O PODER SOBRENATURAL DO CRACK f6w25

Data15/11/2011 12:11:25 | Topico:Polcia E Sociedade

O PODER SOBRENATURAL DO CRACK

H algum tempo atrs um cidado aparentando ter pouco mais de trinta anos, vagava pelas ruas centrais de Aracaju, como de costume, pois noutra vez eu j tinha observado os seus os nas mesmas cercanias. Mostrava estar triste e deprimido como nunca, talvez como sempre. O dia de sbado era como outro qualquer na sua vida e na vida da cidade, pois o vento que soprava quente era o mesmo, o sol abrasante e causticante a tudo esquentar era o mesmo, as pessoas indiferentes, ando de um lado para o outro das ruas e nas caladas, afastando-se do citado cidado em misto de medo e asco eram as mesmas, a agencia bancaria a qual ele entrara era tambm a mesma. Entretanto, aquele carrancudo cidado, barbudo, cabeludo, sujo, maltrapilho, esqueltico, parecendo seriamente doente me lembrava de algum, algum conhecido, algum que um dia j mantivera algum tipo de contato verbal comigo, mas, por mais que eu tentasse me lembrar de quem seria aquela misteriosa pessoa no conseguia. Demasiadamente curioso, dessa vez olhei mais demoradamente para aquele estranho e intrigante cidado enquanto ele tirava dinheiro no cash do banco no mesmo instante em que as outras pessoas que ali estavam presentes trataram de fugir do recinto pensando ser ele um assaltante, um bandido ou delinquente qualquer, talvez um maluco andarilho. Ele no demostrou surpresa pelo fato das pessoas assim agirem, parecia acostumado com isso, com essa humilhao, sabia que a sua aparncia era assustadora apesar de saber que no era um marginal, parecia no estar ali naquele momento, noutro mundo, no ligar para o que acontecia a sua volta, parecia nada temer, talvez se a Terra explodisse para ele seria normal. Temia somente um novo ataque de bronquite que se avolumava no seu pulmo devido a tosse grossa e pesada que insistia na sua garganta a fazer tremer a sua longa e imunda barba que carregava em igual modo com o seu cabelo escarafunchado e embuchado tal qual uma casa de cupim . As suas perspectivas eram as piores possveis. Certamente mergulhado em pensamentos pessimistas, nem sequer notou que eu sem disfarar tanto olhava para ele querendo me lembrar de onde o conhecia, at que o guarda do banco chegou de um possvel cafezinho e me falou: - T vendo o que o crack faz? ... Ele era um Advogado!...
Foi a que tudo emergiu, veio tona; foi ai que tudo me chegou mente; foi ai que o mistrio foi revelado; foi ai que pude decifrar todos seus segredos; foi ai que vi o quanto o destino das pessoas pode ser cruel para uns e bondoso para outros; foi a que eu vi aquele cidado, antes promissor Advogado conversando comigo em algumas oportunidades nos corredores do Tribunal de Justia e em determinada Delegacia que trabalhei, assuntos relacionados a Processos criminais ou Inquritos policiais; foi a que me lembrei de uma reportagem que um jornal sergipano fez sobre uma me em desespero querendo libertar o seu querido filho, estudioso, carinhoso, alegre e feliz com a vida, ento Advogado preso nas garras do crack; foi ai que soube que os familiares desse cidado tentavam interna-lo em clinica apropriada, mas ele se recusava tal tratamento por conta do poder avassalador e sobrenatural do crack que o arrastava cada vez mais para o fundo do poo; foi ai que lembrei que aquele Advogado entrou no imundo mundo do crack por conta de ter se envolvido com um traficante aps conseguir sua liberdade na Justia; foi ai que lembrei da citada matria jornalstica dizendo que aquele Advogado se desfez do seu escritrio, do seu carro, dos seus bens, vendendo ou trocando tudo pelo crack ou para pagar dvidas com traficantes; foi ai que eu senti que aquele cidado abandonou a sua casa e ou a morar no submundo da sociedade de Aracaju, nas ruas, no mercado central, nas marquises dos prdios ou em penses baratas junto prostituio rasteira, com seus iguais, pelo crack e para o crack; foi ai que eu imaginei que aquele cidado ento sobrevivia de algum dinheiro que ainda restava da venda dos seus bens, ou quem sabe, de depsitos efetuados por familiares na sua conta bancaria; foi ai que eu vi que um cidado bem vestido, alinhado, com terno, palet e gravata impecveis pode se transformar num mendigo, num zumbi, num morto-vivo; foi ai que eu vi que a vida daquele cidado era somente o crack.
Certamente sentindo-se arrasado, desesperado, impotente para resolver o seu prprio infortnio, o seu calvrio, lanando um olhar no ado esse cidado, antes feliz Advogado, viu o rumo errado que tomou, mas no teve foras para voltar atrs, no queria se curar, no itia tratamento porque o crack era mais forte do que a sua vontade, o crack era mais forte do que ele. O seu presente era s o crack, o crack como o senhor do seu viver, o crack como seu dominador, o crack como destruidor da sua famlia, o crack como aniquilador da sua vida. Crack e desgraa so indissociveis e quase palavras sinnimas.
O crack o grande mal do sculo, o mal dos males, a pior de todas as drogas, que se no for um mal que todos ns estejamos esclarecidos, ir nos afetar em qualquer momento de nossa vida ou na vida de quem mais amamos, como de fato aconteceu com esse cidado e sua famlia, um jovem que estudou nos melhores colgios, que teve boas amizades, que se formou em Direito, que se tornou um Advogado, que tinha um bom escritrio, que pretendia ser juiz por isso adormecia em cima de livros de tanto estudar, que tinha um bom futuro pela frente, mas que por ironia do destino, pelo poder sobrenatural dessa droga, tudo trocou pelo crack.
Rodeado e instado pelos sentimentos humanitrios de enternecimento, compaixo, piedade at porque sempre fui dos maiores combatentes do crack, tanto na rea repressiva quanto preventiva, com priso de grandes traficantes na minha careira policial e inmeros artigos de minha autoria pertinentes ao tema publicados em centenas de sites do Brasil, Portugal, Angola e Moambique, logo pensei em falar com ele, oferecer algum tipo de ajuda moral, espiritual, mas seu olhar sisudo e com possibilidade de algum tipo de agresso me afastaram, me reprimiram at porque ele tambm no me reconheceu. Entretanto, todas as vezes que caminho pela citada rea de Aracaju, procuro em vo e insistentemente com os meus curiosos olhos pelo triste cidado entre os inchadinhos de cachaa ou barbudinhos zumbis do crack em muitos espalhados pela redondeza. Se o cidado aceitou fazer tratamento, se fez ou faz tratamento em clinica de recuperao no sei, s sei que o poder de imensa e infinita bondade do nosso Criador pode sobrepor e derrotar o poder sobrenatural do crack como assim j fez com muitos. Assim, um dia espero ver aquele alegre Advogado de volta aos corredores do Tribunal de Justia ou em Delegacias defendendo os seus clientes, menos os traficantes.

Autor: Archimedes Marques (Delegado de Policia no Estado de Sergipe. Ps-Graduado em Gesto Estratgica de Segurana Pblica pela Universidade Federal de Sergipe) [email protected]

O PODER SOBRENATURAL DO CRACK

H algum tempo atrs um cidado aparentando ter pouco mais de trinta anos, vagava pelas ruas centrais de Aracaju, como de costume, pois noutra vez eu j tinha observado os seus os nas mesmas cercanias. Mostrava estar triste e deprimido como nunca, talvez como sempre. O dia de sbado era como outro qualquer na sua vida e na vida da cidade, pois o vento que soprava quente era o mesmo, o sol abrasante e causticante a tudo esquentar era o mesmo, as pessoas indiferentes, ando de um lado para o outro das ruas e nas caladas, afastando-se do citado cidado em misto de medo e asco eram as mesmas, a agencia bancaria a qual ele entrara era tambm a mesma. Entretanto, aquele carrancudo cidado, barbudo, cabeludo, sujo, maltrapilho, esqueltico, parecendo seriamente doente me lembrava de algum, algum conhecido, algum que um dia j mantivera algum tipo de contato verbal comigo, mas, por mais que eu tentasse me lembrar de quem seria aquela misteriosa pessoa no conseguia. Demasiadamente curioso, dessa vez olhei mais demoradamente para aquele estranho e intrigante cidado enquanto ele tirava dinheiro no cash do banco no mesmo instante em que as outras pessoas que ali estavam presentes trataram de fugir do recinto pensando ser ele um assaltante, um bandido ou delinquente qualquer, talvez um maluco andarilho. Ele no demostrou surpresa pelo fato das pessoas assim agirem, parecia acostumado com isso, com essa humilhao, sabia que a sua aparncia era assustadora apesar de saber que no era um marginal, parecia no estar ali naquele momento, noutro mundo, no ligar para o que acontecia a sua volta, parecia nada temer, talvez se a Terra explodisse para ele seria normal. Temia somente um novo ataque de bronquite que se avolumava no seu pulmo devido a tosse grossa e pesada que insistia na sua garganta a fazer tremer a sua longa e imunda barba que carregava em igual modo com o seu cabelo escarafunchado e embuchado tal qual uma casa de cupim . As suas perspectivas eram as piores possveis. Certamente mergulhado em pensamentos pessimistas, nem sequer notou que eu sem disfarar tanto olhava para ele querendo me lembrar de onde o conhecia, at que o guarda do banco chegou de um possvel cafezinho e me falou: - T vendo o que o crack faz? ... Ele era um Advogado!...
Foi a que tudo emergiu, veio tona; foi ai que tudo me chegou mente; foi ai que o mistrio foi revelado; foi ai que pude decifrar todos seus segredos; foi ai que vi o quanto o destino das pessoas pode ser cruel para uns e bondoso para outros; foi a que eu vi aquele cidado, antes promissor Advogado conversando comigo em algumas oportunidades nos corredores do Tribunal de Justia e em determinada Delegacia que trabalhei, assuntos relacionados a Processos criminais ou Inquritos policiais; foi a que me lembrei de uma reportagem que um jornal sergipano fez sobre uma me em desespero querendo libertar o seu querido filho, estudioso, carinhoso, alegre e feliz com a vida, ento Advogado preso nas garras do crack; foi ai que soube que os familiares desse cidado tentavam interna-lo em clinica apropriada, mas ele se recusava tal tratamento por conta do poder avassalador e sobrenatural do crack que o arrastava cada vez mais para o fundo do poo; foi ai que lembrei que aquele Advogado entrou no imundo mundo do crack por conta de ter se envolvido com um traficante aps conseguir sua liberdade na Justia; foi ai que lembrei da citada matria jornalstica dizendo que aquele Advogado se desfez do seu escritrio, do seu carro, dos seus bens, vendendo ou trocando tudo pelo crack ou para pagar dvidas com traficantes; foi ai que eu senti que aquele cidado abandonou a sua casa e ou a morar no submundo da sociedade de Aracaju, nas ruas, no mercado central, nas marquises dos prdios ou em penses baratas junto prostituio rasteira, com seus iguais, pelo crack e para o crack; foi ai que eu imaginei que aquele cidado ento sobrevivia de algum dinheiro que ainda restava da venda dos seus bens, ou quem sabe, de depsitos efetuados por familiares na sua conta bancaria; foi ai que eu vi que um cidado bem vestido, alinhado, com terno, palet e gravata impecveis pode se transformar num mendigo, num zumbi, num morto-vivo; foi ai que eu vi que a vida daquele cidado era somente o crack.
Certamente sentindo-se arrasado, desesperado, impotente para resolver o seu prprio infortnio, o seu calvrio, lanando um olhar no ado esse cidado, antes feliz Advogado, viu o rumo errado que tomou, mas no teve foras para voltar atrs, no queria se curar, no itia tratamento porque o crack era mais forte do que a sua vontade, o crack era mais forte do que ele. O seu presente era s o crack, o crack como o senhor do seu viver, o crack como seu dominador, o crack como destruidor da sua famlia, o crack como aniquilador da sua vida. Crack e desgraa so indissociveis e quase palavras sinnimas.
O crack o grande mal do sculo, o mal dos males, a pior de todas as drogas, que se no for um mal que todos ns estejamos esclarecidos, ir nos afetar em qualquer momento de nossa vida ou na vida de quem mais amamos, como de fato aconteceu com esse cidado e sua famlia, um jovem que estudou nos melhores colgios, que teve boas amizades, que se formou em Direito, que se tornou um Advogado, que tinha um bom escritrio, que pretendia ser juiz por isso adormecia em cima de livros de tanto estudar, que tinha um bom futuro pela frente, mas que por ironia do destino, pelo poder sobrenatural dessa droga, tudo trocou pelo crack.
Rodeado e instado pelos sentimentos humanitrios de enternecimento, compaixo, piedade at porque sempre fui dos maiores combatentes do crack, tanto na rea repressiva quanto preventiva, com priso de grandes traficantes na minha careira policial e inmeros artigos de minha autoria pertinentes ao tema publicados em centenas de sites do Brasil, Portugal, Angola e Moambique, logo pensei em falar com ele, oferecer algum tipo de ajuda moral, espiritual, mas seu olhar sisudo e com possibilidade de algum tipo de agresso me afastaram, me reprimiram at porque ele tambm no me reconheceu. Entretanto, todas as vezes que caminho pela citada rea de Aracaju, procuro em vo e insistentemente com os meus curiosos olhos pelo triste cidado entre os inchadinhos de cachaa ou barbudinhos zumbis do crack em muitos espalhados pela redondeza. Se o cidado aceitou fazer tratamento, se fez ou faz tratamento em clinica de recuperao no sei, s sei que o poder de imensa e infinita bondade do nosso Criador pode sobrepor e derrotar o poder sobrenatural do crack como assim j fez com muitos. Assim, um dia espero ver aquele alegre Advogado de volta aos corredores do Tribunal de Justia ou em Delegacias defendendo os seus clientes, menos os traficantes.

Autor: Archimedes Marques (Delegado de Policia no Estado de Sergipe. Ps-Graduado em Gesto Estratgica de Segurana Pblica pela Universidade Federal de Sergipe) [email protected]




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