Quando falamos em sonmbulos, sempre imaginamos as pessoas andando de olhos fechados na calada da noite pela casa. Alguns com olhos abertos e braos estirados para frente. Porm, a realidade bem diferente. Os cientistas do sono referem-se a esse comportamento anormal do sono como "parassonia", que pode incluir comportamentos simples, como se sentar na cama e parecer confuso, mas tambm comportamentos mais elaborados, como sair da cama e se movimentar ou gritar com uma expresso facial de medo.

Embora as parassonias sejam mais comuns entre crianas, cerca de 3% dos adultos ainda apresentam sintomas regularmente. “Os indivduos afetados podem machucar a si mesmos ou a outras pessoas durante os episdios e, mais tarde, podem sentir-se profundamente envergonhados pelo que fizeram”, explica sca Siclari, chefe do laboratrio de sonhos do Instituto Holands de Neurocincias.

Siclari e sua equipe conduziram este estudo para entender melhor o que ocorre no crebro durante as parassonias. "Acreditava-se comumente que os sonhos ocorriam apenas em um estgio do sono: o sono REM. Agora sabemos que os sonhos tambm podem acontecer em outras fases. Aqueles que apresentam parassonias durante o sono no REM s vezes relatam ter experincias semelhantes a sonhos e s vezes parecem completamente inconscientes (ou seja, no piloto automtico)”, explica.

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Os cientistas investigaram as experincias e os padres de atividade cerebral de pacientes com parassonia no sono no REM. Para isso, eles precisaram adormecer o paciente, para ele vivenciar um episdio de algo e ter sua atividade cerebral registrada enquanto se movimenta.

A equipe de Siclari pode provocar um episdio de parassonia em laboratrio, mas so necessrias duas gravaes consecutivas. Na primeira gravao o paciente dorme normalmente. Segue-se uma noite em que o paciente fica acordado e s pode dormir na manh seguinte.

Durante esta gravao, o paciente exposto a um som alto ao entrar na fase de sono profundo. Em alguns casos, isso resulta em um episdio de parassonia. Aps o episdio, pergunta-se ao paciente o que estava ando pela sua cabea.

Como resultado, em 56% dos episdios, os pacientes relataram que estavam sonhando durante o episdio. "Muitas vezes tratava-se de um infortnio ou perigo iminente. Alguns relataram que pensavam que o teto iria cair. Um paciente pensou que tinha perdido o beb e estava vasculhando os lenis e levantou-se na cama para tentar salvar joaninhas de deslizar pela parede e morrer", explica a cientista.

Segundo ela, em 19% dos casos, os pacientes no estavam experimentando nada e simplesmente acordaram fazendo coisas, quase como se estivessem em transe. Outra pequena parcela relatou que havia vivenciado algo, mas no conseguia lembrar o que era.

"O que determina se o paciente ficar completamente inconsciente ou se, em vez disso, sonhar, parece depender do estado em que o paciente se encontra naquele momento. Se ativarmos o crebro enquanto eles provavelmente j esto sonhando, eles parecem ser capazes de 'fazer algo' da ativao, enquanto quando seu crebro est amplamente 'inativado', comportamentos simples parecem ocorrer sem experincia”, diz.

Fotos: Reproduo

A cientista diz que os pacientes no mencionam o som alto que iniciou o episdio de parassonia, mas sim algum outro tipo de perigo iminente. “Quanto mais alto aumentarmos o volume do som, maior ser a chance de provocarmos um episdio”, afirma.

PRMIXOS OS

A pesquisadora agora quer realizar novos estudos de acompanhamento em grande escala. E quer realizar uma nova pesquisa em pessoas durante o sono REM. “Ao medir a atividade cerebral como neste estudo, esperamos compreender melhor quais sistemas neurais esto envolvidos em diferentes tipos de parassonias”, diz Siclari.

Embora ainda haja muita pesquisa a ser feita, a pesquisadora est confiante de que seu trabalho pode fornecer informaes valiosas.

"Nosso trabalho pode contribuir para intervenes medicamentosas mais especficas no futuro. As parassonias so frequentemente tratadas com medicamentos para dormir inespecficos, que nem sempre so eficazes e podem ter efeitos colaterais negativos. Se pudermos deduzir qual sistema neural est funcionando de forma anormal, ns eventualmente, tentar desenvolver tratamentos mais especficos”, diz.

Fonte: O Globo