As estimativas so de que uma rea de florestas pblicas similar metade do estado de Alagoas desaparea, em at trs dcadas
Persistindo o desmate no territrio da BR-319, os brasileiros podem perder ao menos R$ 15 bilhes em economias menos lesivas floresta, nas prximas trs dcadas. A estimativa do Instituto de Manejo e Certificao Florestal e Agrcola (Imaflora) olhou para a regio sul do Amazonas.
A anlise indica que 14 mil km2 de florestas pblicas no destinadas naquele territrio podem ir ao cho no perodo, “resultando em perdas econmicas e ambientais irreversveis”. A rea similar metade do estado de Alagoas.“A explorao ilegal de madeira compromete o potencial de manejo sustentvel. O desmatamento emite carbono, prejudica a biodiversidade e afeta o regime de chuvas. A grilagem e a ocupao ilegal geram conflitos fundirios e desestabilizam economias”, descreve uma nota da entidade.
Dar outras cores a esse cenrio seria possvel com economias que valorizem a floresta em p, como o manejo florestal licenciado e fiscalizado. O Imaflora diz que isso traria benefcios superiores aos da pecuria e das atividades predatrias.
Segundo a entidade, s as concesses para produzir madeira e carbono podem gerar R$ 6,5 bilhes, ou 43% das perdas projetadas em 30 anos. Outros potenciais bilhes viriam do comrcio de crditos de carbono, de itens no madeireiros e de aes conservacionistas.
De volta ao sul do Amazonas, desde os anos 2000 a BR-319 um dos principais motores do desmatamento regional. Alm disso, estudos mostram que 87% da destruio florestal na Amaznia ocorre numa faixa a menos de 25 km de rodovias.
Fotos: Reproduo
Ainda conforme o Imaflora, em 2022 o sul do Amazonas foi palco de nove em cada dez hectares desmatados no estado todo, um drama que tende a crescer com a pavimentao total da BR-319, com a abertura de outras rodovias e ramais clandestinos a elas conectados.
Entre Porto Velho (RO) e Manaus (AM), a BR-319 foi aberta entre 1968 e 1973, com quase 900 km, ento todos transitveis. Contudo, j em 1988 estava abandonada. Iniciativas para reform-la, desde 2015, sofrem forte resistncia socioambiental pelos projetados danos Amaznia.
Sero 231 brigadas florestais federais, o maior nmero j mobilizado at o momento, diz MMA. Governo tambm fortalece medidas de resgate de animais7 de abril de 2025
Brigadistas do ICMBio em uma ao de queima controlada. Foto: Duda Menegassi
Em audincia pblica na Cmara dos Deputados, o Ministrio do Meio Ambiente (MMA) deu detalhes de como o governo pretende enfrentar as queimadas no Brasil em 2025. Desde o incio do ano o MMA vem se organizando para o combate ao fogo e, segundo o governo, melhorias esto sendo implementadas nas respostas previstas em situaes de desastre.
Na audincia, realizada na ltima semana, o MMA confirmou a mobilizao de 4.608 brigadistas, organizados em 231 brigadas florestais federais, com atuao em todo o territrio nacional. O nmero, apresentado preliminarmente em fevereiro, representa um aumento de 25% quando comparado com o nmero do ano anterior. Este o maior contingente de brigadistas, diz a pasta.
Segundo representante do MMA presente na audincia pblica, o governo tambm vem trabalhando no fortalecimento do Rito Sumrio da Proteo Animal, que pretende garantir resposta rpida s demandas envolvendo animais em casos de emergncia ambiental.
Durante os alagamentos no Rio Grande do Sul, por exemplo, 69 municpios foram atendidos emergencialmente pelas aes do Rito. Entre as atividades empregadas estavam a liberao de recursos para compra de rao, disponibilizao de resgate e oferta de abrigo, em processos burocrticos facilitados.
Alm disso, o MMA mencionou a realizao de capacitao de 1,5 mil agentes de segurana pblica em procedimentos de resgate de fauna em situaes de desastres e emergncias climticas.
O governo ainda aguarda a aprovao da proposta legislativa que permite maior agilidade nas transferncias de recursos do Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNMA) aos municpios, de forma a fortalecer a capacidade local de resposta a incndios e ampliao de aes de proteo fauna atingida.
Nos trs primeiros meses do ano, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), responsvel pelas medies oficiais, contabilizou 7.313 focos de incndio em todo o Brasil. O nmero est 7% abaixo da mdia para o perodo.
Cristiane Prizibisczki 3t6s2e
Jornalista com quase 20 anos de experincia na cobertura de temas como conservao, biodiversidade, poltica ambiental e mudanas climticas. J escreveu para UOL, Editora Abril, Editora Globo e Ecosystem Marketplace e desde 2006 colabora com ((o))eco. Adora ser a voz dos bichos e das plantas. →
Projeto visa integrar Atlntico e Pacfico com estradas e gasodutos, mas instabilidade poltica e falta de acordos comerciais marginalizam a Bolvia, dizem analistas l3t1e
Projeto estratgico une Atlntico e Pacfico com infraestrutura logstica, mas instabilidade poltica e falta de acordos comerciais isolam Bolvia da integrao regional
Brasil, Argentina, Chile e Paraguai esto acelerando a construo de um ambicioso corredor biocenico que conectar os oceanos Atlntico e Pacfico por meio de estradas e gasodutos, facilitando o comrcio entre a Amrica do Sul e a sia.
No entanto, a Bolvia, que poderia ser um eixo estratgico nesse projeto, est ficando para trs devido instabilidade poltica, falta de segurana jurdica e ausncia de acordos comerciaisinternacionais, ecorre o risco de ficar excluda desse eixo de integrao devido a problemas estruturais e falta de viso geopoltica.
Projeto estratgico une Atlntico e Pacfico com infraestrutura logstica, mas instabilidade poltica e falta de acordos comerciais isolam Bolvia da integrao regional
O projeto que une dois oceanos 312j2k
O Chile apresentou na semana ada o plano de infraestrutura do Corredor Biocenico Vial, uma rota que ligar os portos do sul do Brasil (como Santos) aos portos do norte do Chile, ando por Mato Grosso do Sul, o Chaco paraguaio e as provncias argentinas de Salta e Jujuy. A iniciativa busca criar uma alternativa logstica mais eficiente para exportaes asiticas, reduzindo custos e tempo de transporte.
Enquanto isso, esses pases fortalecem sua insero global por meio de tratados de livre-comrcio (TLCs) com potncias como Unio Europeia, EUA, China e Coreia do Sul.
Bolvia: o elo perdido 5z4c2s
Gary Rodrguez, gerente geral do Instituto Boliviano de Comrcio Externo (IBCE), criticou a falta de polticas de Estado que mantm a Bolvia isolada.
“Enquanto outros pases se integram ao mundo, a Bolvia no assinou nenhum acordo comercial relevante em 20 anos”, lamentou.
O analista econmico Daro Mosteiro destacou que a localizao geogrfica da Bolvia seria ideal para um corredor central, encurtando a distncia entre os portos de Santos (Brasil) e Chancay (Peru). No entanto, a incerteza jurdica e a instabilidade poltica afastam investimentos e parcerias.
Enquanto Brasil, Argentina, Chile e Paraguai consolidam essa rota comercial estratgica, a Bolvia corre o risco de ficar excluda desse eixo de integrao devido a problemas estruturais e falta de viso geopoltica.
Consequncias do isolamento 6y3a5m
Sem o direto ao mar e sem acordos comerciais robustos, a Bolvia enfrenta dificuldades para diversificar sua economia e atrair negcios internacionais. Enquanto seus vizinhos consolidam rotas de exportao, o pas arrisca ficar ainda mais dependente de mercados regionais limitados.
O desafio agora saber se o governo boliviano conseguir reverter esse cenrio e assumir um papel estratgico na integrao sul-americana—ou se continuar margem do maior projeto logstico da regio.
O projeto do Corredor Biocenico em andamento 2hy3i
Rota estratgica: O traado ligar os portos do sul do Brasil (como Santos) aos do norte do Chile, ando por Mato Grosso do Sul, o Chaco paraguaio e as provncias argentinas de Salta e Jujuy.
Infraestrutura integrada: Inclui estradas, gasodutos e futuras ferrovias para facilitar o fluxo de mercadorias entre a sia-Pacfico e a Amrica do Sul.
Vantagem competitiva: Os pases envolvidos possuem mltiplos tratados de livre-comrcio (TLCs) com potncias globais, ampliando oportunidades de exportao.
Bolvia, o elo perdido da integrao 454s1e
Especialistas destacam que o pas, por sua localizao central, teria potencial para ser um hub logstico natural, mas enfrenta obstculos crticos:
Instabilidade poltica e jurdica: Desestimula investimentos em infraestrutura e parcerias internacionais.
Isolamento comercial: No firmou acordos relevantes nos ltimos 20 anos, ao contrrio de seus vizinhos.
Falta de polticas de Estado: Impede a articulao de corredores alternativos, como a rota Santos (BR)-Chancay (PE), que poderia ar pela Bolvia.
Impacto econmico: 3j5y3w
Gary Rodrguez, do IBCE, alerta que o pas est perdendo oportunidades histricas: “Enquanto outros se integram ao mundo, a Bolvia se fecha, sem TLCs com UE, EUA ou sia”. Analistas sugerem que, sem mudanas estruturais, o pas continuar marginalizado nos fluxos comerciais regionais.
Prximos os: 3p2b5l
O Chile j apresentou seu plano de obras, e os demais pases aceleram articulaes. A Bolvia, porm, segue sem um posicionamento claro, arriscando-se a se tornar uma ilha logstica em meio a uma regio em transformao.
Os pases do Cone Sul esto dando os decisivos na criao de um corredor biocenico que conectar os oceanos Atlntico e Pacfico, um projeto transformador para o comrcio regional e global.
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Thohoyandou (frica do Sul) –A frica do Sul acaba de concluir seu primeiro curso de guerra na selva ministrado pelo Exrcito Brasileiro. Denominado "1 Curso Internacional de Selva", foi conduzido por uma equipe mvel do Centro de Instruo de Guerra na Selva (CIGS). A cerimnia de encerramento ocorreu em 15 de abril, nas instalaes do 15 Batalho de Infantaria do Exrcito Sul-Africano (15 SAI Bn), localizado na guarnio de Thohoyandou, provncia de Limpopo.
O 1 Curso Internacional de Selva teve a participao de 34 militares do Exrcito da frica do Sul de diversos postos e graduaes e contou, tambm, com a atuao de instrutores sul-africanos da Escola de Infantaria, que trabalharam em parceria com a equipe mvel do CIGS. Nesse sentido, a atividade representou uma importante oportunidade para a troca doutrinria, o que contribuiu ainda mais para o incremento da cooperao, camaradagem e confiana entre os membros dos dois pases.
Conduzido integralmente em ingls, o curso teve durao aproximada de trs semanas, com incio em 25 de maro de 2025, sendo dividido em trs fases: a 1 fase, voltada adaptao vida na selva, com nfase em tcnicas de sobrevivncia; a 2 fase, focada nos mdulos de tiro e orientao; e a 3 fase, destinada s operaes na selva por meio de patrulhas.
A solenidade de encerramento do curso foi presidida pela General de Brigada Matoeka, Diretora de Operaes istrativas da Preparao da Fora do Exrcito Sul-africano. Em seu discurso, a Brig Gen Matoeka enalteceu a capacidade tcnica e referncia mundial do Exrcito Brasileiro, por meio do CIGS, em treinamento em ambiente de selva, bem como a importncia do fortalecimento da cooperao entre Brasil e frica do Sul. O Exrcito Sul-africano agradeceu a equipe mvel do CIGs: Maj Castro Lima, Cap Simplcio, Cap Rodrigo, Cap Cruz, 2 Sgt Braga, 2 Sgt Paulucci e 2 Sgt Rivas.
O destaque do curso, Cabo Lubabalo G. S. Mdletye, que obteve o melhor rendimento operacional entre os discentes, recebeu a devida distino na cerimnia de encerramento.
A cerimnia contou com a presena do Coronel Jorge, responsvel pela Carteira da frica na Subchefia de Assuntos Especiais e Internacionais do Estado-Maior do Exrcito; do Coronel Assis, Adido do Exrcito Brasileiro na frica do Sul, do Coronel Prazeres, Comandante do CIGS, alm de representantes da Escola de Infantaria e do 15 SAI Bn.
Comando Militar da Amaznia reconhece civis e militares essenciais para a Amaznia em solenidade marcante 3t4u2j
Manaus (AM) – Em uma cerimnia que celebrou a Semana do Exrcito 2025, o Comando Militar da Amaznia (CMA) prestou uma significativa homenagem a civis e militares que se destacaram por sua inestimvel contribuio defesa e ao desenvolvimento da regio amaznica. O evento, realizado na noite desta quarta-feira, 16 de abril, no 2 Grupamento de Engenharia, agraciou personalidades e instituies com a prestigiosa Medalha Exrcito Brasileiro (MEB) e o Diploma de Colaborador Emrito do Exrcito.
A solenidade, que marcou as comemoraes do Dia do Exrcito Brasileiro, reuniu autoridades civis e militares em um ambiente de reconhecimento e integrao. O ponto alto da cerimnia foi a entrega da Medalha Exrcito Brasileiro a indivduos que, em suas respectivas reas de atuao, demonstraram um forte elo com a sociedade e um apoio fundamental misso do Exrcito na Amaznia.
Entre os homenageados, que personificam a colaborao essencial entre a sociedade civil e o Exrcito, estiveram:
Cel PMAM Fabiano Machado B: Secretrio de Estado da Casa Militar da Polcia Militar do Estado do Amazonas.
Delegado Mrio Paulo Rodrigues da Costa Telles: Diretor do Departamento de Represso ao Crime Organizado (DRCO) da Polcia Civil.
Antnio Maria dos Santos da Silva Azevedo: Vice-presidente do Conselho Deliberativo da SOAMEX e presidente do Grupo TV Lar.
Allan Carlos Moreira Magalhes: Consultor-Chefe Substituto da Unio no Estado do Amazonas.
Maria Deize Camilo Jorge: Ministra-Chefe do Escritrio de Representaes do Ministrio das Relaes Exteriores na Regio Norte.
Miyoshi Yamashita: Empresrio e amigo do CMA.
Nelcioney Jos de Souza Arajo: Coordenador do curso de Licenciatura Indgena da Universidade Federal do Amazonas (UFAM).
Jos Felipe Pereira Luiz: Gerente de Navegao da Empresa Transportes Bertolini.
Hiltler Bezerra Bandeira de Melo Jnior: Gerente de Unidade de Negcios da Amaznia (SOP).
A Medalha Exrcito Brasileiro, uma das mais importantes condecoraes da Fora Terrestre, simboliza o reconhecimento da Instituio queles que, mesmo no integrando suas fileiras, evidenciam um profundo comprometimento com os valores da nao e com o cumprimento da misso constitucional das Foras Armadas, especialmente no contexto estratgico da Amaznia.
Na oportunidade, a solenidade premiou a aluna Lvia Ferreira, do 9 ano do Colgio Militar de Manaus, vencedora do Concurso Literrio alusivo Semana do Exrcito. Seu texto, intitulado "Os 377 anos na Defesa da Ptria", destacou-se pela qualidade e pela reflexo sobre a histria e a importncia do Exrcito Brasileiro.
Gustavo Brichi, engenheiro florestal do IP, d aula sobre tcnicas agroflorestais de plantio de bananeiras na Escola Estadual Francisco Derosa, em Nazar Paulista. Imagem: Lucas Ninno / Dilogo Chino.
Reorganizar a forma de existir no mundo, em que a sociedade conviva com a natureza e no esteja contra ela. assim que o professor Celso Sanchez define o que , para ele, a tarefa principal da educao ambiental. Em conversa com o gegrafo Bruno Arajo sobre o tema, para o podcast Planeta A – que foi ao ar em novembro do ano ado e republicado por ((o))eco –, Sanchez tambm apresenta o que envolve a educao ambiental, sua histria e o que significa, nos dias de hoje, conviver em sociedade.
“A educao ambiental no pode ser algo descolado da histria do mundo, da histria das pessoas, da histria dos povos, das tradies ancestrais… Porque como a gente est aprendendo muito bem com Krenak, o futuro ancestral. E o futuro da educao ambiental tambm ancestral. (…) No adianta voc preservar sem levar em considerao as pessoas que convivem com as espcies, com os biomas, com os ecossistemas”, disse.
Celso Sanchez bilogo e professor da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), atuando na Graduao e no Programa de Ps-Graduao em Educao. Coordena o Grupo de Estudos em Educao Ambiental desde el Sur, GEASur/UNIRIO. Alm disso, conselheiro do Conselho Estadual de Educao Escolar Indgena do Estado do Rio de Janeiro e diretor secretrio da ADUNIRIO, seo sindical Andes.
Escute o episdio completo do podcast Planeta A no link.
Confira a entrevista abaixo:
Bruno Arajo: O que a educao ambiental e quando ela comeou a ser institucionalizada no Brasil? Queria que voc falasse um pouco do histrico da educao ambiental. 5v6qc
Celso Sanchez: A educao ambiental sinalizada pela primeira vez em mbito internacional na Universidade de Kiel na Inglaterra, segundo um livro que muito interessante de Genebaldo Freire Dias. Foi um livro que marcou uma poca aqui no Brasil e se chama Educao Ambiental Princpios e Prticas. Ele tenta resgatar esse cronograma, essa cronologia da educao ambiental no mundo. Ele apresenta esse primeiro movimento Acadmico, que reagia a uma demanda dos movimentos sociais dos anos 60 muito ligados contracultura, os movimentos antinuclearizao, antimilitarizao, contra a guerra do Vietn, entre outros, que se juntaram e entenderam a agenda ecolgica ambiental como uma agenda que unificava muitos movimentos sociais. Em geral, a gente marca a educao ambiental a nvel internacional neste momento.
Em 1972, a Conferncia de Estocolmo j vai apresentar uma resoluo que diz que a educao ambiental deve ser uma ao estratgica dos governos. E a partir da j comea em 1975 um programa internacional de educao ambiental, o PIEA. Em 1977 ns vamos ter por exemplo a Conferncia de Tbilisi que vai reunir os governos para pensar uma agenda de educao ambiental.
Isso vai criar acmulos que vo se desembocar l nos anos 90, no Brasil, a partir da Rio 92, que vai sediar esse encontro da ONU que foi o segundo encontro depois de 72. Em 92, foi aqui no Rio de Janeiro a discusso sobre meio ambiente, uma conferncia das Naes Unidas sobre meio ambiente e desenvolvimento sustentvel, como se chamou naquela poca. A discusso ambiental da educao ambiental a primeira apresentada oficialmente como uma importante ao estratgica dos governos e isso vai ajudar na institucionalizao da educao ambiental no Brasil, que acontece em 1999 a partir da Poltica Nacional De Educao Ambiental, Lei 9795 de 1999.
O Rio de Janeiro um dos primeiros estados que vo ter uma legislao estadual prpria de educao ambiental. Uma ao que aconteceu porque aqui no Rio a gente tinha um acmulo das lutas ambientalistas que trouxeram esse debate da educao ambiental muito forte.
Depois,a partir de 1999,a gente tem uma srie de iniciativas muito importantes que vo consolidar a educao ambiental nos estados, como a criao das CIEAs, os Comits Interinstitucionais de educao ambiental nos estados, e isso mais tarde vai ajudar quando ocorre no primeiro governo Lula a criao de um rgo gestor da Poltica Nacional de Educao Ambiental. Esse rgo gestor organiza as diretrizes da educao ambiental brasileira, cria projetos institucionais, cria aes como escolas sustentveis, cria uma srie de iniciativas muito importantes que vo consolidar a educao ambiental brasileira. Inclusive publicam um livro muito importante que est disponvel em PDF chamado “As identidades da educao ambiental brasileira” e mostra diferentes correntes de pensamento e perspectivas tericas… um momento muito efervescente da educao ambiental no Brasil e que coloca o pas como referncia internacional da educao ambiental. Toda vez que eu tenho a oportunidade de falar sobre a histria da educao ambiental, eu me lembro de uma vez que eu conversei sobre isso com povos indgenas, com o povo Guarani e com a nossa querida amiga Ivanildes, que uma liderana Guarani. Ivanildes est l em Ubatuba, nas aldeias de l e ela muito sbia. Conversando com ela sobre a educao ambiental, sobre seu histrico, ela disse: “u mas isso a o nosso povo j sabia h muito tempo”.
Ento eu gosto de repensar no incio da educao ambiental na Universidade de Kiel e problematizar com uma perspectiva nossa, dizer que talvez muito antes da universidade, os nossos povos originrios, no s no Brasil mas em Pindorama ou em Abiayala, e talvez no mundo j tivesse conhecido o que a importncia de educar com a natureza, com o meio ambiente. Isso muito importante para a gente lembrar que a educao ambiental no pode ser algo descolado da histria do mundo, da histria das pessoas, da histria dos povos, das tradies ancestrais… Porque como a gente est aprendendo muito bem com Krenak: o futuro ancestral. E o futuro da educao ambiental tambm ancestral.
Eu quero fazer uma pergunta que dialoga com o histrico que voc trouxe, que obviamente ao longo da institucionalizao e do crescimento, o fortalecimento da educao ambiental no Brasil e no mundo, diversas linhas diversas e apropriaes da educao ambiental aconteceram e diversas perspectivas da educao ambiental tambm. E eu queria que voc, sem a inteno de esgot-las, pudesse trazer aqui um pouco quais so as principais e quais so as que mais tem fora. 3axj
Ns temos trs marcos relevantes nesse debate: um a partir dos meados de 1990, por volta de 1995, 96, que a necessidade de comear a construir tendncias, observar tendncias da educao ambiental, no s no Brasil, mas a nvel global, nas diferentes orientaes. Porque o que acontece que muitos professores, profissionais, atores polticos, que foram se envolvendo com a educao ambiental, so oriundos do campo das cincias naturais, bilogos predominantemente num primeiro momento, numa determinada poca, depois muda bastante esse perfil. Mas o que aparecia num determinado momento era uma educao para a conservao da natureza, uma educao para a construo de estratgias de conservao, porque isso era uma tradio. Voc v a IUCN, a Unio Internacional Para a Conservao Da Natureza, de 1947, portanto, claro que eles j tinham propostas pedaggicas de pensar o cuidado com a natureza, a preservao da natureza e a criao de parques. Isso vai criar uma cultura pedaggica de leituras, aes, construo de uma educao para a conservao da natureza. Digamos que uma grande tendncia da educao ambiental que foi mapeada por pesquisas muito importantes como da professora Lucie Sauv no Canad, que foi falar das correntes da educao ambiental e suas correntezas. Essa pesquisa reverberou muito no Brasil, eu mesmo tive a oportunidade de fazer um trabalho sobre tendncias da educao ambiental em 1995, 96, coisas obviamente muito desatualizadas atualmente. No recomendo meus trabalhos, mas as pessoas avanaram nos debates do que a professora Lucie Sauv havia apontado para a educao ambiental. Mais adiante, surge um trabalho muito importante do professor Gustavo Lima junto com o professor Philippe Layrargues, meu amigo, mentor querido, pesquisador de extrema importncia para o campo da ecologia poltica e da educao ambiental. Surge uma percepo, at porque ele fazia parte desse movimento l em 1992, que era a necessidade de a gente problematizar determinados aspectos dessa educao para a conservao da natureza que s vezes ava batido e que eram importantes da gente sinalizar e apontar. Naquela poca havia uma preocupao de salvar uma espcie e no levar em considerao muitas vezes as pessoas que conviviam com aquela espcie. Ento isso vai gerando uma necessidade de a gente fazer por um lado, a crtica maneira como as empresas, o mercado, o capitalismo estavam absorvendo o debate ambiental de uma forma muito pragmtica, muito objetiva, muito ligada s normatizaes ambientais, gesto ambiental, a esse universo da sustentabilidade que surge l no final dos anos 80 e impacta, atravessa, todos os anos 90 e est a at hoje. E, por outro lado, tambm fazer a crtica a essa viso conservacionista que no levava em considerao as pessoas. No adianta voc preservar sem levar em considerao as pessoas que convivem com as espcies, com os biomas, com os ecossistemas. Ento essa viso mais socioambiental, que tambm era parte fundamental do debate, por exemplo, que Chico Mendes fazia. Ento, o professor Gustavo Lima junto com o professor Philippe Layrargues vo organizar isso no que eles chamam de macrotendncias da educao ambiental. Uma educao ambiental conservadora, que tem essas caractersticas prximas a esse primeiro momento de uma viso do ambientalismo, dos movimentos ambientais muito prximos conservao, os movimentos conservacionistas. Isso que o professor Juan martnez num livro muito importante chamado “Ecologismo dos Pobres” vai chamar do culto ao silvestre, de uma maneira muito provocativa. Quer dizer que uma etapa do pensamento ambiental muito mais presente nos pases do norte, particularmente nos Estados Unidos e Canad, achando que a preservao e a educao para a preservao vinha apenas do conhecimento cientfico, da conservao das espcies.
A problematizao que se faz a partir dos movimentos sociais, que vo gerar uma crtica, um pensamento crtico e, paralelo a isso tambm, a incorporao pelo mundo do capital, das indstrias do mundo capitalista mesmo, do debate da ecoeficincia, do desenvolvimento sustentvel, da sustentabilidade, por a vai… O professor Juan Martnez chamou isso de “evangelho da ecoeficincia” , o que muito jocosa essa forma de construir essa problematizao, eu gosto muito.
E a partir da tambm o professor Gustavo Lima com o Philippe Layrargues eles vo chamar essa modalidade, essa macrotendncia, de uma tendncia mais pragmtica. O pragmatismo tambm vai estar presente em outras prticas de educao ambiental muito pontuais, efmeras, que so respostas s vezes at de movimentos mais populares, movimentos mais coletivos que colam numa certa forma de fazer campanhas de educao ambiental, mobilizaes de educao ambiental, que so muito pragmticas, mas no so crticas, como eles apontam e tentam consolidar aquelas discusses que a gente fazia desde 1992 problematizando essas abordagens numa macrotendncia que eles chamam de “macrotendncia da educao ambiental crtica”.
Ento essas so as pesquisas que a gente v nesse universo. Quem tiver interesse em se aprofundar sobre esses temas, bom observar o que foram as leituras das diferentes correntes de educao ambiental apontadas pela professora Lucie Sauv, mais tarde a apresentao das identidades da educao ambiental brasileira e mais recentemente uma percepo das macrotendncias da educao ambiental, que vo acompanhar um pouco essa reflexo do professor Martinez que aponta essa corrente mais crtica, por exemplo, como oriunda dos movimentos por justia ambiental. Ento hoje a gente tem uma macrotendncia da educao ambiental crtica atenta aos movimentos da ecologia poltica por justia ambiental, procurando o tempo inteiro contextualizar a defesa do meio ambiente s pessoas que esto nessas lutas.
Com o aumento dos eventos climticos extremos, o tema da educao climtica ganhou fora e diversos projetos de lei foram protocolados pelo pas, em vrios estados, municpios e tambm no Congresso Nacional. Eu queria que voc falasse das aproximaes e diferenas da educao ambiental e da educao climtica. 4g3949
Esse debate fundamental. A gente precisa fazer esse debate. Primeiro ponto: fundamental reconhecer os acmulos da educao ambiental, de toda essa trajetria. claro que desde o incio todo debate climtico est ali nas discusses ambientais e claro que tambm o debate climtico no est descolado de todo o debate ambiental como um todo. Falar de clima falar de proteo das florestas, falar de gua, falar de todas as correlaes, as interdependncias. Segmentar a discusso climtica numa caixa especfica para a educao climtica repetir um erro que o cartesianismo nos ensinou a repetir o tempo inteiro, que achar que uma especializao ou uma dedicao exclusiva quele tema, quele currculo, quele debate, vai dar conta de um problema complexo.
Ento desde os estudos de complexidade de Edgar Morin l dos anos 70, 80, at todas as reflexes de Fritjof Capra, das linhas de filosofias mais recentes, mais no humanas, toda a rede scio-tcnica do Bruno Latour, dos debates feitos pela Dana Haraway nas filosofias Animalistas e outras perspectivas filosficas mais biocntricas, mais bioflicas… Tudo isso vai apontar para a necessidade da gente ampliar o olhar e no especializar o olhar. Filosofias no especistas tm feito exatamente a abertura da questo da nossa cabea para para esse tipo de busca de outros pontos de vista, de outras perspectivas.
Ento para uma perspectiva terica faz muito mais sentido falar de educao ambiental e climtica ou educao ambiental para o combate s mudanas climticas, educao ambiental e mudanas climticas, enfim… O nome realmente no importa, mas entender que a discusso climtica est sendo necessria de ser ampliada a partir dos acmulos da educao ambiental. Uma perspectiva da educao climtica pura e simples uma perspectiva, voc v nesse caso o nome importa, uma forma de segmentar, de criar um espao de debate que desconsidera esses acmulos, por um lado. Por outro, ele deslocaliza e corre o risco de ser despolitizado, porque como a gente est vendo, o debate da educao ambiental foi ganhando complexidade porque ele foi entendendo a sua dimenso poltica, ele foi se politizando, saindo da mera educao para a conservao ambiental ou conservao na natureza e meio idlica, meio distante das pessoas, ele foi se politizando, entendendo que s vai ser possvel a partir da relao com as pessoas, de uma ecossistmica de luta, de uma ecologia de saberes, uma ecologia de aes, inclusive, de buscar interfaces e no o contrrio.
Ento eu acho que a educao ambiental hoje enfrenta o desafio de ver mais essa ameaa vindo desse discurso da educao climtica descolada destes acmulos e para mim o risco que h nisso da despolitizao do debate das mudanas climticas. Entender, por exemplo, que as mudanas climticas precisam ser discutidas no mbito das vulnerabilidades socioambientais, da justia ambiental e climtica, das discusses das desigualdades socioambientais e climticas… Todas as grandes empresas hoje tm setores de meio ambiente, mas isso no quer dizer que elas pararam de poluir. Ao contrrio, no quer dizer que empresas que tm setor de meio ambiente sejam responsveis com o meio ambiente. Engraado, elas tm o setor de responsabilidade, mas no quer dizer que elas sejam responsveis. Ao contrrio, elas pioraram suas prticas ambientais. E de uma contradio enorme porque, veja s que interessante: agora nas polticas internas da empresa, voc tem o seu prprio copo, voc tem as suas prticas de coleta seletiva dentro da empresa, as empresas chegam a ser at rigorosas demais com o trato do seu funcionrio dentro do seu prdio e ao mesmo tempo essa mesma empresa est l no campo invadindo reas indgenas, expandindo sua rea, sua planta industrial, sua rea de plantio e exportando mais, produzindo mais e gerando mais resduo, mais lixo, mais impacto do que nunca. Ento uma contradio que mostra que a ecoeficincia uma falcia, uma mentira.
No que no seja importante a gente tambm fazer esse debate. Temos que ter aes de ecoeficincia, no h dvida de que temos que ter, mas o compromisso no pode ser essa hipocrisia ambiental que a gente v no discurso ecolgico assumido por determinados setores empresariais, dentro do que o Martinez chamou de evangelho da ecoeficincia. Acho que esse o risco que a gente tem quando falamos em educao climtica, negligenciando esses acmulos.
Inclusive, me parece que nos ltimos nos ltimos anos, com o boom das discusses sobre mudanas climticas, h um descolamento do debate sobre a crise climtica em relao crise ecolgica que se coloca no planeta hoje, a crise da biodiversidade, a crise dos ciclos, por exemplo do fsforo, de elementos naturais e outras crises e outros pontos de no retorno que a gente est avanando para super-los, que ficam margem dessa discusso, em que o foco est totalmente voltado para a questo climtica. Me parece que h essa especializao para o clima. As COPs na verdade no so conferncias para clima, so reunies das partes e existe a COP da biodiversidade que tem uma cobertura muito menor do que a COP para mudanas climticas. Ento me parece que tanto do ponto de vista do mercado, quanto do ponto de vista das discusses internacionais, dos pases, quanto do ponto de vista da sociedade, de ns tambm que estamos criando contedo, que estamos debatendo, que estamos fazendo a discusso pblica, uma hiperespecializao na discusso climtica em contraposio a uma crise ecolgica que muito mais ampla do que essa crise climtica. 92s39
Exatamente. A gente no pode perder de vista a dimenso sistmica da crise, porque veja s que importante: quando a gente descola esses assuntos, e o sistema ONU ele tem essa tendncia, j que os temas so muito vastos, muito difcil fazer o debate, ele tem a tendncia de resolver buscando especializaes. Ele est repetindo um padro de pensamento cartelstico, positivista, muito acadmico por um certo aspecto, que muito ruim. Isso mostra o quanto a ONU ouve pouco os movimentos sociais, como tem pouco dilogo social, como a gente precisa ampliar a participao social no sistema ONU. fundamental esse debate para mostrar a necessidade da reforma das Naes Unidas, no sentido de que ela inclua mais espaos de participao de escuta da sociedade para que haja de fato uma reverberao das demandas sociais e no apenas s de alguns segmentos.
Aqui a gente est falando de um problema que demonstra a necessidade de uma reforma do pensamento tambm. Isso j est h muito tempo sendo dito. Acho que eu me lembro aqui sempre do Edgar Morin como um grande expoente do pensamento complexo sistmico, o Fritjof Capra com a teia da vida, entre outros pensadores, que foram apontar a necessidade da gente ampliar nossas percepes sistmicas, fruto de muitas reflexes, muitos debates ao longo de dcadas e que vo mostrar por exemplo a dificuldade quando a gente segmenta, fragmenta e hiperespecializa, para usar uma expresso do prprio Edgar Morin. O risco da hiperespecializao, da cegueira da hiperespecializao, que ele escreve num livro chamado “O mtodo”, l no volume 2. Esse risco da hiperespecializao, essa cegueira que surge da hiperespecializao, no faz a gente entender as interseccionalidades. Ns estamos num momento de escutar pessoas e movimentos sociais que apontaram a necessidade dessa interseccionalidade: Llia Gonzalez, Sueli Carneiro, as nossas pesquisadoras que falaram da Amrica Latina, como fez Llia Gonzalez que apontaram para a necessidade de compreender a indissociabilidade do patriarcado com o racismo, com a discusso de raa, gnero e classe interligadas. As mulheres negras brasileiras so fundamentais para o pensamento universal, para a reflexo sobre o Brasil e uma das imensas contribuies delas a ideia de interseccionalidade. Isso vai reverberar o mundo afora com pensadoras como Patrcia Hill Collins e hoje a gente no pode falar de questo climtica sem entender estas interseccionalidades, estas distribuies desiguais do dano ambiental oriundo das mudanas climticas sobre diferentes populaes. Est a o racismo ambiental explcito, posto na nossa frente, que todos os momentos a gente v em tragdias ambientais, eventos climticos extremos ou crimes ambientais. A gente v como recai desproporcionalmente sobre a populao preta desse pas e da Amrica Latina, do sul global como um todo, sendo em outros lugares do sul global mais visvel tambm a distribuio desigual em grupos perifricos indgenas, pescadores, populaes tradicionais… Ento essa desigualdade distributiva do dano ambiental, como vai nos falar o professor Henri Acselrad, as discusses todas do professor Rogrio Haesbaert sobre como essas desigualdades vo ser apresentadas, como a violncia ambiental vai ser desigualmente distribuda entre os diferentes oprimidos ambientais, como a gente trabalha l no GEASur atravs do trabalho da professora Rafaela Uchoa com o professor Leonardo Castro e ns tambm. A gente vem vendo que fundamental falar destas desigualdades e a esto as interseccionalidades. A Carolina Oliveira, que fez doutorado conosco mostrando o impacto da as mulheres no fundo da Baa de Guanabara numa tese linda que chama-se “Cidades Mares e Mars – Educao ambiental de base comunitria no fundo da Baa de Guanabara” vai mostrar exatamente isso: As interseccionalidades nessas mulheres pretas perifricas, a desigualdade distributiva dos danos ambientais e a necessidade dessa percepo que sistmica, complexa e nem to difcil assim. Porque quando a gente usa a palavra complexo, a gente s vezes mistura com difcil e no necessariamente, porque a gente est mostrando que talvez seja melhor falar interseccionalidade para dizer que o que complexo. s vezes aquilo que relaciona as pessoas com as realidades sociais concretas, objetivas, ou seja, ns precisamos pensar na agenda oriunda da realidade social concreta, objetiva. Dali surgem os currculos, as prticas, as polticas e a ao necessria para transformar o mundo rumo a uma emancipao de fato. Ento, para mim, a chave nesse momento da complexidade do debate a interseccionalidade, tal como apontada pelas nossas pensadoras brasileiras como outras mundo afora.
Eu gostei da sua resposta. Me fez refletir sobre uma outra questo que essa interseccionalidade. Ela necessria justamente para fazer uma relao entre cultura e natureza, entre sociedade e natureza. No livro “O Bem Viver”, do Alberto Acosta, ele faz um panorama histrico dessa ruptura entre sociedade e natureza, a comear l com os filsofos pr-socrticos na tentativa de explicar os fenmenos da natureza a partir de regras gerais, depois aparece na Bblia a noo de dominai os peixes que nadam nas guas, os animais que rastejam em que caminho. Novamente aparece no sculo XV com o iluminismo, Francis Bacon e o pensamento cartesiano. Depois um novo aprofundamento durante a Guerra Fria, no sculo ado, em que os Estados Unidos apresentam o conceito de desenvolvimento como algo a ser buscado por todas as naes do globo. E como ao longo dessa histria o caminho sempre o de romper, e promover uma ciso entre sociedade e a natureza, nesse panorama histrico h um momento em que essa ruptura se apresenta de maneira mais explcita que o perodo colonial que se explora pessoas e a natureza em nome de uma de uma ideologia, de um pensamento e sobretudo, da acumulao de riquezas. Ento eu queria te fazer a pergunta: Qual o papel da educao ambiental para esse religamento, essa reaproximao, entre sociedade e natureza? a1q27
Nossa, muito bom, agora vieram outros nomes indispensveis para falar de interseccionalidade: A Kimberley Crenshaw, Bell Hooks, Carla Cotirene que tem esse trabalho tambm muito importante… So pensadoras que tm ajudado muito a gente a se conectar com a perspectiva das mulheres negras para pensar a interseccionalidade, mas tambm a interdisciplinaridade.
Esse debate me faz refletir sobre qual o nosso ponto de partida. Ainda pensando com elas, a gente tem, por exemplo, a discusso da nossa ancestralidade africana diasprica, onde voc tem os povos yorub fazendo ou produzindo ou existindo a partir de outras cosmopercepes. Como diria a filsofa nigeriana Yumi Yoronk, que a Cludia Miranda professora da Unirio, minha colega, minha professora mestra, uma grande leitora e tambm interlocutora, as perspectivas, as cosmopercepes – veja s que no s cosmoviso que tem outros sentidos envolvidos de povos africanos em dispora, so cosmopercepes que vo levar a uma outra forma de habitar o mundo, um habitar com a natureza – Essa forma de habitar com a natureza a gente vai encontrar tambm com os povos originrios desse pas. Isso est presente na obra do Ailton Krenak o tempo inteiro, Davi Kopenawa, da Eliane Potiguara, nossa querida escritora indgena, est na obra da incrvel artista plstica Yara Tucano, sou muito f, completamente apaixonado pela obra dela. Claro, do Jader Disbel, que deixou um legado gigantesco no impacto da arte dele falando disso, dessa necessidade de questionar, essa maneira de habitar o mundo. Que, como diria o Malcolm Ferdinand, nesse livro incrvel “Ecologia decolonial”: um habitar colonial, um habitar que repete o que eu chamo de monomundo, que o mundo da monocultura da soja, da cana do caf, do acar, mas tambm a monocultura das ideias Como diria a Vandana Shiva, monocultura da mente e das sementes, como ela diz no livro dela.
Ento, para mim o monomundo, esse mundo monoltico, monocromtico, monosttico monogmico, monotudo, onde voc tem a monocultura como princpio e como meta, cuja finalidade o enriquecimento de uns e no de outros, no fundo tem um supremacismo a dentro do monomundo: a monoacumulao. E no fundo para beneficiar alguns supremacistas como Elon Musk e esses bilionrios que agora a gente est vendo que so pessoas muito estragadas, muito adoecidas e assim perigosas mesmo porque so promotoras do monomundo. Ento a gente nesse monomundo tem uma monocultura muito perigosa de um povo, uma forma de habitar o mundo que contra a natureza. O Srgio Moscovici escreveu um livro muito bonito chamado “Sociedade contra a natureza”, onde ele tenta recuperar exatamente a origem psicossocial, a ecologia social dessa forma de estar com a natureza, que uma forma de ser contra a natureza.
Eu acho que nesse habitar colonial que o Malcolm Ferdinand denuncia tem uma dimenso muito importante para a gente refletir, que o fato de a gente construir a possibilidade de uma educao que nos faa romper com o monomundo, com esse habitar colonial, e a gente possa aprender com outros habitares ou outras formas de estar com a natureza, de ser sociedade com a natureza. Essa a aliana que eu proponho com povos originrios, com comunidades quilombolas, com comunidades tradicionais e muitas favelas tambm. A vida em comunidade revela muito isso, uma forma de estarmos uns com os outros em solidariedade. Eu aposto muito nisso, acho isso muito pedaggico. A gente aprende muito quando v experincias comunitrias como cozinhas comunitrias, creches comunitrias, biblioteca comunitria, lavanderia comunitria… Essas so formas de existir com os outros, outras comunidades e com a natureza tambm. muito importante isso.
Quais so os principais desafios para a educao ambiental hoje no Brasil? 5g332z
Nossa, so muitos. Acho que agora a gente tem que enfrentar o desmonte, tem que recuperar o monte, literalmente. Recuperar o monte significa retomar todos os nossos acmulos, significa disponibilizar todos os nossos acmulos que eles tentaram apagar, significa recuperar toda a nossa memria e fazer com que ela esteja viva. Significa fomentar uma conferncia nacional de educao ambiental, no apenas s de meio ambiente, mas uma conferncia nacional de educao ambiental, onde a gente possa juntar escolas, comunidades, juntar todo mundo para pensar a poltica pblica brasileira de educao ambiental e dar um exemplo para o mundo. A respeito disso, juntar empresas tambm com as boas prticas que algumas delas tm, no aceitar mais lavagem greenwashing, no aceitar mais o engodo do marketing ecolgico, no permitir mais que campanhas ocupem o lugar da educao. Uma coisa uma campanha, a outra a educao.
Exigir que a educao ambiental realmente seja na centralidade do debate sobre o brasil, que o BNDES tenha um setor de educao ambiental, de fomento de aes de educao ambiental, que a gente tenha a educao ambiental em todos os rgos de Estado: Na Polcia Federal, Na Polcia Rodoviria Federal… Outro dia eu falei isso, mas como assim? O pessoal que faz operao em favela pode ajudar a fazer agens para fauna em estradas? Por que a Polcia Rodoviria Federal no pode? Se j est to disponvel para trabalhar invadindo favela e cometendo atrocidades, asfixiando pessoas no camburo deles, por que no trabalhar de fato e ir para as estradas evitar atropelamento de animais silvestres? Criar corredores de fauna? Enfim, a gente quer que eles trabalhem em defesa da Amaznia Azul, que eles trabalhem combatendo o garimpo ilegal, combatendo os invasores de terras indgenas, combatendo fazendeiros gananciosos que tentam invadir as aldeias indgenas, inclusive as demarcadas, como esto tentando fazer com o povo Guarani Kaiow, que eu quero aproveitar para deixar a minha solidariedade, ajudando as aldeias Patax e Patax-rr do sul da Bahia hoje sob ameaa, ajudando o cacique Bab, os povos tupinamb contra seus agressores…
Ns estamos diante do colapso ambiental. A mudana climtica j est a, isso tem que ser feito para j. Eu no vejo mais outra alternativa. Inclusive o desafio maior agora fazer com que as pessoas percebam que tem que plantar, plantar, plantar, plantar imediatamente. A sua rua a pouco carro? quebra o asfalto e planta. A sua rua um estacionamento? Quebra o asfalto, planta! Onde puder fazer canteiro, planta. Todos os rios urbanos do brasil serem renaturalizados. “Ah, vai ser caro”, vai nada. A gente tem dinheiro. A gente gasta dinheiro pagando juros de banco, pagando juros para investidor estrangeiro. Vamos parar de dar esse dinheiro para isso e vamos cuidar da nossa sobrevivncia, vamos cuidar da nossa sade, vamos resolver aqui. E determinados rios urbanos so plenamente possveis de serem recuperados, uma questo de mudana da tica da gesto pblica. A gesto das bacias hidrogrficas na centralidade do debate de recuperao urbana, no sentido da recuperao ambiental, da recuperao da gua fundamental para a gente, para a nossa sobrevivncia.
Por ltimo, a tarefa pensar uma educao que leve a ao, por exemplo, de reflorestar todos os espaos possveis de serem florestas novamente. Tem um espao, tem um morro vazio como, por exemplo, a Serra dos Pretos Forros, que um territrio aqui no Rio de Janeiro de extrema relevncia para a histria. Ali vizinho tem uma outra comunidade, um bairro chamado gua Santa, do lado est Encantado. Reflorestar todo esse paredo da Serra dos Pretos Forros absolutamente fundamental.
Ento o desafio pensar uma educao ambiental que nos leve a essa ao ambiental, a essa transformao ambiental no sentido do reflorestamento no s dos morros, mas tambm das nossas ideias, reflorestamento da nossa comida, do nosso vestir, do nosso pensamento, do nosso jeito de existir. Reflorestar o nosso habitar no mundo, a maneira como a gente mora, reflorestar esses condomnios… Parece que essa lgica de mercado que os apartamentos novos so cada vez menores que logo a gente mora, essa lgica louca. Por que no floresta? Vamos viver em florestas, vamos florestar tambm o urbanismo, reflorestar a lgica de construir a cidade, reflorestar as cidades, renaturalizar os rios, reorganizar a nossa forma de existir no mundo no sentido de uma sociedade com a natureza e no contra a natureza. Essa, para mim, a tarefa de educao ambiental.
E para finalizar eu gostaria de te pedir algumas recomendaes. Voc j deu vrias recomendaes de leituras, de autores e autoras, e eu queria te perguntar recomendaes de filmes, sries, msicas. O que voc est vendo? O que voc est ouvindo"> 2n166w