Ex-deputado confessa envolvimento com Sanguessugas 5vg3t

Data12/04/2010 00:54:17 | Topico:Mais Notcias


Terra
O vereador de Belo Horizonte e ex-deputado federal Cabo Jlio (PMDB), que em agosto de 2009 foi condenado em primeira instncia por envolvimento com os Sanguessugas da Mfia das Ambulncias, em 2002, escreveu uma carta de desabafo em seu blog pessoal na qual confessa envolvimento com o esquema e questiona por que at hoje foi o nico dos 84 parlamentares indiciados a ser punido.

No texto, Jlio pede perdo famlia, a Deus, aos amigos e tambm aos companheiros de trabalho pelos atos de corrupo em 2002, quando uma quadrilha teria superfaturado o preo de ambulncias que eram readas a prefeituras do interior do Pas. Por conta do escndalo, o parlamentar, que havia cumprido dois mandatos como deputado federal, no conseguiu se reeleger em 2006. Em 2008 ele foi eleito vereador em BH.

Recentemente Cabo Jlio esteve internado no Hospital Santa Rita, na regio do Barreiro, em Belo Horizonte, para onde foi levado por policiais militares depois de ser encontrado desacordado no meio da rua. Ele havia acabado de ar mal ao volante e bater o carro num poste. Durante outras duas vezes, pelo menos, o parlamentar ou mal e teve que ser socorrido aps tomar, segundo ele, medicamentos para fortes dores abdominais.

"Eu jamais esperaria que aquelas pessoas que me ajudaram na campanha de 2002 viessem a ser presos e acusados de tanta coisas erradas. Mas,quem com porco se mistura, farelo come. Eu no fui e no sou inocente. Deus sabe que no sou. Mas tambm no errei o tanto que me acusaram de errar", escreveu.

Ao final da carta, que est abaixo na ntegra, Cabo Jlio pede aos assessores de gabinete que o documento seja publicado na ntegra, de acordo com a vontade dele.

"EU PENSEI QUE FOSSE MORRER DE TANTA DOR" So 23:03 hs do dia 07/04/10, a primeira vez que entro em meu blog desde a sexta feira ada quando cheguei ao Hospital Santa Rita pela penltima vez.

Eu fiquei aproximadamente uma semana internado no Hospital Santa Rita, depois HPM e por ltimo fazendo exames no Hospital Vila da Serra.

Quando a gente a por momentos como este, v que a vida vale to pouco. Nos fazem refletir sobre tanta coisa, sobre tantos erros e acertos.

Na sexta-feira eu senti tanta dor no abdmen que acabei desmaiando no volante. O carro bateu em um poste e fui para o Hospital Santa Rita ser medicado.

Era a segunda vez. Na primeira desmaiei na via do minrio. Nossa, a globo me filmou em pleno domingo no barreiro.

Infelizmente,a gente tem colegas que bateram muito pesado. ( talvez eu j tenha feito muito isso e esteja colhendo o que semeei). Alguns comentrios no globo.com diziam: bem feito, tomara que morra, ta drogado, bbado, a depresso por causa da mfia dos sanguessugas. Mas muitos tambm foram de solidariedade.

As vezes no sabemos diferenciar vida pessoal, de vida profissional, de vida poltica. As vezes misturamos adversrios a inimigos.

Voltando a esta semana, no outro dia pela manh, resolvi sair a esquina para comprar umas fitas e ar o fim de semana em casa descansando da noite anterior no Pronto Socorro do Hospital.

Na Avenida Sinfrnio Brochado, prximo do Comercial as dores foram to forte, to intensas que eu tentei chegar no Corpo de Bombeiros e no consegui. A sorte foi que um colega policial desceu do nibus e eu pedi que corresse no PA dos Bombeiros e pedisse ajuda.

Naquele momento eu pensei que fosse morrer ali na rua, eu suava e tinha diarria de tanta dor. Logo, uma viatura da PM ( infelizmente no sei sequer quem eram os policiais para agradecer) apareceu e me socorreu mais uma vez. Meu primeiro agradecimento a esta guarnio que me socorreu. Que Deus abenoe vocs.

Depois de uma tarde de atendimento no Santa Rita comearam os exames aps a internao: ultrasonografia abdominal, sangue, urina, fezes, raio x, e infelizmente no descobriram a causa da dor.

A dor era tanta que buscopan na veia no amenizava as dores. O mdico decidiu ento aplicar morfina para aliviar a dor. Naquela hora, aos gritos de dor, eu pedi socorro a todo mundo que eu conhecia. Eu preferia a morte a sentir tamanha dor.

Liguei para um ex-chefe da poca em que fui transferido para a antiga DST (em 97) que acabar de reformar no HPM e ele me ajudou a ser removido as pressas para o Hospital Militar.

Meu segundo agradecimento ao Ten Cel Ezequiel que atendeu a ligao telefnica desesperada da minha me e me ajudou a ser transferido de um hospital ao outro. Deus abenoe ao Senhor e sua famlia.

Chegando no HPM, o prximo exame foi uma tomografia computadorizada do abdmem. Mais uma vez nada foi detectado. O que mais me angustia no propriamente a dor, mas no descobrir sua causa.

A cada noite eu continuava, apesar do medicamentos, a urrar de dor. Ao meu lado na enfermaria 227, o SD Bruno de Itatiauu, que havia sofrido um acidente automobilstico e iria ar por uma cirurgia no fmur, e o Sgt Aldair de Caratinga que ou por uma cirurgia no pulso. A eles,o meu agradecimento pelo consolo nas noites de dor, e de tristeza. Tristeza por estar a quase seis meses sofrendo de uma dor em que apesar de tantos exames e tantos remdios, internaes e desmaios, ningum conseguir descobrir a causa da dor.

Nessas horas a gente pensa em cada dia vivido. Em cada pessoa que deixamos de valorizar, a cada pessoa que nos decepcionou,ou que decepcionei. A cada erro, a cada acerto.

Eu prometi a Deus que se ele me permitisse no morrer no meio daquelas dores terrveis que iria tentar ser melhor (ou menos pior), iria tentar ser diferente.

Pensei na minha me, ali desesperada no telefone ligando para um e para outro tentando conseguir uma vaga para me transferir. Sabe, quando a gente tem um mandato de vereador ou de Deputado a gente acha que tanta coisa, mas nessa hora v que no nada.

A gente v que os amigos de verdade so poucos. Muitos so amigos do que voc , e no de quem voc . Confesso que na hora que cheguei a esta concluso, tive vontade de pedir a Deus para me deixar morrer. Tudo perde a graa, tudo perde a motivao.

A PIOR SOLIDO AQUELA EM QUE A GENTE OLHA PARA O LADO E V TANTA GENTE, MAS SE SENTE SOZINHO. O PIOR MOMENTO DA VIDA QUANDO NO MEIO DE TANTOS SONHOS A GENTE TEM VONTADE DE DESISTIR DE TUDO. MEU DEUS, COMO EU GRITEI PEDINDO PARA MORRER, PARA NAO SENTIR MAIS DOR. COMO EU RECLAMEI DA VIDA.

Aos oficiais e praas do HPM e aos mdicos civis que me atenderam, meu muito obrigado. Deus abenoe a vocs.

Um agradecimento especial tambm ao Major Clenis, Diretor Clinico do HPM, que foi quem me recebeu no primeiro dia e ficou procurando uma vaga para me alojar. Me perdoe pelas injustias cometidas contra o Hospital Militar. Internado ali eu vi como difcil socorrer todo mundo que precisa. Me desculpe.

Sabe gente, a vida vale to pouco quando a gente sente que a est perdendo. Como seria bom se pudssemos voltar no tempo e fazer as coisas to diferentes, to certas. Como seria bom se pudssemos apertar a tecla de REW e deixar de magoar as pessoas que amamos. Deixar de desapontar as pessoas que confiaram em ns.

A poltica foi bom pra minha vida (nunca fui hipcrita), mas um preo to alto. Foi muita responsabilidade para um jovem de 29 anos de idade chegar no Congresso Nacional e representar uma classe to abandonada, to sofrida.

Fiz como Davi, amei quem me feriu e feri quem me amou. Sei que essa carta ser um "prato cheio" para os meus adversrios. Diro: Eu nao disse, eu nao falei, etc. Mas no to nem a, quero aliviar o peso da minha alma. Tem uma coisa que muita gente nao entender, que uma coisa que meu pai dizia: "quando o fardo estiver pesado, volte ao primeiro amor". Nossa, como dificil.

Aos meus colegas, meu pedido de perdo.

A pior tristeza de um homem quando ele no sabe se vai durar mais 100 anos, ou apenas mais 100 minutos. D vontade de fazer em 100 minutos, o que no conseguimos fazer em 100 anos. Mas, o tempo no permite. Uma das piores dores a dor da frustrao.

No to nem a se essa carta vai ser bem entendida ou no,se vai me trazer prejuzo ou no, um desabafo de quem acabou de sair de um hospital. So 23:40 hs agora.

No preciso de sensacionalismo. Fui eleito e, 1998. Depois quando deixe a candidatura de prefeito de Belo Horizonte, todo mundo dizia que eu estava acabado politicamente e tive quase 120 mil votos em 2002. Em 2006 depois de 10 meses de pancada todo dia tive quase 60 mil votos. Em 2008 me elegi vereador em BH, quebrando mais um tabu. Nunca tivemos um praa eleito em BH. a eleio mais difcil de todas a de vereador.

Pelo amor de Deus, no isso. Isso no traz lucro, traz reflexo. Talvez alivie a alma.

Ao Deputado Sargento Rodrigues. Lembrei naquele leito, as vezes que nos reunimos na sua ou na minha casa juntando moedinhas para pagar a nossa conta de luz depois da excluso. Da sua esposa fazendo um mexido para as pessoas que estavam ao nosso lado em uma campanha at ento impossvel.

Das vezes em que a gente viajava, e chegava nas cidades e no tinha dinheiro para comer, para dormir, para abastecer o carro emprestado. A gente vivia de rifas.

Como as coisas tomaram outros rumos depois da eleio. Talvez pela nossa vontade de, separadamente ,mostrar a nossa classe quem era o mais grato,o mais desejoso de mostrar servio, o mais competente, ou talvez o menos incompetente.

A voc, Rodrigues o meu pedido maior ainda de perdo, por ter permitido que a nossa amizade, forjada na dor, fosse embora.

Continue, voc competente e importante para a nossa classe.

Sabe gente, quando a gente chega l, a gente chega cheio de vontade de mudar o mundo, de fazer e acontecer. Mas a realidade dura. difcil mudar culturas, mudar coisas moldadas ( certas ou erradas ) com o tempo.

A mfia das ambulncias, foi um dos piores momentos da minha vida poltica; um momento de muita crueldade com a minha famlia. No culpo ningum, a culpa foi exclusivamente minha. Mas me negaram o direito de mostrar o meu lado da histria.

EU ERREI, EU PERMITI QUE A CORRUPO E O ERRO INVADISSE MINHA ALMA.

Eu jamais esperaria que aquelas pessoas que me ajudaram na campanha de 2002 viessem a ser presos e acusados de tanta coisas erradas. Mas,quem com porco se mistura, farelo come.

Eu no fui e no sou inocente. Deus sabe que no sou. Mas tambm no errei o tanto que me acusaram de errar.

Perdo aos meus filhos, a minha me, a meu irmo. Aos meu colegas, que confiaram em mim. So tantos que dificil pedir perdo e nomear a todos. A Noeme de Juiz de Fora, ao Araujo de Teofilo Otoni, ao Z de Uberaba ( meu paizo), ao Alair de Bom Despacho, a Adriana de Pouso Alegre, ao Laubi de TO, ao Cb Prates de Moc, ao Sgt Barbosa de BH, ao Melo de Neves, ao Lucio de Leopoldina, ao Abi-Ali de Valadares, ao Cb Fernando de Contagem, ao Cel Mendona, ao meu heri na area juridica, o Dr. Cabo Ricardo de BH, ao Sgt Mendes guerreiro de 97, aos anistiados, enfim, tanta gente que o sono me trai. Me desculpe quem eu esqueci.

Aos meus fiis mosqueteiros, Lobo, Jacinto ( e a marlene) e maurio. Vocs so a minha famlia. Obrigado por nunca terem me abandonado. Amo vocs.

A Renata da Aspra que pediu orao pra mim eu seu blog. Brigado. A nossa renatinha e a Dra Liliane, obrigado pela fora.

Paguei e continuarei pagando um preo muito caro pelo meu erro imperdovel. Mesmo tendo 84 deputados investigados, fui o nico a ser condenado em primeira instancia. Apesar de recorrer, ser que eu sou pior do que todos os outros 83? Eu colhi o que plantei. Deixei de confiar em Deus na hora do aperto. Esqueci que o mesmo Deus que me tirou da barraca de camelo, que se eu fosse fiel, ele me permitiria continuar. Mas a ambio falou mais alto que a f.

A depresso uma doena da alma. A alma segundo a psicologia so os sentimentos, as emoes. Segundo a teologia, o que nos aflige e nos distancia de Deus. o que di, o que faz os problemas pequenos se tornarem grandes. O que faz os problemas grandes se tornarem impossveis aos olhos humanos.

Sabe, so tantas pessoas que magoei, que decepcionei, que essa carta se tornaria imensa.

Ao Coronel Renato, meu pedido de perdo tambm. fcil demais fazer a poltica da critica, do quanto pior melhor. Mas fazer, to difcil.

Vou lembrar um fato que talvez voc no se lembre. Em 1997, no auge da crise, voc me chamou no gabinete do sub-comando e me disse: vai em frente. Confesso que no entendi at hoje esta frase. Mas eu fui em frente.

A mo que aplaude cada critica, a mesma mo que desdenha.

Creio que tem muita coisa ruim que existe ainda na PM, muitas injustias. Colegas trabalhando como burro de carga, injustias. Mas as criticas no so de todo justas.

Desejo sucesso no seu comando. Olhe com mais sensibilidade aqueles que sofrem.

So 23:58, nem sei como terminar. Afinal so quase 10 anos,em que sai do anonimato de uma viatura Rotam e uma barraca de camelo e ei a ter tantas responsabilidades que hoje vejo que no estava preparado.

um mundo co. Onde o mais forte engole o mais fraco.

Ao Cabo Alexandre, Presidente da ASCOBOM. Obrigado pelo conforto, pelo socorro, por acreditar em mim em momentos em que muitos me viraram as costas. Sua ousadia manteve o Projeto Restaurando Vidas de p quando todos achavam que o sonho se acabaria.Na luta eu tive um colega, na dor eu ganhei um irmo. Voc foi um dos poucos ombros que eu tive para chorar. Obrigado Alexandre.

Enfim, essa carta um desabafo.

Ao apostolo Freitas, que um dia me disse: a igreja lutar de restaurao. Estamos juntos at o ultimo minuto. Obrigado.

No sei o que eu tenho, se grave, ou apenas uma bobeira emocional. Mas eu peo a Deus que me perdoe e no em deixe ar mais tanta dor como aquela que senti naquele hospital.

Eu t com medo. Deus sabe que estou falando a verdade. To me sentindo meio impotente diante da possibilidade de ter pouco tempo para fazer tanta coisa que sonhei.

Prefiro que Deus me leve, a sentir tamanha dor. Di no corpo e di muito mais na alma quando a gente se sente intil diante da impossibilidade de lutar contra ela.

Obrigado a todos. So 02:25.

(AOS MEUS ASSESSORES QUE CONTROLAM ESTE BLOG, POR FAVOR, RESPEITEM A MINHA VONTADE E DEIXEM ESTA MENSAGEM NA INTEGRA COMO POSTEI)

Cabo Jlio




Este artigo veio de Ouro Preto Online


O endereo desta histria :
/modules/news/article.php?storyid=32