A empresa americana Colossal Biosciences anunciou na segunda-feira (07/04) os supostos "primeiros animais deextintos do mundo".
Num vdeo postado no X (o antigo Twitter), eles mostram os uivos de dois filhotes que supostamente so de lobo-terrvel (Aenocyon dirus), uma espcie de pelagem branca que habitou as Amricas, mas est extinta h mais de 10 mil anos.
A companhia explicou que os animais foram criados a partir de ferramentas de edio gentica (conhea os detalhes a seguir).
Veja tambm

Pscoa: chocolate realmente causa espinhas? Dermatologista responde
Cerca de 45% das pessoas tm sono ruim: saiba como dormir melhor, segundo a biologia (e a IA)

"Esse momento representa no apenas um marco para ns como empresa, mas um avano para a cincia, a conservao e a humanidade", comemorou a Colossal Biosciences nas redes sociais.
Alm de lobos, o grupo tambm faz pesquisas para tentar deextinguir o mamute-lanoso (Mammuthus primigenius), o dod (Raphus cucullatus) e o lobo-da-tasmnia (Thylacinus cynocephalus).
Mas como foi possvel trazer de volta uma espcie que sumiu do mapa h tanto tempo? E quais so os objetivos desse tipo de pesquisa?
Conhea a seguir tudo o que se sabe sobre esse projeto at o momento e suas controvrsias.
Numa srie de vdeos publicados pela Colossal Biosciences nas redes sociais, cientistas que fizeram parte do projeto explicam em detalhes o o-a-o da iniciativa.
De acordo com o relato deles, o primeiro o foi coletar amostras de DNA do lobo-terrvel.
Para isso, eles extraram o material gentico — que guarda as informaes sobre as caractersticas de um ser vivo e as instrues para o organismo funcionar — de duas fontes: um dente de 13 mil anos encontrado em Ohio, nos Estados Unidos, e um pedao de crnio de 72 mil anos excavado em Idaho, tambm nos EUA.
Em seguida, o lobo-terrvel teve seus genes sequenciados.
Os pesquisadortes puderam ento analisar essas informaes genticas e buscar qual espcie viva ainda preserva algum grau de parentesco com o animal extinto.
Eles chegaram, ento, ao lobo-cinzento (Canis lupus), que vive em grande parte do Hemisfrio Norte, em especial em regies mais frias, como o Canad e a Rssia.

Fotos: Getty Images
Nesse processo, eles entenderam quais genes eram iguais ou diferentes entre as duas espcies de lobo — e quais desses trechos de DNA eram responsveis por determinar caractersticas especficas, como tamanho, peso, cor da pelagem, formato das orelhas...
A Colossal Biosciences desenvolveu ento tcnicas menos invasivas para coletar clulas progenitoras endoteliais (a camada que reveste o interior dos vasos sanguneos) do lobo-cinzento.
Essas clulas foram usadas como a base para o trabalho de modificar os genes.
Por meio de tcnicas avanadas como o Crispr, os cientistas fizeram 20 edies em 14 genes, para que eles ficassem de acordo com o encontrado no DNA do lobo-terrvel (e no mais do lobo-cinzento).
Com isso, seria possvel obter algumas das caractersticas do lobo-terrvel: pelo branco, maior porte, ombros abertos, cabea mais larga, mais msculos nas pernas e vocalizaes tpicas da espcie, marcadas por uivos e choramingos.
Mas o trabalho no terminou a: com a edio dos genes finalizada, os especialistas transferiram o ncleo dessa clula (local onde fica guardado todo o DNA) para um vulo — cujo prprio ncleo havia sido retirado previamente.
Esse vulo, por sua vez, foi cultivado para se tornar um embrio — que foi implantado no tero de uma cachorra domstica.
A cachorra teve uma gestao normal e, ao final do perodo, nasceram os filhotes de lobo-terrvel.
Os dois primeiros vieram ao mundo em 1 de outubro de 2024 e foram batizados de Rmulo e Remo — uma aluso ao mito dos irmos gmeos amamentados por uma loba que fundaram Roma.
A terceira loba-terrvel nasceu em janeiro deste ano e ganhou o nome de Khaleesi, uma homenagem a Daenerys Targaryen, uma personagem da srie Game of Thrones, onde lobos tm um papel importante na trama.
Rmulo, Remo e Khaleesi so mantidos numa grande reserva privada nos EUA cuja localizao no foi divulgada, para proteger os animais. No h previso de que eles sejam soltos na natureza ou cruzem para gerar uma nova gerao de lobos.
Mas qual a motivao por trs da "deextino" do lobo-terrvel?
A Colossal Biosciences argumenta que essa pode ser uma ferramenta para lidar com a extino em massa de espcies que acontece neste exato momento — e que est relacionado s mudanas climticas e ao humana.
O Centro para Diversidade Biolgica calcula que 30% da diversidade gentica do planeta ser perdida at 2050 por causa desse sumio generalizado de diferentes formas de vida.
Para a empresa americana, a edio gentica uma maneira de reverter isso. Numa entrevista revista Time, os lderes da Colossal disseram que usar essas ferramentas um "imperativo moral" e "uma forma dos humanos, que deixaram tantas espcies beira da extino, dar uma retribuio natureza".
"Se ns queremos um futuro numeroso do ponto de vista biolgico e cheio de pessoas, precisamos dar a ns mesmos a oportunidade de ver o que nossos grandes crebros podem fazer para reverter algumas das coisas ruins que fizemos com o mundo", afirmou Beth Shapiro, uma das cientistas da Colossal Biosciences.
Segundo esse ponto de vista, possvel usar a edio gentica para proteger algumas espcies e torn-las mais resistentes a alguns fatores, como a falta de gua ou o excesso de calor.
A empresa tambm pontua que grandes predadores — como foi o caso do lobo-terrvel h milhares de anos — so primordiais para o equilbrio de ecossistemas. De acordo com esse raciocnio, eles controlam as populaes de outros animais e permitem um melhor balano e uma dinmica mais ajustada entre diferentes espcies que circulam por um mesmo local.
No entanto, no est claro como essa reintroduo de espcies extintas h milhares de anos aconteceria na prtica e quais seriam os efeitos disso sobre o meio ambiente.
At porque muitas delas, como o caso de lobos ou mamutes, vivem em bandos numerosos e precisam de um vasto territrio cheio de recursos para sobreviver.
Por fim, h muito debate tambm sobre se adequado usar o termo "deextino" para descrever a chegada de Rmulo, Remo e Khaleesi.
Em entrevista revista New Scientist, Shapiro detalhou que as duas espcies usadas no projeto — o lobo-terrvel e o lobo cinzento — dividem 99,5% do DNA.
Embora esse nmero parea elevado, o 0,05% restante significa uma parcela significativa em termos genticos: o lobo-cinzento possui 2,4 bilhes de pares de bases nitrogenadas (as "peas" que compem cada um dos genes).
Ou seja: o 0,05% de DNA que separa lobo-cinzento e lobo-terrvel ainda representa uma diferena de mais de um milho de pares de bases nitrogenadas entre as espcies.
Vale lembrar que os cientistas da Colossal Biosciences fizeram apenas 20 edies em 14 genes que pertenciam originalmente ao lobo-cinzento e foram alteradas para se aproximarem do lobo-terrvel.
Mas certamente o animal extinto possui muitas outras diferenas no DNA que no foram contempladas na "nova verso" da espcie feita pelos cientistas — e modificaram somente algumas caractersticas do lobo-cinzento (que deram a Rmulo, Remo e Khaleesi o pelo branco, o porte maior...).
Para a NewScientist, Shapiro defendeu que "conceitos de espcie so sistemas de classificao humana".
"Estamos usando o conceito de espcie morfolgica [determinadas por caractersticas e semelhanas] e dizendo que, se eles se parecem com este animal [o lobo-terrvel extinto], ento eles so esse animal", disse ela.
Em entrevista BBC News, o paleogeneticista Nic Rawlence, da Universidade de Otago, na Nova Zelndia, classifica os animais como um "hbrido" entre as duas espcies de lobo.
O pesquisador lembra que o lobo-terrvel divergiu do lobo-cinzento entre 2,5 milho a 6 milhes de anos atrs.
"O lobo-terrvel est em um gnero completamente diferente dos lobos cinzentos", argumenta o especialista.
Curtiu? Siga o PORTAL DO ZACARIAS noFacebook,Twittere noInstagram.
Entre no nosso Grupo deWhatApp,CanaleTelegram
"De cerca de 19 mil genes, eles [a Colossal Biosciences] determinaram que 20 mudanas em 14 genes deram a eles um lobo-terrvel", critica ele.
Fonte: Correio Braziliense