Nas profundezas do oceano Pacfico, ao largo da costa do Mxico, os cientistas descobriram que o oxignio no vem de organismos vivos, mas sim de ndulos polimetlicos, uma espcie de pequenas pedras. A descoberta coloca em questo a teoria sobre as origens da vida, de acordo com um estudo publicado, nesta segunda-feira (22), na revista cientfica Nature Geoscience.
Este peculiar "oxignio negro" produzido por um processo diferente da fotossntese, a mais de 4.000 metros de profundidade, na plancie abissal da zona de fratura de Clarion-Clipperton, no centro do Pacfico, em frente costa oeste do Mxico. Os ndulos polimetlicos so agregados minerais ricos em metais (mangans, cobre, cobalto...) muito procurados pela indstria para fabricao de baterias, aerogeradores ou painis fotovoltaicos.
Um navio da Associao Escocesa para Cincias Marinhas (SAMS) estava realizando amostragens na rea para avaliar o impacto dessa prospeco de metais em um ecossistema que abriga espcies animais nicas, que sobrevivem sem luz. "Estvamos tentando medir o consumo de oxignio no fundo do oceano usando cmaras bentnicas", disse AFP Andrew Sweetman, autor principal do estudo.
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O processo envolve instalar essas cmaras no sedimento marinho e observar como a concentrao de oxignio na gua diminui dentro delas, medida que absorvido pela respirao dos organismos vivos. No entanto, algo inesperado ocorreu: "o oxignio aumentava na gua sobre os sedimentos, em completa escurido e sem fotossntese", explicou Sweetman, lder do grupo de pesquisa em ecologia e biogeoqumica de fundos marinhos da SAMS.
SURPRESA DOS CIENTISTAS
Foto: Reproduo/Internet
A surpresa foi to grande que os cientistas chegaram a pensar que seus sensores submarinos estavam fornecendo dados incorretos. Os especialistas repetiram o experimento a bordo do navio para verificar se o fenmeno se repetia. Mais uma vez, observaram que o oxignio aumentava nas amostras de sedimento, em completa escurido.
"Detectamos uma tenso eltrica na superfcie dos ndulos quase to alta quanto em uma pilha AA", descreveu Sweetman, comparando os ndulos a "baterias dentro de rochas". Essas propriedades surpreendentes podem ser resultado de um processo de eletrlise da gua, que separa suas molculas em hidrognio e oxignio usando corrente eltrica.
"O descobrimento da produo de oxignio por um processo diferente da fotossntese nos leva a repensar como a vida surgiu na Terra", comentou Nicholas Owens, diretor da SAMS. A viso convencional que o oxignio comeou a ser produzido h cerca de 3 bilhes de anos por cianobactrias, levando ao desenvolvimento de organismos mais complexos.
"A vida poderia ter comeado em lugares diferentes da superfcie terrestre e perto da superfcie do oceano. Dado que este processo existe em nosso planeta, poderia criar habitats oxigenados em outros 'mundos ocenicos' como Enclado ou Europa (luas de Saturno e Jpiter) e assim criar condies para a vida extraterrestre", sugeriu Sweetman.
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Ele acredita que este estudo possibilitar uma melhor regulamentao da explorao mineral em guas profundas, com base em informaes ambientais mais precisas.
Fonte: Folha de So Paulo
