Urgente : Pas registra 10 estupros coletivos por dia; notificaes dobram em 5 anos
Enviado por alexandre em 21/08/2017 01:19:27

Pas registra 10 estupros coletivos por dia; notificaes dobram em 5 anos

Retirada de sua casa em Presidente Epitcio, no interior paulista, uma mulher de 48 anos foi estuprada por quatro rapazes. Eram seus vizinhos.

"Cala a boca, se algum ouvir sua voz vai saber que tu", grita um. "Tapa o rosto da novinha", diz o outro. Em vdeo que circulou nas redes sociais, quatro rapazes estupram uma menina de 12 anos em uma comunidade na Baixada Fluminense, no Rio.



A 2.400 km dali, em Uruu (sul do Piau), uma grvida de 15 anos foi estuprada por trs adolescentes, e o namorado, morto na sua frente.



Retirada de sua casa em Presidente Epitcio, no interior paulista, uma mulher de 48 anos foi estuprada por quatro rapazes. Eram seus vizinhos.

Em Santo Antnio do Amparo, em Minas Gerais, uma dona de casa de 31 anos foi atacada, estuprada e morta a caminho de casa. Quatro homens confessaram os crimes.

Em cinco anos, mais do que dobrou o nmero de registros de estupros coletivos no pas feitos por hospitais que atenderam as vtimas.

Dados inditos do Ministrio da Sade obtidos pela Folha apontam que as notificaes pularam de 1.570 em 2011 para 3.526, em 2016. So em mdia dez casos de estupro coletivo por dia.

Os nmeros so os primeiros a captar a evoluo desse tipo de violncia sexual no pas. Na polcia, os registros do crime praticado por mais de um agressor no so contabilizados em separado dos demais casos de estupro.

Desde 2011, dados sobre violncia sexual se tornaram de notificao obrigatria pelos servios pblicos e privados de sade e so agrupados em um sistema de informaes do ministrio, o Sinan.

Acre, Tocantins e Distrito Federal lideram as taxas de estupro coletivo por cem mil habitantes –com 4,41, 4,31 e 4,23, respectivamente. Esse tipo de crime representa hoje 15% dos casos de estupro atendidos pelos hospitais –total de 22.804 em 2016.

Os nmeros da sade, contudo, representam s uma parcela dos casos. Primeiro porque a violncia sexual historicamente subnotificada e nem todas as vtimas procuram hospitais ou a polcia e, em segundo lugar, porque 30% dos municpios ainda no fornecem dados ao Sinan.

"Infelizmente, s a ponta do iceberg. A violncia sexual contra a mulher um crime invisvel, h muito tabu por trs dessa falta de dados. Muitas mulheres estupradas no prestam queixa. s vezes, nem falam em casa porque existe a cultura de culp-las mesmo sendo as vtimas", diz Daniel Cerqueira, pesquisador do Ipea (Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada).

Subnotificao

Estudos feitos pelo Ipea mostram que apenas 10% do total de estupros so notificados. Considerando que h 50 mil casos registrados por ano (na polcia e nos hospitais), o pas teria 450 mil ocorrncias ainda "escondidas".

Segundo a sociloga Wnia Pasinato, assessora do USP Mulheres, os dados da sade sobre estupro coletivo mostram que o problema existe h muito tempo, mas s agora est vindo tona a partir de casos que ganharam destaque na imprensa nacional.

Entre eles est o de uma uma jovem de 16 anos do Rio, que foi estuprada por um grupo de homens e teve o vdeo do ataque postado em redes sociais, e outro ocorrido em Castelo do Piau (PI), em que quatro meninas foram estupradas por quatro adolescentes e um adulto. Danielly, 17, uma das vtimas, morreu.

"O estupro coletivo um problema muito maior e que permanecia invisvel. H uma dificuldade da polcia e da Justia de responder a essa violncia", diz Wnia.

Para a antroploga Debora Diniz, professora da Universidade de Braslia, o aumento de casos de estupro coletivo impactante. " um crime de bando, de um grupo de homens que violenta uma mulher. Essa caracterstica coletiva denuncia o carter cultural do estupro."

" a festa do machismo, de colocar a mulher como objeto. O interesse no o ato sexual, mas sim ostentar o controle sobre o corpo da mulher", diz Cerqueira, do Ipea.

O pesquisador um dos autores de estudo sobre a evoluo dos estupros nos registros de sade. Nele, h breve meno ao crime cometido por dois ou mais homens. Crianas respondiam por 40% das vtimas, 24% eram adolescentes e 36%, adultas.

Evoluo dos estupros no pas

Em setembro de 2016, J.C., 19, de So Paulo, foi abordada por um homem armado em um ponto de nibus na zona norte da capital.

Levada at uma favela, foi estuprada por cinco homens durante quatro horas. "Eu chorava e pedia pelo amor de Deus que parassem. Eles me batiam e mandavam eu calar a boca. Fizeram o que quiseram e depois me deixaram numa rua deserta", contou em relato por e-mail Folha.

Segundo a psicloga Daniela Pedroso, do Hospital Prola Byington (SP), o trauma emocional de uma mulher que sofre estupro coletivo muito maior, especialmente quando a violncia resulta em gravidez –o aborto legal nessas situaes.

"Nesses atos, os criminosos costumam ter prticas concomitantes. O sentimento de vergonha e de humilhao da mulher muito maior, ela tem dificuldade de falar sobre isso. s vezes, s relata quando engravida."

Outro fato que tem chamado a ateno em algumas das ocorrncias de estupros coletivos a gravao e a divulgao de imagens do crime. A Folha pesquisou 51 casos noticiados pela imprensa nos ltimos trs anos. Em pelo menos 14 foram publicados vdeos em redes sociais.

O caso da menina de 12 anos estuprada no Rio s foi denunciado polcia quando a tia recebeu as imagens no celular. A garota foi ameaada para ficar em silncio.

" perturbadora essa necessidade que os agressores tm de filmar a violncia. como se fosse um souvenir da conquista", diz Debora Diniz.

Para Wnia, do USP Mulheres, essa prtica parece ter carter ritualstico. " o estupro sendo mostrado como trofu", afirma.

Fotos: Reproduo

Folha de S. Paulo

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