutos de apresentao para um grupo de 15 turistas, com explicaes sobre a cultura e danas tradicionais. Alm do calor, o cansao agravado pela preocupao para manter a aldeia em condies bsicas de moradia e alimentao.
Daniel Hanrori diz que os indgenas dependem do turismo e da venda de artesanato para sustentar as famlias- Tnia Rgo/Agncia Brasil 186i5y
“O nmero de visitantes est muito baixo, infelizmente. Quando o rio est cheio, a gente recebe aqui de 50 a 60 lanchas por dia. De 8hda manh at 6hda tarde. Durante esse perodo da seca, a gente recebe s duas lanchas. E a gente depende muito do turismo e das vendas de artesanato”, complementa Daniel Hanrori. “Afeta tambm muito a pesca, que fica mais difcil, mais escassa. Em alguns lugares, morreu muito peixe. E tudo isso faz falta. A gente aqui vive 50% do turismo e 50% da pesca.”
Turismo e crise climtica 3np6g
O turismo na Amaznia gira em torno dos rios. A perda de volume, principal meio de transporte, impacta diretamente as principais atividades. Os extremos climticos de 2024 mudaram at o mais icnico eio ao redor de Manaus, o encontro das guas. A visualizao da mistura da gua barrenta do Solimes com a gua escura do Negro ficou prejudicada.
Em setembro, a Praia de Ponta Negra, principal balnerio de Manaus, foi interditada para banhistas, depois que o Rio Negro ficou baixo da cota mnima de segurana de 16 metros. O Museu do Seringal, que fica no Igarap So Joo, foi fechado temporariamente, porque o o exclusivamente pelo rio.
Em Alter do Cho, no Par, cuja alta temporada costuma comear em agosto, o nvel baixo do Rio Tapajs prejudicou o deslocamento das embarcaes que transportam turistas para ilhas, restaurantes e estabelecimentos comerciais. O Sair, um festival cultural realizado em setembro, teve de ser suspenso por falta de demanda.
A professora Isabel Grimm, doutora em meio ambiente e desenvolvimento pela Universidade Federal do Paran (UFPR), destaca que, quando se fala de crise climtica e turismo, no entanto, h de se pensar tambm sobre a responsabilidade que o prprio setor possui nos impactos ao meio ambiente.
“O turismo impacta com as emisses de gases do efeito estufa, principalmente por causa dos transportes. E o transporte areo um dos que mais tm emitido gases. Mas h tambm o uso excessivo de gua e de energia eltrica nos locais tursticos, que produzem impactos muito relevantes. Precisamos pensar em alternativas para o que chamamos de turismo de massas, com menores impactos aos ecossistemas”, diz Isabel.
Para Isabel Grimm, toda acadeia turstica deve se envolver na mitigao dos custos ambientais na Amaznia -Isabel Jurema Grimm/Arquivo Pessoal l1r6
A especialista refora que toda a cadeia turstica deve se envolver na mitigao dos custos ambientais: os povos locais, as empresas, os governos e os prprios turistas. Um dos pontos fundamentais, nesse sentido, repensar a prpria concentrao de pessoas em destinos mais badalados e miditicos, e valorizar outras experincias possveis dentro do pas. Para continuar existindo nesses novos tempos, vai ser fundamental fazer adaptaes e buscar caminhos sustentveis.
“O Brasil muito extenso em termos de territrio e de heterogeneidade de paisagens. Tem muita diversidade cultural e natural. Nossa biodiversidade muito rica. O nosso turista est buscando novas experincias, valorizar o tempo das frias dele e o investimento que faz. O destino turstico que ele vai visitar est muito ligado aos processos de divulgao. preciso repensar nos incentivos e fomentos para novos atrativos. Nesse sentido, polticas pblicas so importantes. Precisamos dar condies para que as comunidades locais participem das atividades tursticas, se assim elas desejarem. Tudo isso dentro de uma lgica que respeite a capacidade local para receber visitantes, para gerar o menor impacto ambiental possvel”, diz Isabel Grimm.
Turismo de base comunitria 1a2t4c
A 600 quilmetros (km) a oeste de Manaus, na regio do curso mdio do Rio Solimes, um programa de turismo de base comunitria tem contribudo para o desenvolvimento local desde 1998. Ele promovido pelo Instituto Mamirau, que leva o nome da Reserva de Desenvolvimento Sustentvel Mamirau, e tem sede na cidade de Tef. O principal resultado desse trabalho a Pousada Uacari, que recebe visitantes para uma experincia imersiva na Amaznia.
Entre as metas principais do programa esto contribuir para a conservao dos recursos naturais, promover empoderamento local e o desenvolvimento econmico e social das comunidades envolvidas. Mestre em gesto de reas protegidas na Amaznia, Pedro Nassarcoordena o programa no Instituto Mamiraue contabiliza pelo menos 11 comunidades beneficiadas diretamente ao longo destes 27 anos.
“O turismo comunitrio precisa ser diferente do turismo de massa. No visa explorao de atraes com grande quantidade de pessoas, em que elas chegam e saem do lugar como se nada tivesse acontecido. No turismo de base comunitria, os locais tm uma participao efetiva na gesto no planejamento e nas discusses. No so trabalhadores que vo l, cumprem a funo, ganham dinheiro e vo embora para casa. Os benefcios do turismo precisam ser compartilhados com a comunidade, e precisam ser econmicos, sociais, culturais e ambientais”, explica Pedro Nassar.
O programa do Instituto Mamirau inclui atividades de pesquisa e monitoramento de tecnologias de saneamento, impactos ambientais, estudos de viabilidade e planejamento turstico, monitoramento ambiental e socioeconmico. E tem como eixo central trabalhar a autonomia das comunidades na gesto do turismo, com gerao de emprego e renda, e conservao dos recursos naturais.
Pousada Uacari proporciona aos visitantes uma experincia imersiva na Amaznia- Gui Gomes/Divulgao 6b2b16
Os moradores envolvidos no programa so afiliados a uma associao local e trabalham em sistema de rodzio, aproximadamente 12dias por ms. Cada hspede da Pousada Uacari contribui com a Taxa de Apoio Socioambiental, destinada ao financiamento de projetos e recursos comunitrios, como compra de barcos, construo de centros comunitrios e rdio de comunicao.
Outra preocupao do instituto formar multiplicadores, que possam participar de atividades a fim de disseminar conhecimentos para o desenvolvimento do turismo comunitrio em outras regies do pas.
“A ideia ar nossa experincia no turismo para essas pessoas, alm de trocar ideias e conhecer outras iniciativas. Mas tudo muito prtico, tiramos dvidas, ajudamos os que esto comeando a fazer turismo. Queremos que possam adquirir algum conhecimento e consigam aplicar dentro da realidade deles. Porque, obviamente, no uma receita de bolo, cada lugar tem a prpria peculiaridade”, diz Pedro Nassar.
Experincias comunitrias 3v4q19
Uma das pessoas impactadas pelo projeto foi Ilana Ribeiro Cardoso, artes e empreendedora que vive no quilombo de Mumbuca, no municpio de Mateiros, regio do Jalapo, no Tocantins. Em 2018, ela esteve no Instituto Mamirau e conheceu de perto as iniciativas de turismo comunitrio. A partir dali, a Amaznia virou uma fonte de inspirao e aprendizado.
Desde ento, faz intercmbios em regies que trabalham com turismo comunitrio e aplicando os novos conhecimentos no Jalapo. Ela ajuda a organizar restaurantes, pousadas e roteiros para que turistas conheam de forma mais autntica a comunidade e a histria do quilombo. Entra as experincias, trilhas feitas por anteados, mostra de plantas medicinais e oficinas de artesanato com capim-dourado.
Enquanto v as atividades crescerem, Ilana se preocupa com os possveis impactos de um turismo que no seja sustentvel para a regio.
“Hoje, no vemos muitos impactos ambientais. Mas, e no futuro? Como ficam meu filho e a comunidade? No Jalapo, tem muitas nascentes, fervedouros, cachoeiras, rios. Somos ricos em gua potvel. E h pessoas vindo para c e pensando s na questo do agronegcio, em plantar soja, usar e poluir as nascentes de gua”, diz Ilana.
“Daqui a pouco, podem montar um hotel de luxo, e a nossa pousadinha, que simples, baseada na bioconstruo com adobe, vai ser prejudicada. Eu tenho medo de que o Jalapo possa ser invadido por esse turismo avassalador, que desperte o interesse de pessoas ricas, que no vo cuidar do nosso local e vo destruir a nossa natureza”, completa aartes e empreendedora.
Ilana defende o turismo comunitrio como o nico possvel para impedir grandes impactos ambientais e aumentar os efeitos da crise climtica.
A artes e empreendedora Ilana Cardoso na colheita de capim-dourado no Jalapo- Ilana Cardoso/Arquivo Pessoal 635r6x
“Quando o turismo sustentvel, envolve cuidado. E quem cuida a comunidade. Ento, o turismo precisa vir de baixo, no de cima. Ns sabemos como cuidar, sabemos a quantidade de pessoas que podem entrar nos fervedouros, no campo de capim, numa vereda, numa nascente. A gente no pensa s na questo do lucro. No turismo sustentvel, o guia local, deixa dinheiro na comunidade e contribui para a preservao da natureza”, diz a empreendedora quilombola.
Srie sobre a Amaznia 4l192o
A reportagem faz parte da srie Trilhas Amaznicas, que abre o ano da 30 Conferncia da ONU sobre Mudanas Climticas (COP30), a ser realizada em Belm, no ms de novembro. Nas matriaspublicadas na Agncia Brasil, povos da Amaznia e aqueles diretamente engajados na defesa da floresta discutem os impactos das mudanas climticas e respostas para lidar com elas.
* A equipe viajou a convite da CCR, patrocinadora do TEDxAmaznia 2024.
Juru e Acre, alm de outros 12 rios da Amaznia, aram a ser utilizados com mais frequncia por causa da lei do abate de aeronaves. A ao do trfico fez explodir a violncia na Amaznia, incluindo o Acre 645a2w
Rio Juru banha a capital do Juru, Cruzeiro do Sul. Foto: Reproduo
Tio Maia, ContilNet
O aumento na taxa de homicdios em Cruzeiro do Sul, no Vale do Juru, o segundo maior municpio do Estado do Acre, no perodo de 2005 a 2020, foi como uma exploso em termos de violncia: 595% em 15 anos.
A taxa saiu de 4,3, de 1996 a 2004, para 30, no perodo de 2005 a 2020, o segundo maior ndice da regio Norte do pas. O primeiro ficou com Eirunep, municpio do Amazonas, que tem uma populao estimada em 33 mil habitantes. Entre 1996 e 2004, a mdia da taxa de homicdios de pessoas acima de 1 ano era de 3,7 por 100 mil habitantes. Mas, entre 2005 e 2020, esse nmero explodiu: 34 homicdios a cada 100 mil habitantes – um aumento vertiginoso de 819%.
Alm de terem em comum a situao geogrfica, Cruzeiro do Sul e Eirunep, embora estejam em estados diferentes, so banhadas pelo mesmo rio, o Juru, um dos afluentes do Rio Amazonas. Assim como esses dois, existem outros quatorze rios identificados por pesquisadores brasileiros como os “rios de cocana”, por servirem de rota para o trfico que envolve Brasil, Peru, Colmbia e Bolvia. So eles: Abun, Acre, Amazonas, Caquet, Envira, I, Japur, Javari, Juru, Madeira, Mamor, Negro, Purus, Tarauac, Uaups e Xi.
O resultado da pesquisa est publicado na revista Piau deste ms, com base em estudos sobre Interdio Area, Trfico de Drogas e Violncia na Amaznia Brasileira, produzido por pesquisadores do Insper e da Faculdade de Economia, istrao e Contabilidade da Universidade de So Paulo (FEA-USP), com a participao do IZA (Institute of Labor Economics), da Alemanha.
Uma verso resumida em portugus foi divulgada nesta quinta-feira (30) pelo Amaznia 2030, iniciativa de pesquisadores brasileiros para desenvolver um plano sustentvel para a Amaznia.
Cerco ao transporte de droga pelo ar fez aumentar uso dos rios, mostra pesquisa 1h671y
De acordo com a publicao, a hiptese para o aumento da violncia que atinge pequenos municpios na regio amaznica banhados por essas guas tem uma explicao: com o cerco aos avies, intensificou-se o uso de barcos no escoamento da droga.
A mudana no transporte do entorpecente aconteceu depois de 2004, ano em que o governo brasileiro colocou em prtica uma poltica de interdio area, aprovada ainda em 1998. Com a nova lei, a Fora Area Brasileira (FAB) foi autorizada a abater aeronaves suspeitas de transportar drogas vindas dos pases vizinhos. Assim, a migrao para os rios foi uma estratgia dos criminosos para fugir da fiscalizao policial.
O escoamento pela gua, um meio de deslocamento mais demorado, exige uma dinmica prpria e influencia as comunidades atingidas, argumentam os estudiosos. Os longos trajetos, por exemplo, levam os criminosos a empregarem diferentes barqueiros, contratarem pessoas para fazer a segurana do carregamento, fornecer equipamentos, estocar a droga, entre outras funes. “Isso acaba trazendo a atividade ilegal para uma proximidade muito maior com a populao local”, diz Rodrigo R. Soares, professor titular da ctedra Fundao Lemann no Insper e lder da pesquisa.
Uma verso resumida em portugus foi divulgada nesta quinta-feira (30) pelo Amaznia 2030, iniciativa de pesquisadores brasileiros para desenvolver um plano sustentvel para a Amaznia. Foto: Rio Acre/Assis Brasil
Mudanas na logstica fizeram explodir a violncia em cidades ribeirinhas 102l39
As estimativas do estudo indicam que a mudana na logstica para movimentar a droga ocasionou, entre 2005 e 2020, 27% do total de 5.337 mortes em 67 cidades da regio Oeste da Amaznia margeadas pelos dezesseis “rios de cocana”. Elas tm menos de 100 mil habitantes, esto longe das grandes cidades e do cruzamento de rodovias, o que diminui as chances de as mortes estarem relacionadas a disputas fundirias ou desmatamento ilegal. A prevalncia de bitos acontece entre homens de 20 a 49 anos, por uso de arma de fogo ou faca.
Os estudos mostram que o Brasil possui cerca de 8 mil km de fronteira com trs pases que concentram o plantio de coca na regio, que est dividido da seguinte forma: Colmbia (61%), Peru (26%) e Bolvia (13%), segundo o relatrio mundial do Escritrio das Naes Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC, na sigla em ingls). At o comeo dos anos 2000, as principais rotas de escoamento avam pela Amrica Central e Caribe ou iam diretamente para norte-americanos e europeus, onde esto os maiores compradores.
A Amaznia brasileira comeou a aparecer nesse mapa em meados dos anos 2000. O Brasil, que at ento figurava na dcima posio em volume de cocana apreendida, atualmente o terceiro colocado, atrs de Estados Unidos e Colmbia, apontam dados da UNODC de 2021. Foi nessa mesma poca que o governo brasileiro investiu para aumentar o controle das fronteiras e do espao areo na Amaznia, que abriga a maior floresta tropical do planeta e tem baixa densidade populacional: cerca de 5,6 habitantes por km.
Uma das medidas para inibir o trfico veio em 2004 com a chamada Lei do Abate. A medida foi sancionada pelo presidente Luiz Incio Lula da Silva aps uma longa discusso no Congresso e com as Foras Armadas. A lei sinalizava que o governo estava disposto a “combater, com as armas adequadas, a invaso de nossas fronteiras por quadrilhas internacionais de narcotraficantes”, afirmou o ento ministro da Defesa, Jos Viegas Filho.
quela altura, o pas montava uma infraestrutura prpria para agir nesse campo – havia pouco controle sobre o espao areo da Amaznia, o que facilitava voos carregados de drogas vindos de pases andinos. Em 2002, o Sistema de Vigilncia da Amaznia e o Sistema de Proteo da Amaznia (Sivam/Sipam) entraram em operao sob a justificativa de aumentar a vigilncia e o controle do trfego areo, das fronteiras, monitorar comunicaes clandestinas, rotas de trfico e contrabando, alm de identificar pistas escondidas e garimpos ilegais. Anos mais tarde, em 2005, o Quarto Centro Integrado de Defesa Area e Controle de Trfego Areo (Cindacta IV) iniciava suas atividades em Manaus.
Assim que a Lei do Abate ou a valer, a FAB diz ter registrado uma reduo imediata de 32% no nmero de voos irregulares. O primeiro relato de interceptao de avio suspeito veio a pblico em 2009, quando uma aeronave vinda da Bolvia foi alvo de disparos de advertncia pelos militares brasileiros aps o piloto se negar a obedecer. Depois dos tiros, o avio, que carregava 176 kg de pasta base de cocana, pousou numa estrada de terra em Rondnia.
O estudo liga a interdio area ao volume da droga apreendida. Com a migrao de parte do comrcio ilegal para os rios e estradas, o Brasil dobrou a quantidade de cocana detida por mar, terra e ar entre 2004 e 2005: foi de 7,7 toneladas para 15,7 toneladas, segundo estatsticas divulgadas pela Organizao das Naes Unidas (ONU) poca.
No entanto, a estratgia usada para dificultar o trfico de drogas pelo ar pode ter estimulado um novo problema. Segundo o estudo dos pesquisadores brasileiros, a geografia da floresta favoreceu a rpida adaptao do narcotrfico. A anlise indica que a violncia nas cidades ao longo das vias adas mudou de padro depois da Lei do Abate. O estudo tambm aponta o aumento de mortes por overdose, sinalizando maior presena de drogas em circulao. “Observamos que diversos municpios com zero casos de overdose antes de 2005 aram a ter episdios espordicos desde ento”, afirmam os pesquisadores, alertando ainda para a provvel subnotificao de casos.
Existem quatorze rios identificados por pesquisadores brasileiros como os “rios de cocana”. Foto: Reproduo
Disputa pelo monoplio do trfico na regio entre faces criminosas 57565
Os pesquisadores alertam que praticamente impossvel enfrentar o problema numa regio do tamanho da Amaznia, maior que a Unio Europeia, apostando s na presena ostensiva da polcia ou das Foras Armadas. “Tem que pensar em algum uso de tecnologia que seja capaz de acompanhar isso e gerar alertas que acionem uma reao”, sugere a pesquisa, citando drones, radares mveis e melhor coordenao entre os rgos de fiscalizao e autoridades dos pases vizinhos. Outra ao vital oferecer s comunidades locais alternativas que gerem renda, preservem a floresta e o modo de vida tradicional, a fim de evitar o envolvimento dos moradores com o narcotrfico e impedir possvel “entrincheiramento de algum grupo criminoso ali na regio que consiga um monoplio”.
A disputa pelo monoplio do trfico de drogas na Amaznia sugerida pela pesquisa foi diagnosticada pelo Frum de Segurana Pblica em um relatrio de 2022, citado no estudo sobre os “rios de cocana”. A anlise do Frum abordou o interesse de faces do Sudeste, como o Comando Vermelho, do Rio de Janeiro, e o Primeiro Comando da Capital, o PCC, de So Paulo, pelo controle da regio entre 2015 e 2016. O relatrio cita ainda que “algumas faces locais compreenderam melhor os mecanismos de funcionamento das redes ilegais atravs da Amaznia”.
Esse fenmeno suscitou o surgimento de organizaes regionais, como a Famlia do Norte, no Amazonas. Cientes disso, os estudiosos do Insper e da USP compararam os homicdios ocorridos aps 2015, tentando identificar algum aumento de bitos a partir da interferncia das faces. Os nmeros mostram que a taxa de mortes se manteve similar durante todo o perodo a partir de 2004, quando a restrio area foi implementada.
Por fim, os pesquisadores ressaltam que, alm dos esforos brasileiros para conter o crime organizado, imprescindvel uma cooperao internacional, “principalmente na regio andina, para garantir uma abordagem coordenada ao trfico de cocana, com maior troca de informaes e prticas de segurana transnacional”.
Daqui a aproximadamente sete anos, em 22 de dezembro de 2032, o asteroide 2024 YR4 poder se aproximar da Terra, com uma pequena chance de coliso. Descoberto em 27 de dezembro de 2024 pelo telescpio ATLAS, no Chile, o objeto tem entre 40 e 100 metros de dimetro e est sendo monitorado de perto pela Agncia Espacial Europeia (ESA). Apesar do alerta, a probabilidade de impacto de apenas 1,2%, o que, por enquanto, descarta motivos para pnico.
A ESA explica que a rbita do asteroide bastante alongada, o que dificulta prever com exatido sua trajetria. “Ainda no possvel determinar com certeza onde o impacto poderia ocorrer, caso ele acontea”, afirmou a agncia. Desde janeiro, observaes prioritrias vm sendo realizadas com telescpios ao redor do mundo para entender melhor o tamanho e o caminho que o asteroide seguir nos prximos anos.
Nos prximos meses, o monitoramento continuar com equipamentos mais potentes, como o Very Large Telescope (VLT), localizado no Chile. Se, at 2028, o risco de impacto no for completamente descartado, o 2024 YR4 permanecer na lista de riscos da ESA. Caso a probabilidade se mantenha acima de 1%, grupos internacionais como a Rede Internacional de Alerta de Asteroides (IAWN) e o Grupo Consultivo de Planejamento de Misses Espaciais (SMPAG) podero coordenar aes para mitigar os efeitos de um possvel impacto ou at planejar misses para desviar o asteroide.