Asteroide 2024YR4 foi detectado em dezembro do ano ado
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(Imagem ilustrativa) Foto: Pixabay
A Agncia Espacial Americana, a Nasa, atualizou as probabilidades de o asteroide 2024YR4 colidir com a Terra em 2032. De acordo com o ltimo clculo, a chance de coliso era de 3,1% e, agora, praticamente zero. Detectada em dezembro do ano ado, a rocha est a 80 milhes de quilmetros de distncia do nosso planeta e viaja pelo espao a uma velocidade de 48 mil quilmetros por hora.
Os cientistas da agncia espacial estimam que o asteroide tenha 55 metros (o tamanho de um prdio de 18 andares). Com essas dimenses e viajando a tamanha velocidade, a rocha poderia facilmente destruir completamente uma grande cidade em caso de coliso com o planeta.
Na entrada na atmosfera, a rocha explodiria, liberando cerca de 8 megatons de energia – 500 vezes mais do que a da bomba atmica que destruiu Hiroshima, no Japo, durante a Segunda Guerra Mundial, em 1945. As novas medies, entretanto, colocam a chance de coliso em 0,000019%, ou de 1 em 5 milhes.
De acordo com Herman, a garantia do direito moradia responsabilidade do Poder Pblico e os tribunais de contas devem acompanhar as polticas pblicas com essa finalidade r6u47
Ministro Herman Benjamin, presidente do STJ, participa de evento em Manaus. Foto: Felipe Campinas/AM ATUAL
Por Felipe Campinas, do ATUAL
“So os pobres que sofrem os impactos negativos mais graves, com mortes, da degradao humana”, disse o presidente do STJ (Superior Tribunal de Justia), Herman Benjamin, nesta quinta-feira (10), em Manaus, ao ser questionado sobre tragdia envolvendo ocupaes em reas de risco e sobre a atuao do Poder Judicirio na garantia do direito moradia.
“Os mapas dos perigos urbanos esto a. E as cidades que no tem, tem que ter. Onde esto os pobres? Os pobres esto ocupando as reas de preservao permanente porque no tem opo”, disse o ministro, que alertou sobre o racismo ambiental, que o processo de discriminao e injustias sociais que populaes compostas por minorias tnicas sofrem, devido degradao ambiental e em decorrncia das mudanas climticas.
Herman est na capital amazonense para proferir palestra na abertura do ano letivo da Escola de Contas Pblicas do TCE-AM (Tribunal de Contas do Amazonas). O evento tambm ter a participao do ministro do TCU (Tribunal de Contas da Unio) Benjamin Zymler.
A visita dos ministros a Manaus ocorre um dia aps nova tragdia em rea de risco na capital amazonense. Seis pessoas foram soterradas durante a forte chuva registrada na tarde de quarta-feira (19) na comunidade Fazendinha 2, localizada entre os bairros Nova Cidade e Cidade de Deus, na zona norte de Manaus.
“Questo urbana um problema no Brasil como um todo”, disse o ministro ao relembrar de tragdias no Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro.
“Hoje ns falamos em racismo ambiental. Racismo ambiental em uma perspectiva mais ampla, no s sobre os afrodescendentes e os povos indgenas. contra o pobre”, afirmou Herman. “So os pobres que sofrem os impactos negativos mais graves, com mortes, da degradao humana”, completou o ministro.
De acordo com Herman, a garantia do direito moradia responsabilidade do Poder Pblico e os tribunais de contas devem acompanhar as polticas pblicas com essa finalidade.
“ responsabilidade evidentemente do poder pblico e acho que os tribunais de contas – vamos ouvir certamente o ministro Benjamin Zymler, que um farol no Tribunal de Contas da Unio – que os tribunais de contas esto atentos a isso”, disse Herman.
“Os mapas dos perigos urbanos esto a. E as cidades que no tem tem que ter. Onde esto os pobres? Os pobres esto ocupando as reas de preservao permanente porque no tem opo”, completou o ministro.
“Muitas vezes ns vemos cidades com projetos babilnicos, investimentos carssimos para proteger apenas a elite, mas ns temos que pensar nos pobres”, criticou Herman.
Antes de ser questionado sobre a tragdia, o ministro afirmou que o TCE-AM foi o primeiro a realizar atividades voltadas a questo ambiental.
“No que se refere a atuao dos tribunais de contas na questo ambiental, no seu sentido mais amplo, humano e da natureza, o Tribunal de Contas do Amazonas foi o pioneiro no Brasil”, disse Herman. “Eu participei das primeiras atividades ainda na gesto do nosso conselheiro Jlio Pinheiro, tratando especificamente da questo do saneamento, do lixo, que ns sabemos que um problema serssimo, at mesmo nas regies mais ricas do pas”, completou.
“Quando um tribunal de contas atua nessas reas – os juzes no gostam que eu diga isso, mas vou falar assim mesmo – mais importante do que a atuao do Poder Judicirio, porque uma atuao de preveno”, afirmou Herman.
“Ns, juzes, atuamos muitas vezes o desastre est feito, desastre irrecupervel, mas a voz do Tribunal de Contas tem impacto no sentido de prevenir”, completou.
Brasileiros comemoram vitria em jogo na Copa do Mundo de 2022. Reproduo
O Brasil avanou oito posies no ranking da felicidade da ONU (Organizao das Naes Unidas). Agora, o pas aparece na 36 posio.
A Finlndia lidera a lista pela oitava vez consecutiva. J os Estados Unidos ocupam o 24 lugar — a pior posio registrada pelo pas desde a criao do ranking, em 2012.
Helsinque, capital da Finlndia, pas que lidera o ranking de felicidade da ONU. Foto: Unsplash/Tapio Haaja
O levantamento, uma parceria da ONU com o instituto de pesquisa Gallup e a Universidade de Oxford, no Reino Unido, foi publicado nesta quarta-feira (19).
Seis fatores-chave so levados em conta para fazer a lista: PIB per capita, expectativa de vida saudvel, apoio social, sentimento de liberdade, de generosidade e percepo de corrupo.
Em relao a 2024, o Brasil superou o Chile (que caiu de 38 para 45) e est atrs apenas do Uruguai (29). A Argentina tambm aparece antes dos chilenos, em 42 lugar.
Os pases nrdicos seguem dominando as primeiras posies: a Finlndia seguida de Dinamarca, Islndia e Sucia no topo do ranking. A Holanda aparece na quinta posio.
A Costa Rica, pela primeira vez entre os dez primeiros, o pas latino-americano mais bem colocado, ocupando a sexta posio. Noruega, Israel, Luxemburgo e Mxico completam o Top 10.
Relatrio se baseou em servios meteorolgicos nacionais
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ONU confirma 2024 como o ano mais quente em 175 anos (Imagem ilustrativa) Foto: EFE/MARCELO SAYAO
Nesta quarta-feira (19), a Organizao Meteorolgica Mundial (OMM), instituio da Organizao das Naes Unidas (ONU), informou que 2024 foi o ano mais quente em 175 anos de registro cientfico. As temperaturas registradas ao longo do ano confirmaram que o ano ado foi o primeiro a superar 1,5 C acima do perodo pr-industrial (1850-1900).
Apesar do recorde, o relatrio da instituio traz dados preliminares que estimam um aquecimento global de longo prazo entre 1,34C e 1,41C em comparao ao mesmo perodo.
– Embora um nico ano de aquecimento superior a 1,5C no indique que os objetivos de temperatura de longo prazo do Acordo de Paris estejam fora de alcance, um sinal de alerta de que estamos aumentando os riscos para as nossas vidas, economias e para o planeta – alertou a secretria-geral da OMM, Celeste Saulo.
Os pesquisadores avaliam que o recorde de temperaturas globais registrado em 2023 e quebrado em 2024 foi causado principalmente pelo aumento contnuo das emisses de gases do efeito estufa, associado a alternncia entre os fenmenos de arrefecimento La Nia e de aquecimento El Nio.
O relatrio traz ainda uma srie de dados que apontam recordes em outros indicadores de mudanas climticas no ano de 2024, como o nvel mais elevado nos ltimos 800 mil anos de concentrao atmosfrica de dixido de carbono, metano e xido nitroso.
– O dixido de carbono permanece na atmosfera durante geraes, retendo o calor – destaca o estudo.
Cerca de 90% da energia retida pelos gases com efeito de estufa no sistema terrestre armazenada nos oceanos. O que levou a observao da taxa de aquecimento dos oceanos mais alta dos ltimos 65 anos, em 2024, alm da duplicao da taxa de subida do mar entre 2015 e 2024 na comparao com o perodo de 1993 a 2002.
Os ltimos trs anos tambm registraram as menores extenses de gelo antrtico e a maior perda de massa glacial. J no rtico, as menores 18 extenses de gelo foram registradas nos ltimos 18 anos.
Os impactos dos fenmenos meteorolgicos extremos registrados no ltimo ano, somados aos conflitos e os elevados preos internos de alimentos, resultaram no agravamento das crises alimentares em 18 pases, aponta o relatrio
Segundo o secretrio-geral da ONU, Antnio Guterres, esses so sinais de alerta emitidos pelo planeta, mas o relatrio tambm mostra que ainda possvel limitar o aumento da temperatura global em longo prazo.
O relatrio da OMM foi baseado nas contribuies cientficas dos servios meteorolgicos e hidrolgicos nacionais, dos centros climticos regionais da instituio e de parceiros da ONU, com a participao de dezenas de peritos.
Um acordo assinado por autarquias federais mantm pessoas e a caa de animais silvestres numa reserva biolgica, no Paran. A categoria o tipo mais restritivo presena humana na legislao federal. Fontes apontam riscos biodiversidade e ao sistema nacional de unidades de conservao.
Traados em 2012 sobre uma fazenda que pertenceu ao falido banco Bamerindus, os 34 mil hectares da Reserva Biolgica (Rebio) Bom Jesus abrigam plantas e animais raros ou em risco de sumir do mapa, como bugio, palmeira-jussara, cachorro-do-mato-vinagre e at o pararu-espelho, ave tida como “possivelmente extinta”.
Armadilhas fotogrficas tambm registraram trs onas-pintadas (Panthera onca) em sua poro mais preservada, em um ano. Elas so parte dos estimados ltimos 200 desses animais em toda a Mata Atlntica, da qual restam menos de da vegetao original.
Distribuda nos municpios de Antonina, Guaraqueaba e Paranagu, a Bom Jesus mantm igualmente estoques de Carbono, para aliviar a crise do clima, fontes de gua, manguezais – fundamentais reproduo e alimentao de inmeras espcies, de caranguejos a guars –, bem como florestas estendidas das plancies a at cerca de 500 m de altitude.
Ajustadas dentro da rea de Proteo Ambiental de Guaraqueaba, a Rebio e unidades de conservao prximas, como as Reservas Particulares do Patrimnio Natural (RPPNs) Papagaio-de-cara-roxa e Guaricica, so ainda testemunhos da natureza ancestral do pas.
“ um bloco indispensvel conservao da vida selvagem brasileira, inclusive de espcies muito ameaadas”, explica o bilogo Roberto Fusco-Costa, coordenador do Programa de Grandes Mamferos da Serra do Mar, uma iniciativa dos institutos de pesquisas Canania e Manac.
Um serelepe (Guerlinguetus aestuans), ou esquilo-brasileiro, na Rebio Bom Jesus (PR). Foto: Reginaldo Antunes Ferreira/WikiparquesUma elegante jacutinga (Aburria jacutinga) em meio preservada reserva biolgica. Imagem de armadilha fotogrfica do Programa Grandes Mamíferos da Serra do Mar.
Conservao em alerta 6b5ib
Contudo, um termo assinado entre o Instituto Chico Mendes de Conservao da Biodiversidade (ICMBio) e a Fundao Nacional dos Povos Indgenas (Funai) acendeu um alerta vermelho e colheu duras crticas de entidades civis e pesquisadores.
O documento prev a caa de animais silvestres para manter o modo de vida tradicional de 7 famlias da etnia indgena Mby Guarani em 6,7 mil ha na poro mais preservada da Bom Jesus, ou quase 20% dela. Essas pessoas habitam hoje menos de 20 ha, ou 0,06% da rea protegida.
“Nessa rea de uso intensivo esto hoje a aldeia, as moradias, a roa e so desempenhadas atividades cotidianas pelos indgenas”, descreve o gerente do ICMBio para a Regio Sul, Walter Steenbock.
Documentos obtidos pela reportagem (linkados ao final) mostram que as caadas no sero regradas pois, diz o ICMBio, teriam baixo impacto, ocorreriam apenas no outono-inverno e atingiriam sobretudo animais como queixada (Tayassu pecari) e cateto (Pecari tajacu).
A autarquia ambiental avalia que o diminuto e muito ameaado pararu-espelho no interessaria caa e que, por questes culturais e espirituais, a ona-pintada no seria caada e cada indgena s poderia abater durante sua vida apenas uma anta (Tapirus terrestris).
“Evidentemente, no se est com isso avaliando que seja “normal” caar em uma Reserva Biolgica, mas considerando que o baixo impacto desta caa pode ser considerado aceitvel em um contexto de compatibilizao de direitos”, diz o rgo ambiental.
Em cartas aos Ministrios do Meio Ambiente e Mudana do Clima (MMA) e Pblico Federal (MPF) no Paran, entidades civis avaliam que o acordo no equaliza direitos, pois menosprezaria a conservao ambiental frente aos direitos indgenas.
“A nica parte que est cedendo o meio ambiente, ao permitir a absurda caa de uma espcie j vulnervel e cuja morte no deve ser itida por nenhum cidado”, dizem.
No preto-e-branco da legislao nacional, as Rebios so criadas para manter a biodiversidade sem interferncias de pessoas ou modificaes dos ambientes naturais. S pesquisas e educao ambiental seriam permitidas.
Nas cartas readas aos rgos federais, as ONGs lembram que os indgenas rumaram unidade de conservao pouco antes de seu decreto e desde uma terra indgena a 500 km de l.
Conforme a Funai, conflitos com indgenas Kaingang fizeram o grupo retornar ao local, do qual seus anteados “saram para fundar a aldeia Palmeirinha na Terra Indgena Mangueirinha”.
“O grupo empreendeu uma peregrinao, guiada pelos sonhos e pela cosmologia guarani, at que, no incio de 2011, encontrou o local que vinha buscando para viver o nhandereko [modo de viver guarani], onde hoje a aldeia Kuaray Haxa”, detalha a Fundao.
Desde ento, os impactos ambientais teriam sido mnimos. “O nmero de habitantes e a vegetao natural da reserva no mudaram de forma significativa ao longo desse tempo todo”, diz Steenbock. “Alm disso, a caa no prioritria para alimentar as famlias”, afirma.
Cerimnia na Opy (casa de reza) dos indgenas Mby Guarani. Foto: Nhamandu Cunha da Silva/Funai
Caa escassa 1g1l6f
Conforme Steenbock (ICMBio), o termo assinado com a Funai precisa ser validado pela Justia Federal e permitir monitorar as condies ambientais da reserva e da caa indgena, o que at ento no ocorria.
“H uma tendncia de melhoria na gesto, pois o ICMBio no tem qualquer sede ou estrutura na Rebio, onde a comunidade j denunciava a atuao de caadores, palmiteiros e outros criminosos”, diz o doutor em Cincias pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Caso aprovada pelo judicirio, a execuo do termo ser acompanhada por uma comisso dedicada, cuja composio no estaria fechada.
“Sem esse acordo provisrio, a sequncia de cuidados que foi definida no seria possvel”, ressalta Steenbock. “Mas, caso ele no seja respeitado, no se descarta restringir ou impossibilitar qualquer caa na rea protegida”, diz.
De acordo com a Assessoria de Comunicao da Funai, estudos demonstram que conhecimentos e modo de vida indgena contm o desmatamento e contribuem para a conservao.
O MapBiomas mostra que “as terras indgenas possuem os menores ndices de perda da vegetao nativa e esto entre as reas mais protegidas”, diz. “A presena da comunidade indgena contribui com os objetivos de conservao da Reserva Biolgica Bom Jesus”, conclui.
Contudo, isso contestado ao menos desde 2001 por cientistas brasileiros, em captulo do livro “Ornitologia e Conservao – da Cincia s Estratgias”. “Muitas espcies so intolerantes a atividades como a explorao madeireira, caa e a competio humana por recursos, enquanto a maioria das que toleram se sai muito melhor na ausncia daquelas”, detalham.
Por questes como essas, outros cientistas e ongs analisam que o abate continuado de animais na Bom Jesus ser um grave retrocesso para manter e recuperar a combalida vida selvagem da Mata Atlntica.
“A situao da Mata Atlntica e de suas espcies no item mais qualquer tipo de caa”, refora Roberto Fusco-Costa, ps-doutor em Ecologia e Conservao pela Universidade Federal do Paran (UFPR).
Segundo ele, ao contrrio da Amaznia, a Mata Atlntica j no tem grandes reas contnuas de vegetao para manter adequadamente populaes de animais ou repovoar regies degradadas. Espcies como ona-pintada e anta j perderam cerca de 80% da rea no bioma, diz.
“Os animais caados compem cadeias alimentares com outras espcies, vegetais e animais, que ocorrem e circulam alm das reas protegidas”, diz. “Sua eliminao pode desequilibrar todo o ecossistema regional”, projeta o pesquisador.
Fontes de entidades ambientalistas e de reas tcnicas do ICMBio relataram a ((o))eco que a caa ilegal a maior fonte de danos conservao na regio da Rebio Bom Jesus e avaliaram que os abates autorizados aumentaro as perdas de fauna silvestre.
Alm disso, avaliam que monitorar ser insuficiente se, s depois, mostrar que uma espcie foi exterminada ou afugentada da rea protegida. “ um risco muito grande”, diz o bilogo Paulo Pizzi, presidente da ong Mater Natura e parte do Conselho Regional de Biologia da 7 Regio (CRBio-07).
A ameaa pode crescer pela parca proteo do bioma. A ong Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educao Ambiental (SPVS) calculou que reservas biolgicas e outras unidades de proteo estrita cobrem apenas 0,92% do territrio total da Mata Atlntica.
“Mesmo com essa frao minscula de rea razoavelmente protegida, abocanham fatias para outras finalidades que no a da conservao”, critica Clvis Borges, diretor-executivo da SPVS, mestre em Zoologia pela UFPR e conselheiro de ((o))eco.
Uma potente ona-pintada perambula livre na Rebio Bom Jesus. Vdeo do Programa Grandes Mamíferos da Serra do Mar.
Convergncia setorial 4le5
Na carta aos rgos federais, as ongs no se opem aos direitos de populaes indgenas, mas no poupam crticas a outros pontos do termo ICMBio-Funai.
As entidades apontam que ele permite o aumento do nmero de pessoas e vincula pesquisas e monitoramento da biodiversidade na rea protegida permisso comunitria. Para elas, isso converte parte da Rebio em Terra Indgena.
“O termo foi assinado com as 7 famlias e pessoas listadas na aldeia, no com o povo Mby Guarani. Mudanas demogrficas tambm sero acompanhadas no mbito do termo”, replica Walter Steenbock (ICMBio).
O gerente da autarquia conta que o acordo era desenhado desde 2018 junto a um processo judicial disparado em 2014 e inicialmente voltado reintegrao das terras da Rebio ocupadas pelos indgenas. “Mesmo sem discusso pblica mais ampla, ele foi debatido e demandado no processo judicial”, diz.
Um decreto de 2002 prope que populaes tradicionais e indgenas permaneam em unidades de conservao at sua eventual realocao, sob regras definidas em termos de compromisso.
Contudo, faltaria transparncia e avaliao pblica ao processo. “ICMBio e Funai fizeram tudo s escuras no caso da Bom Jesus”, avalia Clvis Borges (SPVS). “Soa como uma estratgia que avana nas sombras, sendo vendida como um ‘avano’ para a conservao”, diz.
Ao mesmo tempo, ele estima que o caso estimula a ocupao de outras unidades de proteo integral e, de bandeja, alivia presses para a desapropriao ou indenizao de fazendas eventualmente em terras de populaes tradicionais e indgenas.
Os ruralistas parecem ter captado a ideia. O deputado federal Lcio Mosquini (MDB-RO) props em fevereiro um projeto de lei que prioriza indgenas na ocupao de qualquer tipo de Unidades de Conservao, desde que desvinculadas de seu territrio tradicional.
“ incrvel a convergncia de propsitos entre grupos to antagnicos. Isso demonstra que a conservao efetiva da biodiversidade no est na pauta nem da Direita nem da Esquerda”, avalia Borges, mestre em Zoologia pela UFPR.
J Paulo Pizzi (Mater Natura) projeta que o proposto Bom Jesus aumentar a presso pela legalizao da caa de animais silvestres no Brasil, como querem as bancadas Ruralista e da Bala. “Se pode abrir isso para outros setores pelo lobby da caa”, lembra.
Queixadas (acima) e anta (abaixo) podero continuar sendo caadas na Rebio Bom Jesus. Imagens de armadilhas fotogrficas do Programa Grandes Mamíferos da Serra do Mar.
Foco humano 6hy3o
O polmico episdio da Rebio Bom Jesus no nico. ((o))eco mostra que ao menos desde o fim de 2021, no governo Bolsonaro, o ICMBio aceita populaes tradicionais e indgenas em unidades de conservao (UCs) de proteo integral, como parques nacionais e reservas biolgicas.
A Assessoria de Comunicao da Funai reforou que o proposto Bom Jesus atende a legislao e decretos federais, bem como a normativas, pareceres e despachos do ICMBio. A poltica tambm baseada em anlises da Advocacia Geral da Unio (AGU).
“A do Termo de Compromisso tem como objetivo a compatibilizao de regimes jurdicos e no conta com nenhum bice na esfera tcnica ou jurdica”, afirma.
Por sua vez, entidades conservacionistas tm outra avaliao. “So justificativas muito discutveis para algo completamente insustentvel”, avalia Paulo Pizzi, presidente da ong Mater Natura.
J Clvis Borges, diretor-executivo da SPVS, pondera que se trata de “um movimento orquestrado e ideolgico para transformar as UCs de uso indireto em reas veis de uso por todo tipo de comunidades humanas”.
De carona, isso poderia enfraquecer todo o sistema nacional de unidades de conservao da natureza, o SNUC, tido ainda como principal instrumento para manter a biodiversidade brasileira, aponta Pizzi.
“O termo desvirtua a finalidade dessas reas protetoras, atropela a legislao e a Constituio federais”, diz. “ uma aberrao que duas autarquias decidam sobre temas que competem ao estado brasileiro e no a governos pontuais”, destaca o bilogo.
Enquanto isso, a acomodao provisria ou permanente de pessoas em UCs de Proteo Integral no um consenso dentro dos prprios rgos ambientais federais.
H forte resistncia dentro do ICMBio. A reportagem apurou tambm que reas tcnicas da autarquia, como o Centro Nacional de Pesquisa e Conservao de Mamferos Carnvoros (CENAP), foram consultadas apenas na ltima semana sobre o proposto Rebio Bom Jesus.
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Vera Popygua, cacique do territrio Tekoa Kuaray Haxa, e Walter Steenbock, gerente da Regio Sul do ICMBio, na cerimnia de do termo de compromisso. Foto: Nhamandu Cunha da Silva/Funai/Divulgao
Caminhos do meio 1n6c39
Para Clvis Borges (SPVS), localizar e comprar terras para os Mby Guarani seria a melhor alternativa para a Rebio Bom Jesus e para os prprios indgenas, que viveriam com menos restries em outro territrio.
Soluo similar serviu comunidades Av Guarani que pleiteavam parte do Parque Nacional do Iguau (PR) aps o alagamento de suas terras pelo lago da Usina Binacional de Itaipu. A empresa comprar 3 mil ha por R$ 240 milhes para acomod-los.
“H dinheiro de termos de ajustes judiciais ligados a empreendimentos no Paran que serviria frouxamente para comprar terras adequadas e criar uma terra indgena”, afirma o mestre em Zoologia pela UFPR.
Os termos citados incluem recursos de compensaes pelo derrame de petrleo nos rios Iguau e Barigui pela Repar (Refinaria Getlio Vargas), em 2000, e por despejo similar pelo oleoduto Olapa, no ano seguinte. Cerca de R$ 140 milhes estariam disponveis em apenas um dos acordos.
Entretanto, Walter Steenbock avalia que esse dinheiro deve priorizar a compra de terras para consolidar limites de unidades de conservao no Paran. Apenas 10% da rea da Rebio Bom Jesus est regularizada. Ainda h cerca de 120 imveis a serem indenizados ou desapropriados.
“Devemos usar os recursos para reduzir impactos maiores, como de reas com uso intensivo agropecurio, que nada tm a ver com a conservao”, ressalta o gerente da Regio Sul do ICMBio.
Outra possibilidade seria converter parte da Rebio Bom Jesus em Terra Indgena, evitando conflitos entre os indgenas e a conservao estrita da reserva. Contudo, o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou em 2018 que mudar limites de UCs depende de lei aprovada no Congresso.
Mas, Steenbock afirma que a prioridade do ICMBio manter os limites da reserva biolgica, uma “rea de imensa importncia para a Mata Atlntica”. Recortar a rea protegida seria mais danoso para a conservao do que a convivncia monitorada com os indgenas.
“No est na perspectiva do ICMBio abrir mo de 1 ha que seja da Rebio”, afirma.
Consultados por ((o))eco, o Ministrio do Meio Ambiente e Mudana do Clima (MMA) e o Ministrio Pblico Federal (MPF) no Paran no se manifestaram at a publicao desta reportagem. Confira aqui documentos citados na mesma e a ntegra da resposta da Funai.
*Esta reportagem teve informaes corrigidas s 15h30min de 18.03.2025.
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Jornalista cobrindo h mais de duas dcadas temas como Conservao da Natureza, Crimes contra a Vida Selvagem, Cincia, Agron... →