Urgente : Bolsonaro a expresso de quem "est de saco cheio com tudo o que est a..."
Enviado por alexandre em 27/12/2017 01:25:41


"Mal-estar", artigo de Denis Lerrer Rosenfield, em O Estado de S.Paulo.."Se a moralidade pblica se tornou uma bandeira poltica, porque no faltaram razes que corroboram tal percepo..."

H um profundo mal-estar na sociedade brasileira. As pessoas esto tomadas pelo desnimo e pela insegurana, portadoras de grande descrena nos polticos e nos partidos. Se a moralidade pblica se tornou uma bandeira poltica, porque no faltaram razes que corroboram tal percepo. bem verdade que a economia voltou a crescer, criando novas condies sociais, graas s reformas realizadas pelo atual governo. Porm tais efeitos ainda no se fizeram sentir ou no so percebidos como tal.

No deveria, portanto, causar estranheza o fortalecimento da candidatura do deputado Jair Bolsonaro, na medida em que ele consegue dar vazo ao sentimento de uma sociedade cansada de desmandos. Pretender desqualific-lo como sendo de extrema direita nada mais que uma reao de tipo ideolgico, pois no leva em considerao que suas posies esto enraizadas na sociedade. Ele no uma “bolha” que logo estourar, mas um fenmeno que expressa questes e posies de uma sociedade que est de saco cheio de tudo o que est a.

A descrena da sociedade nos polticos e nos partidos em geral tem srias razes. No h praticamente nenhum grande partido que escape. O PT foi o grande mestre, com o mensalo e o petrolo. Nos governos petistas o Pas foi levado runa econmica e falta completa de tica. Ex-membros do novo governo esto envolvidos na Lava Jato, como um ex-ministro com mais de R$ 50 milhes escondidos num apartamento. As imagens foram impactantes. O ex-presidente do PSDB tambm aparece envolvido com a JBS. A lista seria interminvel. Fica, porm, a percepo de que todos os partidos esto podres, embora, evidentemente, haja pessoas srias e honestas em todos eles. O que conta, todavia, a percepo popular. Nesse sentido, a posio de um outsider tende a ser muito bem recebida.

As denominaes de esquerda e de direita, em tal contexto, am a no ter maior significao, porquanto a questo reside em como dar respostas aos problemas que so postos pela sociedade. Expresso desse deslocamento se encontra em recente entrevista do ex-presidente Fernando Henrique, ao declarar que tem “medo da direita”, em aluso indireta ao deputado Bolsonaro. Curioso. No teria ele “medo da esquerda” petista lulista, que destruiu o Pas? Ou de Hugo Chvez e sucessores, que conduziram a Venezuela ao abismo?

A sociedade no tolera mais as invases do MST e de seus assemelhados urbanos, como o MTST. Quer tranquilidade em sua vida e em seu trabalho. Note-se que o MST foi estimulado e acariciado tanto pelos tucanos quanto pelos petistas, com exceo da ex-presidente Dilma, que dele se demarcou, e do atual presidente, que tampouco compactua com a desordem. Acontece que o desrespeito propriedade privada condenado pela imensa maioria da populao, que no mais embarca nos cantos romnticos de uma esquerda irresponsvel. Consequentemente, quando um outsider como o deputado Bolsonaro toma para si essa bandeira, ele no apenas se contrape a importantes partidos, como expressa o que sentido e condenado pela sociedade.

Pegue-se, por exemplo, um projeto de lei hoje tramitando que permite aos proprietrios rurais a autodefesa mediante autorizao para registro e posse de armas. Alguns afoitos ou mal-intencionados j criticam tal lei como se ela viesse estabelecer o “faroeste no campo”. Como assim? Ele j no existe na forma de invases violentas do MST, com uso de armas, sequestros, incndios, destruio de propriedades, e assim por diante? E a prtica do abigeato? E os simples roubos e assassinatos? Condenam-se os que procuram defender-se, e no os que usam da violncia em suas invases. Ento, se um candidato d voz aos que no conseguem fazer-se ouvir, qual seria o problema? Ser de direita? Santa pacincia!

As pessoas no conseguem mais caminhar livremente nas cidades brasileiras. A insegurana impera, a violncia est sempre espreita. O automvel hoje utilizado para qualquer deslocamento, expressando um medo disseminado. Os mais ricos andam em carros blindados. O direito bsico de livre circulao simplesmente anulado pela insegurana fsica das pessoas e dos seus bens. Pais e mes ficam angustiados espera de um filho ou filha que foi a uma festa noturna. Mes so assassinadas quando buscam filhos na escola. A situao absolutamente intolervel e nenhum governo se ocupou seriamente da segurana pblica. Tucanos e petistas nada fizeram e a nossa realidade, hoje, produto de uma longa histria de descaso pela coisa pblica. No deveria surpreender que um candidato que vocalize tal problema bsico do Estado cresa na opinio pblica. Se o deputado Bolsonaro cresce nas pesquisas, por que os partidos tradicionais lhe abriram espao ao no enfrentarem as questes por ele suscitadas.

Chegamos a uma situao assaz esquisita, em que bandidos circulam livremente com armas de uso militar pelas favelas brasileiras, sem que nada seja efetivamente feito. At posam para fotos, dada a total impunidade. Se um militar os enfrenta, da polcia, do Exrcito, da Marinha ou da Aeronutica, logo se instaura um processo contra ele – agora, felizmente, sob os auspcios da Justia Militar. Se for menor de idade, pior ainda, pois um “civil” indefeso que teria sido morto. Os valores esto totalmente invertidos. Os ditos “direitos humanos” no deveriam ser utilizados para a proteo de criminosos, maiores ou menores. Menores matam livremente e depois de uma breve recluso saem com ficha limpa. um estmulo ao crime. Assim, se um candidato defende a reduo da maioridade penal e a reviso do Estatuto da Criana e do Adolescente imediatamente estigmatizado como conservador e retrgrado. A perverso completa.

* PROFESSOR DE FILOSOFIA NA UFRGS.

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