Duas secas: como falta de chuvas e baixa umidade do solo agravam incndios na Amaznia 155o6f

Data21/01/2025 00:57:38 | Topico:Meio Ambiente

Duas secas: como falta de chuvas e baixa umidade do solo agravam incndios na Amaznia

Estudo tambm aponta influncia do El Nio, que muda circulao do ar e reduz chuvas, alm do comprometimento da funo das guas subterrneas de manter umidade do solo em perodos longos de seca.
Por
Redao
20 de janeiro de 2025

Foto: Jader Souza/AL Roraima

O trabalho de um grupo de cientistas, com a colaborao do Instituto de Geocincias (IGc) da USP, revela a maneira com que a combinao de duas formas de seca amplifica o risco de incndios florestais na Amaznia. De acordo com a pesquisa, a seca meteorolgica, marcada pela falta de chuvas, favorece o surgimento de focos de incndio, ao mesmo tempo que a seca hidrolgica, diminuindo a umidade do solo e da vegetao, cria um ambiente muito inflamvel.

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Os pesquisadores tambm apontam que os eventos de El Nio, que mudam a circulao do ar, reduzindo as chuvas, aumentaram a rea queimada em 244% no perodo entre 2015 e 2016, e que secas prolongadas comprometem o papel das guas subterrneas de manter a umidade dos solos. Os resultados do estudo so relatados em artigo publicado na revista Science of The Total Environment, no ltimo ms de dezembro.

A pesquisa abrangeu toda a Bacia Amaznica, que a maior bacia hidrogrfica do planeta, com aproximadamente 7,4 milhes de quilmetros quadrados (km). “A seca meteorolgica caracterizada pela reduo de precipitao em uma regio durante um perodo especfico”, declara ao Jornal da USP o professor Bruno Conicelli, do Instituto de Geocincias (IGc) da USP, que integra o grupo de autores do artigo. “ uma resposta direta s variaes climticas e tem impactos imediatos no ciclo hidrolgico superficial”.

“J a seca hidrolgica refere-se reduo da disponibilidade de gua em corpos hdricos, como rios, lagos e aquferos”, explica o professor. “Diferentemente da seca meteorolgica, ela possui um efeito prolongado, pois depende do tempo necessrio para que o solo e os aquferos reajam s variaes de precipitao”.
Na Amaznia est localizada a maior bacia hidrogrfica do planeta, com 7,4 milhes de quilmetros quadrados (km); variaes na queda nos nveis de gua subterrnea reforam necessidade de estratgias localizadas de manejo e conservao. Imagem extrada do artigo.
guas subterrneas e El Nio

O trabalho teve como objetivo principal compreender como as secas meteorolgicas e hidrolgicas afetam os incndios florestais na Amaznia, com destaque para o papel das guas subterrneas e a influncia dos eventos de El Nio. “Alm disso, buscou avaliar a distribuio temporal da seca hidrolgica em diferentes nveis de profundidade do solo, analisar a relao entre os indicadores de seca meteorolgica e hidrolgica e investigar o impacto dos eventos de El Nio no agravamento das condies de seca e no aumento da rea afetada por incndios florestais entre 2004 e 2016”, descreve Conicelli.

Os principais conjuntos de dados empregados na anlise incluem indicadores de seca hidrolgica (DI), obtidos do satlite GRACE (Gravity Recovery and Climate Experiment), e o ndice de Precipitao Padronizado (SPI), calculado a partir dos dados do satlite Tropical Rainfall Measuring Mission (TRMM). Dados sobre a frao mensal de rea queimada foram fornecidos pelo Global Fire Emissions Database (GFED4), permitindo identificar padres temporais e espaciais nos incndios. A intensidade dos Eventos de El Nio (ENSO) foi avaliada usando o Oceanic Nio Index (ONI), que categoriza os episdios em fraco, moderado, forte e muito forte, a partir dos dados obtidos do Golden Gate Weather Service. O professor relata que todos os dados foram processados e analisados usando tcnicas estatsticas e ferramentas computacionais avanadas, garantindo a confiabilidade dos resultados.

“Os indicadores de seca hidrolgica (DI), derivados do GRACE, permitiram avaliar como as reservas de gua subterrnea foram afetadas ao longo do tempo. No entanto, embora tenha considerado a bacia como um todo, os resultados destacaram padres regionais especficos”, salienta Conicelli.

“No nordeste da Amaznia, por exemplo, observou-se uma menor concentrao de umidade em todas as camadas do solo analisadas, tornando essa regio mais vulnervel a incndios florestais. Por outro lado, no sul da bacia, houve uma tendncia de reduo da umidade em nveis mais profundos, como os aquferos, indicando uma resposta mais lenta da gua subterrnea s mudanas na precipitao. Esses padres ressaltam a heterogeneidade ambiental da Amaznia e a necessidade de estratgias localizadas de manejo e conservao”.

Segundo a pesquisa, os eventos de El Nio tiveram um impacto significativo na intensificao das condies de seca e no aumento dos incndios florestais na Amaznia. “Durante perodos de El Nio muito intensos, como o de 2015 e 2016, a rea queimada aumentou em at 244% em relao mdia anual. Esse fenmeno climtico reduz a precipitao na bacia amaznica ao alterar os padres de circulao atmosfrica, o que prolonga os perodos de seca. Como consequncia, a vegetao se torna mais seca e suscetvel ao fogo”, destaca o professor.

“As guas subterrneas desempenham um papel crtico nesse contexto. Por serem reservas de gua que respondem mais lentamente s mudanas na precipitao, elas sustentam a umidade do solo durante perodos de seca meteorolgica. No entanto, quando os nveis de gua subterrnea caem devido a secas prolongadas, a recuperao lenta, aumentando a vulnerabilidade da regio a perodos prolongados de aridez e, consequentemente, aos incndios”.
Em condies climticas normais, guas subterrneas ajudam a manter umidade do solo, no entanto, eventos extremos como o El Nio, que reduzem as chuvas e levam a secas prolongadas, potencializam riscos de incndios florestais. Imagem extrada do artigo.
Mapas indicam variao dentro da Amaznia do Indicador Hidrolgico de Seca (DI), umidade superficial do solo (sfsm), umidade do solo na zona radicular (rtzsm), gua subterrnea (gws) e frao de rea queimada (bf), alm da oscilao dos ndices no perodo entre 2004 e 2016. Imagem extrada do artigo.
Gesto sustentvel

De acordo com o professor do IGc, pesquisa revelou que ambas as formas de seca atuam de maneira sinrgica para aumentar significativamente a extenso e a gravidade dos incndios na Amaznia. “A seca meteorolgica, com sua rpida manifestao, pode desencadear condies favorveis para o fogo”, aponta, “enquanto a seca hidrolgica, ao reduzir a umidade do solo e da vegetao, cria um ambiente altamente inflamvel”.

“ essencial implementar sistemas de alerta precoce baseados no monitoramento contnuo de guas subterrneas, ndices climticos e indicadores de seca hidrolgica e meteorolgica”, recomenda Conicelli. “Ferramentas tecnolgicas, como os satlites GRACE e TRMM, desempenham um papel crucial ao fornecer dados em tempo real, permitindo a previso de eventos crticos, como secas prolongadas e aumento do risco de incndios”.

“Alm disso, a gesto sustentvel da terra deve ser priorizada, com medidas para reduzir o desmatamento e promover prticas agrcolas que conservem o solo e a vegetao nativa”, sugere o professor. “Outro ponto relevante a necessidade de investir em educao ambiental para sensibilizar as comunidades locais sobre os impactos das mudanas climticas e engaj-las em prticas de conservao”.

O trabalho foi realizado por uma equipe interdisciplinar de pesquisadores, incluindo Naomi Toledo, Gabriel Moulatlet, Gabriel Gaona, Bryan Valencia, Ricardo Hirata e Bruno Conicelli, que assinam o artigo. As instituies participantes foram a Universidad Regional Amaznica Ikiam (Equador), a University of Arizona (EUA) e o Centro de Pesquisas de guas Subterrneas (CEPAS-USP), do IGc (Brasil).

*O contedo foi originalmente publicado pelo Jornal da USP, escrito por Jlio Bernardes ... - Veja mais em https://ouropretoonline.atualizarondonia.com/meio-ambiente/secas-incendios-na-amazonia/


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