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Brasil : Comando Conjunto Catrimani II destri dragas utilizadas no garimpo ilegal em Terra Indgena Yanomami
Enviado por alexandre em 11/03/2025 00:35:52


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Ao utilizou TNT para explodir as estruturas usadas no garimpo ilegal

Boa Vista (RR) – No dia 6 de maro, o Comando Conjunto Catrimani II, em coordenao com a Casa de Governo, conduziu uma operao com o objetivo de desarticular estruturas vinculadas ao garimpo ilegal na Terra Indgena Yanomami.

A ao foi integrada por militares do Exrcito, que foram transportados pela aeronave H-60 Black Hawk, da Fora Area Brasileira (FAB). As equipes partiram de Boa Vista em direo a locais onde foram identificadas dragas usadas pelo garimpo ilegal.

Aps o deslocamento areo, os militares desembarcaram e iniciaram o vasculhamento da regio para encontrar trilhas de o s dragas. Foram localizados um motor, uma antena de internet via satlite, uma bateria de caminho, um solar e equipamento de mergulho.

Ao chegar s dragas, foram empregados 50 quilos de explosivos para a destruio de cada uma e mais seis quilos no motor encontrado. Em seguida, os militares se deslocaram para uma rea de segurana e executaram as detonaes.

COMANDO CONJUNTO CATRIMANI II

A “Catrimani II” definida como uma ao de emprego temporrio e episdico de meios das Foras Armadas, em apoio s aes governamentais na TIY. Sua renovao cumpre a Portaria GM-MD N 5.831, de 20 de dezembro de 2024, que alterou a Portaria n 1.511, de 26 de maro de 2024 (publicao que dava incio misso).

Brasil : Moradores que vivem ao longo da rodovia apoiam projeto na esperana de ter mais o a mdicos, enquanto que cientistas ampliam pesquisas que alertam para aumento na disseminao de doenas infecciosas em razo do desmatamento.
Enviado por alexandre em 11/03/2025 00:31:13

Igap-Au uma comunidade no interior do Amazonas onde vivem 75 famlias beira da rodovia BR-319, uma das regies com maior biodiversidade na Amaznia. Ali, eles esto a duas horas de carro do mdico mais prximo, mas a poucos os da estrada que caso seja asfaltada pode desencadear uma srie de doenas infecciosas em razo do desmatamento.

A InfoAmazonia visitou a regio em dezembro do ano ado com pesquisadores e profissionais de sade da Fundao Oswaldo Cruz (Fiocruz) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A viagem foi parte de um projeto de longo prazo no qual as duas instituies investigam a presena de doenas infecciosas e tambm oferecem atendimentos mdicos s pessoas que vivem ao longo da BR-319. A rodovia conecta Manaus, capital do Amazonas, a Porto Velho, capital de Rondnia.

O debate de dcadas sobre a recuperao e pavimentao da BR-319 se concentra em grande parte nas consequncias econmicas e ambientais. No entanto, durante cinco dias em Igap-Au, a InfoAmazonia registrou como o conflito entre o desenvolvimento e a preservao tambm tem impactos na sade pblica da populao que margeia a rodovia.

Para as comunidades ao longo da BR-319, onde o saneamento bsico inadequado, o o gua potvel limitado e hospitais so distantes, ter a rodovia pavimentada poderia melhorar o o a servios de sade pblica. Por outro lado, povos indgenas no entorno dizem que a estrada tem causado desmatamento e poluio perto dos territrios, o que impacta na sade das comunidades.

A pavimentao da rodovia tambm pode causar o aumento de doenas infecciosas e at novas pandemias, conforme um alerta divulgado em fevereiro do ano ado em uma pesquisa liderada pelo cientista da Universidade de So Paulo (USP) e da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), e doutor em biologia, Lucas Ferrante.

A rea ao redor da rodovia abriga inmeros patgenos

Patgenos so microrganismos ou agentes biolgicos que causam doenas em organismos vivos. Eles podem ser bactrias, vrus, fungos, protozorios ou parasitas
ainda desconhecidos pela cincia. Caso a pavimentao impacte o desmatamento na regio, pesquisadores afirmam que os microrganismos podem aumentar sua capacidade de multiplicao entre as espcies, enquanto a populao de mosquitos e outros vetores de doenas pode crescer. O desenvolvimento da rea tambm colocaria as pessoas em contato com novas doenas.

“Nossos monitoramentos indicam a presena de patgenos com alta capacidade de transmisso nesta rea. A regio abriga uma diversidade de vrus, fungos e bactrias ainda desconhecidos, muitos dos quais possuem um elevado potencial infeccioso”, alertou Ferrante, acrescentou que esses indcios sugerem “um aumento na transmisso de patgenos de contato, impulsionado pela maior mobilidade proporcionada pela rodovia”.

Nossos monitoramentos indicam a presena de patgenos com alta capacidade de transmisso nesta rea. A regio abriga uma diversidade de vrus, fungos e bactrias ainda desconhecidos, muitos dos quais possuem um elevado potencial infeccioso.

Lucas Ferrante, cientista que estuda os impactos da pavimentao da BR-319
Casas na comunidade Igap-Au, onde moradores vivem sem assistncia de sade (Foto: Nicholas Miller/InfoAmazonia)

Professor de gentica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul que estuda como a ruptura ambiental na Amaznia influencia as doenas infecciosas, Joel Henrique Ellwanger concorda com Ferrante. “As rodovias na Amaznia so sabidamente vetores do desmatamento e perda da biodiversidade”, disse.

Ellwanger destacou que as perdas ambientais so fatores que “contribuem para que novos patgenos atinjam as populaes humanas, com risco de surgimento de novas pandemias, levando a perdas econmicas astronmicas e custos em termos de vidas humanas”.

Vrios presidentes brasileiros declararam inteno de pavimentar a BR-319. No entanto, at hoje, os trechos asfaltados so os que ficam nas extremidades, perto de Manaus e de Porto Velho. Uma licena prvia para as obras na rodovia chegou a ser emitida em 2022, na gesto do ex-presidente Jair Bolsonaro. A medida foi parar na Justia, chegou a ser cancelada, mas voltou a valer em outubro de 2024 aps deciso do Tribunal Regional Federal da 1 Regio. Mas, ainda assim, o destino da rodovia est longe de ser decidido.

Uma comunidade vivendo da estrada 273h38

Inaugurada em 1976, a BR-319 foi um componente-chave do plano da ditadura militar para colonizar a Amaznia. Inicialmente, a rodovia foi construda de asfalto, o que estimulou a chegada de pessoas de fora na regio. Mas, uma dcada aps a abertura, a estrada caiu em desuso. Quase 40 anos depois, em 2015, voltou a ser usada.

Balsa faz a travessia de carros no rio Igap-Ao, na BR-319 (Foto: Nicholas Miller/InfoAmazonia)

A rodovia tem uma extenso de ao menos 900 km. O trecho mais crtico, conhecido como “trecho do meio”, tem aproximadamente 400 km que, em perodos chuvosos, torna-se quase intransitvel.

A vida dos moradores de Igap-Au indissocivel do debate sobre a BR-319. L, as casas construdas de tbuas de madeira e palafitas ficam todas de frente para a estrada. Algumas funcionam como ponto de apoio para motoristas de caminhes que am pela regio com fome e cansados, enquanto a maioria dos empregos so de uma balsa lenta que transporta carros pelo estreito rio que d nome comunidade.

Uma das lderes da comunidade, Nilda Castro dos Santos, conhecida como Dona Mocinha, vive em Igap-Au desde 1980. Ela conta que no auge da rodovia, a regio chegou a ter 100 famlias. Mas, depois que a estrada foi fechada, a famlia dela foi uma das cinco que permaneceram. “Foi muito sofrido”, disse. “Foram 20 anos de sofrimento.”

Joo Joventino Cordeiro mora prximo a Igap-Au e conta sobre as dificuldades de viver na regio (Foto: Nicholas Miller/InfoAmazonia)

Joo Joventino Cordeiro, que chegou em uma comunidade perto de Igap-Au antes mesmo de Dona Mocinha, vivenciou uma desolao semelhante quando a estrada fechou. “aram 30 anos sem ar um carro”, disse ele, acrescentando que chegar a um mdico era praticamente impossvel: “S Deus cuidava de ns.”

Depois que a rodovia foi reaberta em 2015, as pessoas voltaram para comunidades como Igap-Au. Atualmente a regio recebe um fluxo consistente de caminhoneiros, viajantes e grupos de motociclistas aventureiros. A realidade de hoje ainda est muito menos movimentada do que quando tinha asfalto, dizem os moradores.

Nas comunidades ao longo da rodovia h poucos empregos, a atividade econmica escassa e a maioria dos servios est a centenas de quilmetros, como a capital Manaus, distante cerca de 270 km. Em Igap-Au, o hospital mais prximo fica na cidade de Careiro Castanho, a 150 km de estrada no pavimentada.

Morador da regio h quase 50 anos, Antnio do Boto, conhecido como “Seu Botinho”, resume como a situao na localidade quando alguma pessoa adoece:

“No tem uma ambulncia para levar. Pode perder a vida porque no tem uma conduo.”

No tem uma ambulncia para levar. Pode perder a vida porque no tem uma conduo.

Antnio do Boto, morador de Igap-Au h 50 anos
Antnio do Boto, o ‘Seu Botinho’, mora h 50 anos de Igap-Au, onde trabalha na preservao de tartarugas (Foto: Nicholas Miller/InfoAmazonia)

Ele trabalha com um projeto para restaurar as populaes de tartarugas da regio. Embora acredite na melhoria para a sade local, tambm frisa a preocupao com os impactos ambientais relacionados ao desmatamento caso ocorra as obras de recuperao da rodovia.

“As caas, animais, os pssaros que vivem dentro da floresta comeam a se afastar. E voc no v mais um pssaro, voc no v mais um animal mais prximo”, pontuou.

A assistncia mdica uma das muitas coisas que as pessoas de Igap-Au esperam se torne mais vel caso ocorra a pavimentao da rodovia. Para eles, a obra reduziria o tempo de durao da viagem, enquanto que o aumento da frequncia de transportes como nibus poderia fornecer uma viagem mais confivel at Careiro.

O cientista Lucas Ferrante acredita que uma soluo melhor para os problemas de falta de o sade dos moradores seria redirecionar os bilhes de reais necessrios para a pavimentao da rodovia, investindo, em vez disso, na oferta de cuidados de sade adequados para quem vive na regio.

“Se a gente pegasse os recursos da pavimentao e alocasse para a sade e educao nos municpios, resolveramos o problema dos municpios”, pontuou.

Se a gente pegasse os recursos da pavimentao e alocasse para a sade e educao nos municpios, resolveramos o problema dos municpios.

Lucas Ferrante, cientista que estuda os impactos da pavimentao da BR-319

Impacto s terras indgenas 938d

O impacto das obras na BR-319 chegar a 68 terras indgenas, conforme um estudo realizado por Ferrante em 2020. Alm disso, um levantamento exclusivo da InfoAmazonia revelou que a abertura de ramais ao longo da rodovia atingiria 38 unidades de conservao. Um desses territrios o do povo Mura, no municpio Manicor.

A menos de 40 km da rodovia, o povo indgena tem registrado com mais frequncia casos de diarreia e doenas respiratrias, afirma Adamor Leite, uma das lideranas da regio.

Trecho da BR-319, na Amaznia (Carolle Alarcon/Cedida/OBR-319)

Leite afirma que os problemas tm sido causados por agricultores e caadores que entram na regio por meio da estrada. Essas pessoas, segundo ele, poluem rios, destroem as fontes de alimentos e remdios, e contribuem para espalhar organismos causadores de doenas.

“Aumentou essa questo da infeco respiratria, da gripe e da virose”, disse Leite, acrescentando que o desmatamento destri “as plantas medicinais que so usadas em tratamento de algumas doenas”.

O lder indgena tambm acredita que com a pavimentao da rodovia, o territrio corre o risco de sofrer invases com as aberturas de mais ramais, que so estradas abertas a partir de uma via principal — neste caso, a BR-319.

“Se [a estrada] for pavimentada, [o desmatamento] aumenta e isso pode causar um dano pior”, frisou o lder indgena.

Indgenas do povo Juma tambm relatam preocupao com a presena de pessoas de fora prximo ao territrio, situao que se agravaria numa eventual reconstruo na BR-319. O territrio deles fica no municpio de Lbrea, na regio do rio Au, no sul do Amazonas, prximo rodovia.

“A gente percebeu que os no-indgenas vm caar dentro do nosso territrio, que era para ter a nossa alimentao”, afirma Kunhave Juma, presidente da Associao do Povo Juma.

Pesquisadores avaliam que o governo federal no tem dinheiro ou estrutura suficiente para fiscalizar efetivamente a rea, incluindo os territrios indgenas.

Desmatamento e crise climtica 453o5h

Um estudo da Universidade Federal de Minas Gerais, publicado em 2020, apontou que a pavimentao da BR-319 poderia quadruplicar as taxas de desmatamento e as emisses de carbono no entorno, o que impediria o pas de alcanar as metas de reduo de emisses de carbono com as quais se comprometeu no Acordo de Paris.

Outro reflexo seria no cenrio climtico da Amaznia em que as ondas de calor em Manaus tornariam a cidade quase inabitvel, conforme estima Lucas Ferrante.

Para se ter ideia do impacto que a pavimentao da rodovia pode causar, at os anncios governo de fazer obras na rodovia levaram a um aumento no desmatamento. Entre 2020, quando Bolsonaro disse que o asfaltamento seria prioridade, e 2022, o desmatamento no entorno da BR-319 subiu 122%, segundo o Observatrio do Clima. A estrada soma 6.500 quilmetros de ramais ilegais no entorno, seis vezes a extenso da rodovia original, segundo pesquisa de Ferrante.

Mas, alm do colapso da biodiversidade e do aumento das emisses de carbono, a degradao ambiental histrica da BR-319 poderia ser acelerada pela nova pavimentao e causar impactos transformadores na sade pblica para quem vive na regio.

‘O bom e o ruim’ 104f5y

Durante a visita em dezembro a Igap-Au, as implicaes da pavimentao BR-319 para a sade pblica ficaram ainda mais aparentes.

Entre os moradores atendidos pela equipe da Fiocruz e Unicamp, havia uma jovem me foi diagnosticada com nveis preocupantes de glicemia. Na mesma regio, um homem perdeu trs porcos para a raiva e no conseguiu que alguma equipe de sade vacinasse sua esposa ou seu filho – um reflexo da falta de sade pblica para quem vive no entorno da BR-319.

Dona Mocinha vive em Igap-Au, na margem da BR-319, desde 1980 (Foto: Nicholas Miller/InfoAmazonia)

Cerca de um ano atrs, Dona Mocinha adoeceu com uma “doena misteriosa”. “Fiquei mais de uma semana de cama com febre, frio, com muita dor no corpo. E no sabia o que fazer”, disse.

Com a visita dos pesquisadores da Fiocruz, Dona Mocinha fez um teste e o diagnstico foi o de febre Oropouche, doena que tem tem sintomas semelhantes aos da dengue, transmitida principalmente por um mosquito conhecido popularmente como maruim ou meruim.

“Falaram para mim o que eu senti foi de picada de maruim que me deu aquele mal-estar, aquela febre”, relembrou.

Em 2024, pesquisadores da Fiocruz identificaram uma nova cepa da Oropouche que se originou na Amaznia e teve maior incidncia da na regio da AMACRO

Regio de 45 milhes de hectares na divisa entre Amazonas, Acre e Rondnia, criada a partir de um projeto idealizado para incentivar o agronegcio como modelo de desenvolvimento
, conhecida como “fronteira do desmatamento”.

Dona Mocinha, que apoia a pavimentao da rodovia pelos benefcios econmicos que traria comunidade, expressou preocupao com os impactos negativos da rodovia, seja o aumento da destruio ambiental, crime ou doena.

“Com o desenvolvimento da estrada, vem de tudo. O bom e o ruim”, disse ela, acrescentando: “No meio do bom aparecem as coisas ruins tambm, at a doena”, refletiu.

Marcado:
Brasil : Em carta, presidente da COP-30 pede mutiro mundial contra o aquecimento global
Enviado por alexandre em 11/03/2025 00:30:23


COP-30 ser realizada em Belm. Foto: reproduo

O embaixador Andr Aranha Corra do Lago, presidente da COP-30 e secretrio de Clima, Energia e Meio Ambiente do Itamaraty, fez um apelo mundial nesta segunda-feira (10) para a formao de um “mutiro” na luta contra o aquecimento global. Em carta inaugural da Presidncia da COP-30, ele destacou a importncia de unir esforos globais para enfrentar a crise climtica.

Pela primeira vez, a conferncia climtica ser realizada na Amaznia, em Belm, reforando o papel do Brasil como protagonista nas discusses ambientais.

O governo de Luiz Incio Lula da Silva (PT) planeja convocar pelo menos duas reunies de lderes nas Naes Unidas para avaliar os compromissos voluntrios de cortes de emisses de gases de efeito estufa, conhecidos como NDCs (Contribuies Nacionalmente Determinadas).

O embaixador Andr Corra do Lago presidir a COP 30. Foto: reproduo

O secretrio-geral da ONU, Antnio Guterres, est “extremamente comprometido” com a causa e deve anunciar em breve encontros com lderes das maiores economias. A primeira discusso ser virtual, nos prximos meses, e a segunda ocorrer em setembro, durante a Assembleia Geral da ONU em Nova York.

“Existe um entendimento entre o secretrio-geral da ONU e o presidente Lula de trabalharem juntos para acentuar a importncia de NDCs ambiciosas”, afirmou Corra do Lago na carta.Conhea a ntegra do documento:

Repblica Federativa do Brasil

Presidente designado da COP30

Maro de 2025

Ao entrar no segundo quarto do sculo XXI, a comunidade internacional deve refletir sobre os valores humanos compartilhados que nos mantm unidos: paz e prosperidade, esperana e renovao, considerao e gratido, unidade e conexo, resilincia e otimismo, generosidade e bondade, diversidade e incluso. Esses valores realam nosso esprito coletivo em um sculo que testar a capacidade de adaptao e inovao de nossa espcie na construo de um futuro comum.

O Brasil sediar e presidir a 30 Conferncia das Partes (COP30) da Conveno Quadro das Naes Unidas sobre Mudana do Clima (UNFCCC) em novembro de 2025, tendo como pano de fundo vrios marcos histricos: a COP30 marcar 20 anos da entrada em vigor do Protocolo de Quioto e 10 anos da adoo do Acordo de Paris. Muito foi aprendido ao longo das trs dcadas de nosso regime multilateral. Entre conquistas e imes, a UNFCCC tem sido um espelho das maiores qualidades e limitaes da humanidade, mostrando como nossas sociedades, economias e polticas deveriam funcionar – e como elas funcionam na prtica.

Sinto-me muito honrado por ter sido nomeado pelo Presidente Luiz Incio Lula da Silva como Presidente-Designado da COP30. Como negociador de longa data em mudana do clima, assumo com humildade essa imensa responsabilidade e estou determinado a servir o processo rumo COP30 e alm, na linha de nossos valores humanos compartilhados e da misso de consolidar nosso legado comum, ao mesmo tempo que buscamos a inovao necessria para responder crise climtica.

Cooperao entre os povos para o progresso da humanidade

Em 1988, ns, as Naes Unidas, identificamos pela primeira vez a mudana do clima como uma “preocupao comum para a humanidade” e decidimos criar o Intergovernamental sobre Mudana do Clima (IPCC). Quatro anos depois, nossos lderes ouviram os alertas cientficos e se reuniram no Rio de Janeiro, com o objetivo final de evitar interferncias antrpicas perigosas no sistema climtico. Na Conferncia das Naes Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento de 1992, a “Cpula da Terra”, ou Rio92, os lderes mundiais am a UNFCCC, definindo os princpios e os cinco pilares da resposta multilateral mudana do clima: mitigao, adaptao, financiamento, tecnologia e capacitao.

Similarmente ao papel da UNFCCC na inaugurao da governana climtica multilateral, a Constituio Federal do Brasil, adotada naquele mesmo ano de 1988, consagrou os objetivos fundamentais da Repblica brasileira: construir uma sociedade livre, justa e solidria; garantir o desenvolvimento nacional; erradicar a pobreza e a marginalizao e reduzir as desigualdades sociais e regionais; e promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raa, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminao. A Constituio do Brasil tambm exige ao pas reger-se em suas relaes internacionais por princpios que incluem a “cooperao entre os povos para o progresso da humanidade”. Esse princpio fundamental guiar a presidncia da COP30 – no porque a diplomacia brasileira est constitucionalmente vinculada, mas tambm porque tem a firme convico de que no h progresso futuro para a humanidade sem uma cooperao profunda, rpida e duradoura entre nossos povos.

COP30 no epicentro da crise climtica

Entramos em 2025 com a confirmao de que 2024 foi o ano mais quente j registrado globalmente e o primeiro em que a temperatura mdia global ultraou 1,5C acima de nveis pr-industriais. Logo em seguida, janeiro de 2025 marcou o ms mais quente j registrado. Com base em trabalhos anteriores sobre riscos fsicos, transicionais e legais relacionados ao clima, o Conselho de Estabilidade Financeira – a organizao internacional que monitora e recomenda polticas para o sistema financeiro global – informou em janeiro ado que os choques climticos podem ameaar a estabilidade financeira do mundo. A COP30 ser, portanto, a primeira a ocorrer indiscutivelmente no epicentro da crise climtica e a primeira a ser sediada na Amaznia, um dos ecossistemas mais vitais do planeta e que, de acordo com os cientistas, agora corre o risco de ponto de inflexo irreversvel.

H muito tempo conhecemos a escala e a gravidade da mudana do clima e seus crescentes impactos. Afirmamos e reafirmamos que o aquecimento global uma ameaa existencial humanidade. Temos conhecimento cientfico sobre o assunto h mais de 35 anos, consolidado desde o primeiro relatrio de avaliao do IPCC, de 1990.

Agora, no apenas ouvimos falar dos riscos climticos, mas tambm vivemos a urgncia climtica. A mudana do clima no est mais contida na cincia e no direito internacional. Ela chegou nossa porta, atingindo nossos ecossistemas, cidades e vidas cotidianas. Da Sibria Amaznia, de Porto Alegre a Los Angeles, ela agora afeta nossas famlias, a sade, o custo de vida e nossas rotinas de educao, trabalho e entretenimento. Imagens de desastres climticos e sofrimento humano invadem nossa sala de estar, exibidas na TV e nas mdias sociais, medida que entramos rapidamente em uma zona perigosa na qual os ricos dos pases desenvolvidos e em desenvolvimento se isolam atrs de muros resilientes ao clima. Enquanto isso, os pobres, tanto nos pases em desenvolvimento como nos desenvolvidos, sofrem cada vez mais. Inevitavelmente, os eventos climticos extremos – e os possveis pontos de inflexo climtica – afetaro cada vez mais todos os pases, todas as comunidades e todos os indivduos, sobretudo os mais vulnerveis.

Um chamado global contra a mudana do clima

Enquanto atravessamos o luto de perdas humanas e materiais, 2025 tem de ser o ano em que canalizaremos nossa indignao e tristeza para uma ao coletiva construtiva. A mudana inevitvel – seja por escolha ou por catstrofe. Se o aquecimento global no for controlado, a mudana nos ser imposta, ao desestruturar nossas sociedades, economias e famlias. Se, em vez disso, optarmos por nos organizar em uma ao coletiva, teremos a possibilidade de reescrever um futuro diferente. Mudar pela escolha nos d a chance de um futuro que no ditado pela tragdia, mas sim pela resilincia e pela agncia em direo a uma viso que ns mesmos projetamos.

Ao aceitar a realidade e combater a catstrofe, o cinismo e o negacionismo, a COP30 deve ser o momento da esperana e das possibilidades por meio da ao – jamais da paralisia e da fragmentao. Devemos enfrentar a mudana do clima juntos e reativar nossas habilidades coletivas e individuais de resposta: nossas “responsa-habilidades”.

A cultura brasileira herdou dos povos indgenas nativos do Brasil o conceito de “mutiro” (“Motir” em tupi-guarani), que se refere a uma comunidade que se rene para trabalhar em uma tarefa compartilhada, seja colhendo, construindo ou apoiando uns aos outros. Ao compartilhar essa inestimvel sabedoria ancestral e tecnologia social, a presidncia da COP30 convida a comunidade internacional a se juntar ao Brasil em um mutiro global contra a mudana do clima, um esforo global de cooperao entre os povos para o progresso da humanidade.

Juntos, podemos fazer da COP30 o pontap inicial de uma nova dcada de inflexo na luta climtica global. Como nao do futebol, o Brasil acredita que podemos vencer “de virada”. Isso significa lutar para virar o jogo quando a derrota parece quase certa. Juntos, podemos fazer da COP30 o momento em que viramos o jogo, quando colocamos em prtica nossas conquistas polticas e nosso conhecimento coletivo sobre o clima para mudar o curso da prxima dcada. A COP30 pode ser a COP em que alinharemos esforos em todo o mundo: dos governos nacionais aos municipais, dos mercados de capitais internacionais s pequenas lojas de bairro, dos principais agentes tecnolgicos aos inovadores locais, dos conhecimentos acadmicos aos tradicionais.

Convocando as Naes Unidas em nova aliana contra um inimigo em comum: a mudana do clima

Ao recuperarmos nossas capacidades de resposta, devemos nos inspirar em vitrias histricas na superao de ameaas existenciais adas. 2025 tambm o ano em que a comunidade internacional se recorda de que representa o legado da aliana que, h oito dcadas, decidiu deixar as diferenas para trs para se unir contra um inimigo comum, a sombra da guerra. Este ano marca o 80 aniversrio do fim da Segunda Guerra Mundial e de nossa aliana na criao das Naes Unidas. A filsofa germano americana Hannah Arendt denunciou a “banalidade do mal” como a aceitao do que era inaceitvel. Agora, estamos enfrentando a “banalidade da inao”, uma inao irresponsvel e tambm inaceitvel.

Nesta dcada crtica, o Brasil convoca novamente nossa aliana de povos para, mais uma vez, deixarmos nossas diferenas de lado e nos unirmos para vencer o inimigo comum: a mudana do clima. Desta vez, contaremos com bases slidas que nos levaro vitria. A cincia confirma que temos os recursos para combater a mudana do clima. Entre eles, a tecnologia agora avana as fronteiras da vida e de redes digitais capazes de conectar, alavancar e distribuir recursos por meio de fluxos sem precedentes em velocidade e escala. Embora marcada pela desigualdade e vulnervel aos riscos climticos, nossa arquitetura financeira conta com sofisticao adquirida em crises anteriores, podendo ser reformada e aprimorada. A COP30 pode ser o momento em que alinharemos os fluxos financeiros internacionais e integraremos as transies digital e climtica em uma nica nova revoluo industrial que seja consciente em relao ao clima.

Alavancas: grandes mentes, ousadia e solidariedade alicerada no trabalho

A lderes e partes interessadas alm da UNFCCC – em finanas, governos subnacionais, setor privado, sociedade civil, academia e tecnologia – a prxima presidncia da COP30 os convida a participar do nosso “mutiro” global. A humanidade precisa de vocs.

O matemtico e fsico da Grcia Antiga Arquimedes disse: “D-me uma alavanca suficientemente longa e um ponto de apoio para coloc-la, e eu moverei o mundo”. Lderes e partes interessadas de todos os setores da sociedade, dem-nos alavancas longas o suficiente, e a COP30 servir como ponto de e para apoi-las. Juntos, moveremos o mundo em direo a transies para economias de baixo carbono e resilientes ao clima.

Aos nossos pensadores, lderes espirituais, artistas e filsofos, pedimos que nos ajudem a transcender mentalidades ultraadas, preservando valores compartilhados e inovando em direo a um renascimento planetrio. A humanidade precisa regenerar seu relacionamento consigo mesma e com a natureza qual pertence.

A lderes locais, pequenas empresas, pais, indivduos e profissionais de sade, educao e segurana pblica, precisamos que vocs regenerem nossas comunidades como fortalezas de pertencimento, cooperao e propsito. Nossa famlia humana ser to resiliente quanto nossas comunidades e bairros forem coesos e fortes. Ao aprimorar os valores da cidadania, precisamos oferecer aos nossos filhos viso, modelos exemplares e orientao para demonstrar que o grau de respeito mtuo e ao meio ambiente o grau de respeito a ns mesmos.

Enquanto nos preparamos para a COP30, a presidncia recrutar agentes entre as partes interessadas no estatais para se associarem como “alavancas”, ajudando a aplicar solues em “pontos de alta alavancagem”, onde pequenas mudanas podem resultar em grandes impactos no comportamento de sistemas complexos. Os incentivos que representam as regras e os limites de nossos sistemas podem se tornar fortes pontos de alavancagem para transies climticas justas, rpidas e abrangentes.

O reconhecimento da necessidade de agir o mais rpido possvel para enfrentar a urgncia da mudana do clima deve inspirar novas atitudes. Devemos reconhecer que questes consideradas “problemas” podem emergir como importantes “solues”. Podemos reverter a percepo do papel de alguns agentes, setores, tecnologias e prticas que evoluram e que, por j estarem prontos, podem oferecer contribuies importantes.

Quando nos reunirmos na Amaznia brasileira em novembro, devemos ouvir atentamente a cincia mais avanada e reavaliar o papel extraordinrio j desempenhado pelas florestas e pelas pessoas que as preservam e delas dependem. As florestas podem nos fazer ganhar tempo na ao climtica durante uma janela de oportunidade que se est fechando rapidamente. Se revertermos o desmatamento e recuperarmos o que foi perdido, poderemos ativar remoes macias de gases de efeito estufa da atmosfera e, ao mesmo tempo, trazer ecossistemas de volta vida. Ecossistemas mais saudveis tambm podem oferecer oportunidades para resilincia e bioeconomia, promovendo meios de subsistncia locais, criando cadeias de valor sofisticadas e gerando inovaes em biotecnologia. O aproveitamento desse potencial extraordinrio exige maior apoio e investimento global, inclusive por meio de recursos financeiros, transferncia de tecnologia e capacitao.

Alavancas: as partes interessadas dentro da UNFCCC

Aos lderes e partes interessadas nas negociaes da UNFCCC: a COP30 deve representar uma transio decisiva da fase de negociao do regime, que j conseguiu posicionar o clima no centro dos debates econmicos, sociais e polticos do mundo. Houve um progresso coletivo significativo em direo ao objetivo de temperatura do Acordo de Paris, de um aquecimento global esperado de 4C, de acordo com algumas projees anteriores adoo do Acordo, para um aumento na faixa de 2,1-2,8C com a implementao integral das ltimas contribuies nacionalmente determinadas (NDCs).

O Acordo de Paris est funcionando, mas h muito mais a ser feito.

Aos negociadores do clima: medida que continuamos a reforar o regime, relevante fazer uma autocrtica e responder por meio de aes a grande parte da percepo externa de que as negociaes se arrastam por mais de trs dcadas com poucos resultados efetivos. Em vista da urgncia climtica, precisamos de uma “nova era” para alm das negociaes: devemos ajudar a colocar em prtica o que foi acordado. Devemos puxar de forma decisiva as alavancas de nossos processos, mecanismos e rgos para alinhar os esforos dentro e fora da UNFCCC aos objetivos de longo prazo do Acordo de Paris relativos a temperatura, resilincia e fluxos financeiros.

Aos formuladores de polticas nacionais e lderes polticos: os governos tm a capacidade de resposta para puxar as alavancas da ao climtica e da ambio em suas prximas NDCs. De maneira integrada, nossas NDCs devem se alinhar aos objetivos de temperatura do Acordo de Paris. Os lderes nacionais devem honrar sua determinao para limitar o aumento da temperatura global a 1,5C. Vidas humanas dependem disso, empregos futuros dependem disso, ambientes saudveis dependem disso.

H uma grande expectativa em relao ao balano das NDCs na COP30. Como todos sabemos, as NDCs so determinadas nacionalmente e, portanto, no esto sujeitas a negociaes multilaterais. No entanto, estimularemos uma reflexo franca e coletiva sobre os gargalos que tm dificultado a ambio e a implementao em mudana do clima.

No futuro, seremos julgados por nossa disposio de responder com firmeza crescente crise climtica. A falta de ambio ser julgada como falta de liderana, pois no haver liderana global no sculo XXI que no seja definida pela liderana climtica. Podemos estar do lado certo da histria, transformando as NDCs em plataformas para um futuro prspero que consagre a determinao nacional de contribuir e transformar. No perodo que antecede a COP30, precisamos de NDCs ambiciosas, que privilegiem a qualidade como cumprimento das obrigaes legais do Acordo de Paris.

Ao ajudarmos uns aos outros em transies que sejam justas, nossas responsabilidades comuns, porm diferenciadas, serviro como fortes alavancas para a disposio dos pases em contribuir para a luta climtica. Nosso ponto de apoio: cooperao internacional para fortalecer as respectivas capacidades e instituies em todos os pases. Ao reconhecermos que somos todos interdependentes na luta contra a mudana do clima, devemos reconhecer que a comunidade internacional to forte quanto seu elo mais fraco.

A COP30 servir como ponto de apoio para alavancas longas, dentro e fora da UNFCCC, porque nosso regime climtico multilateral forte, resiliente e cheio de recursos. O multilateralismo climtico conta com a sabedoria e as conquistas de cada uma das ltimas 29 COPs. Apoiando-se nos ombros de nossos predecessores, a presidncia da COP30 sente-se humilde diante dos legados das COPs 21 a 29, legados que devemos preservar e expandir.

Defendendo o multilateralismo: preservao e expanso de nosso legado coletivo

Com o apoio de todo o Sistema das Naes Unidas, conforme determinado pelo Secretrio-Geral, Antnio Guterres, nossas instituies multilaterais podem e vo apresentar resultados proporcionais escala do desafio climtico.

Desde que o Brasil recebeu a confiana da Amrica Latina e do Caribe como anfitrio da COP da nossa regio, o caminho para a COP30 foi pavimentado com sucesso pelas presidncias da COP28 e COP29 dos Emirados rabes Unidos e do Azerbaijo, respectivamente – nossos parceiros da “troika” no Mapa do Caminho para a Misso 1.5. Em 2023, sob a liderana dos Emirados em Dubai, adotamos o Consenso dos EAU, que incluiu avano no fundo de perdas e danos, seguindo a liderana egpcia da COP27, e concluso do primeiro Balano Global do Acordo de Paris (GST, na sigla em ingls). Sem precedentes, o GST lanou chamado global para esforos no sentido de interromper e reverter o desmatamento e a degradao florestal at 2030 e acelerar a transio energtica global, inclusive triplicando a capacidade de energia renovvel globalmente, dobrando a taxa mdia anual global de melhoria na eficincia energtica e afastando-se gradualmente dos combustveis fsseis nos sistemas de energia, de maneira justa, ordenada e equitativa.

Baseado na equidade e na cincia, o GST j unanimemente a referncia que informa a cooperao internacional e as Partes no aprimoramento de suas aes e apoio. O GST o nosso guia para a Misso 1.5, como nosso projeto coletivo para implementar a viso da Conveno e do Acordo de Paris, a viso de fortalecer a resposta global ameaa da mudana do clima, no contexto do desenvolvimento sustentvel e dos esforos para erradicao da pobreza.

Tendo a COP28 como ponto de partida e, depois, sob a liderana azerbaijana da COP29, finalmente conclumos em 2024 o “Livro de Regras” de Paris, finalizando as regras do Artigo 6. Alm disso, adotamos o “Pacto de Unidade Climtica de Baku”, que inclui deciso fundamental sobre o novo objetivo coletivo quantificado de financiamento climtico (NCQG, na sigla em ingls). A presidncia da COP30 espera trabalhar com a presidncia da COP29 na liderana do “Mapa do Caminho de Baku a Belm para 1,3T” para aumentar o financiamento climtico para pases em desenvolvimento. Juntos, produziremos um relatrio resumindo nosso trabalho at a COP30. O “Mapa do Caminho de Baku a Belm para 1,3T” deve servir como ponto de apoio para alavancar o financiamento para trajetrias de baixo carbono e de resilincia climtica nos pases em desenvolvimento, lembrando que os alertas do IPCC sobre a urgncia da ao contra a mudana do clima esto centrados nas descobertas de que o financiamento, a tecnologia e a cooperao internacional so facilitadores essenciais para acelerar a ao climtica. Os especialistas esto sendo claros: temos apenas alguns anos. Para que os objetivos climticos sejam alcanados, o financiamento da adaptao e da mitigao precisar ser aumentado exponencialmente.

A mudana do clima representa um dos maiores desafios de nosso tempo, e seu enfrentamento deve ser liderado pelo progresso em direo ao desenvolvimento sustentvel e mobilizao de todos os recursos da humanidade para combater as desigualdades estruturais dentro dos pases e entre eles, abrindo caminho para transies justas rumo a sociedades de baixo carbono e resilientes ao clima. Embora isso possa parecer idealista, a realidade que h capital global suficiente para fechar a lacuna de investimento global, embora haja barreiras para redirecionar o capital para a ao climtica. Os governos, por meio de financiamento pblico e sinais claros para os investidores, so fundamentais para reduzir essas barreiras. Precisamos usar da melhor maneira possvel a arquitetura financeira multilateral, remover as barreiras e resolver os entraves enfrentados pelos pases em desenvolvimento no financiamento da ao climtica, incluindo altos custos de capital, espao fiscal limitado, nveis de dvida insustentveis, altos custos de transao e condicionalidades para ar o financiamento climtico. Precisamos avanar na integrao do clima aos investimentos e ao financiamento.

Ao liderar o “Mapa do Caminho de Baku a Belm para 1,3T”, juntamente com a presidncia da COP29 e em consulta com as Partes, a presidncia da COP30 reitera o apelo a todos os atores para que trabalhem juntos a fim de possibilitar o aumento do financiamento s Partes que so pases em desenvolvimento para a ao climtica a partir de todas as fontes pblicas e privadas para pelo menos US$ 1,3 trilho por ano at 2035. J hora de os Bancos Multilaterais de Desenvolvimento (MDBs) e as Instituies Financeiras Internacionais (IFIs) evolurem para entidades maiores, melhores e mais eficazes, que apoiem estruturalmente uma ao climtica mais ambiciosa.

Navegando adiante: guiados pelo Cruzeiro do Sul

Ao entrarmos em 2025, amos da COP29 para a COP30 no apenas com um Livro de Regras completo para o Acordo de Paris, mas tambm com seu ciclo de polticas em pleno andamento, inclusive em termos de NDCs e da estrutura de transparncia aprimorada (ETF). Temos questes pendentes a serem resolvidas na COP30, principalmente o Dilogo dos Emirados rabes Unidos sobre a implementao dos resultados do GST e o programa de trabalho de transio justa (JTWP). O GST um legado inestimvel que nos une. Todos ns devemos continuar a subscrev-lo como a referncia definitiva para a implementao em mudana do clima. As transies justas so fundamentais para alavancar a ao climtica em direo ao desenvolvimento sustentvel e abordar as desigualdades estruturais entre os pases e dentro deles, inclusive em termos de gnero, raa e etnia.

Nas COPs anteriores, realizadas no Hemisfrio Norte, navegamos guiados pela “Estrela do Norte”. medida que a COP30 se desloca para o Hemisfrio Sul, olhamos para o cu e encontramos as cinco estrelas do “Cruzeiro do Sul” como nossa bssola para alcanar inflexes decisivas em todos os cinco pilares da UNFCCC – mitigao, adaptao, financiamento, tecnologia e capacitao. As partes reconheceram em Baku que devemos redobrar os esforos para apoiar transies justas em todos os setores e reas temticas, alm de esforos transversais, incluindo transparncia, prontido, capacitao e desenvolvimento e transferncia de tecnologia. medida que os pases preparam e comunicam suas prximas NDCs e Relatrios Bienais de Transparncia (BTRs), precisamos desenvolver a capacidade das Partes que so pases em desenvolvimento para fazer a transio da abordagem de relatrios ad hoc para processos sistemticos e institucionalizados, liderados por governos, para preparar e enviar relatrios nacionais no mbito da ETF. O workshop mandatado a ser realizado na 62 sesso do rgo Subsidirio de Implementao (SBI62, junho de 2025) facilitar o compartilhamento de experincias dos pases em desenvolvimento na preparao de seus primeiros BTRs. A SBI62 ser igualmente fundamental para a elaborao do programa de implementao de tecnologia e para a reviso do Centro de Tecnologia Climtica. Espera-se que as partes cheguem a um acordo sobre o programa de implementao de tecnologia na COP30 para fortalecer o Mecanismo de Tecnologia da UNFCCC e apoiar a implementao das prioridades tecnolgicas identificadas pelos pases em desenvolvimento.

Em 2025, daremos continuidade e fortaleceremos o dilogo de Sharm el-Sheikh sobre o escopo do Artigo 2, pargrafo 1(c) do Acordo de Paris. O Comit de Paris sobre Capacitao (PCCB) desenvolver um plano de trabalho, enquanto seu foco para o ano se baseia na capacitao para a elaborao de estratgias de investimento holsticas, projetos financiveis e envolvimento das partes interessadas para fortalecer a implementao de NDCs e Planos Nacionais de Adaptao (NAPs) nos pases em desenvolvimento. A SBI62 tambm iniciar o desenvolvimento de um novo plano de ao de gnero, levando em conta a reviso do programa de trabalho aprimorado de Lima. O Brasil tem a honra de aproveitar os legados das presidncias latino-americanas anteriores da COP com o objetivo de avanar a agenda sobre gnero e clima na COP30.

Na COP30, tambm temos a oportunidade nica de ampliar os legados inestimveis das lideranas da COP26 britnica e da COP27 egpcia, inclusive no mbito do programa de trabalho de Sharm el-Sheikh para ambio e implementao em mitigao (MWP). Em vez de desconfiana em negociaes polarizadas, o MWP tem a vocao de se tornar uma plataforma para avanos e construo de confiana por meio de ao e cooperao para aproveitar oportunidades, superar barreiras e explorar solues acionveis.

Vamos trazer o esprito de “mutiro” para o programa de trabalho para ambio e implementao em mitigao. Em Baku, foram mantidas discusses sobre a criao de uma plataforma digital para facilitar a implementao de aes de mitigao, aprimorando a colaborao entre governos, financiadores e outras partes interessadas no desenvolvimento de projetos que possam receber investimentos de maneira nacionalmente determinada e coordenada. Essa plataforma digital pode servir como um ponto de apoio para alavancas poderosas na implementao climtica, com velocidade e escala.

medida que enfrentamos e nos recuperamos de eventos climticos extremos em todo o mundo, devemos garantir que 2025 seja igualmente um marco para a adaptao climtica e a entrega de NAPs. Governos, empresas, partes interessadas subnacionais, instituies financeiras e universidades precisam colocar a adaptao no mesmo nvel de engajamento e centralidade que a mitigao. A adaptao no mais uma escolha, nem compete com a mitigao. Com base no progresso da meta global de adaptao (GGA) na COP28 e na COP29, devemos cumprir nosso mandato legal sobre indicadores no programa de trabalho Emirados rabes Unidos-Belm.

O avano do “Mapa do Caminho de Baku para Adaptao” e o dilogo de alto nvel de Baku sobre adaptao sero essenciais, ao lado do progresso no trabalho da rede de Santiago e do Mecanismo Internacional de Varsvia. O realismo climtico exige que a adaptao esteja na vanguarda e no centro de tudo o que fazemos como governos, setor privado, membros da sociedade civil e indivduos. Uma grande inflexo sobre adaptao na COP30 ser a porta de entrada para alinhar nosso processo multilateral com a realidade cotidiana das pessoas: a adaptao climtica o veculo para o cuidado e o reparo rumo transformao coletiva.

Quanto mais nossa luta contra as mudanas climticas se torna onipresente, mais precisamos incorporar sinergias entre clima, biodiversidade, desertificao e nossos Objetivos de Desenvolvimento Sustentvel (ODS). A Cpula da Terra de 1992 foi o bero das Convenes do Rio, da Declarao do Rio e da Agenda 21. Vinte anos depois, nossos lderes se reuniram novamente no Rio, na Conferncia das Naes Unidas sobre Desenvolvimento Sustentvel de 2012 (Rio+20), em torno de “O Futuro que Queremos”, que culminou nos ODS em 2015, no mesmo ano em que adotamos o Acordo de Paris.

De volta ao Brasil – e agora na Amaznia – essas agendas precisam ser integradas por meio de uma forte participao pblica. urgente que abordemos, de forma abrangente e sinrgica, as crises globais interligadas da mudana do clima e da perda de biodiversidade no contexto mais amplo da realizao dos ODS. Ao fazer isso, devemos continuar reconhecendo e expandindo o papel e as contribuies dos povos indgenas e das comunidades locais na istrao da natureza e na liderana climtica, ao mesmo tempo que reconhecemos os efeitos desproporcionais que eles sofrem com a mudana do clima.

Uma nova era: honrando nossa palavra

medida que as negociaes que emanam da COP21 so concludas, devemos reorientar nossos esforos para a ao e a implementao. Palavras e textos devem ser traduzidos em prticas e transformaes reais em sua operacionalizao. A credibilidade e a fora do regime dependem disso. A COP30 deve marcar o momento em que fazemos a transio para a fase “ps-negociao” da UNFCCC. Devemos intensificar a considerao de abordagens e iniciativas para “aumentar a eficincia do processo da UNFCCC no sentido de aumentar a ambio e a implementao”.

Com a urgncia da mudana do clima, a complexidade de nossa tarefa frente fortalecer a governana climtica e proporcionar agilidade, preparao e antecipao tanto na tomada de decises quanto na implementao. Para canalizar a sabedoria coletiva, a presidncia da COP30 convidar todas as presidncias da COP21 COP29 para formar um “Crculo de Presidncias” para aconselhamento sobre o processo poltico e a implementao em mudana do clima. Alm disso, convidaremos as atuais presidncias de COP da Conveno das Naes Unidas sobre Diversidade Biolgica (UNCBD) e da Conveno das Naes Unidas de Combate Desertificao (UNCCD). O “Crculo de Presidncias” ajudar a garantir que a COP30 honre e sintetize os legados das COPs anteriores, ao mesmo tempo que reflete sobre a agenda em andamento e o futuro do nosso processo e da governana climtica global. Em sinergia com as agendas globais de desenvolvimento sustentvel, biodiversidade e desertificao, o Crculo pode alavancar redes e articular recursos, processos, mecanismos e partes interessadas dentro e fora da UNFCCC, para fazer a diferena localmente ao se alinhar com a Conveno e o Acordo de Paris. Tambm convidaremos lderes entre os povos indgenas para formar um “Crculo de Liderana Indgena” para aumentar sua representao e garantir que os conhecimentos e a sabedoria tradicionais sejam integrados inteligncia coletiva global.

A presidncia da COP30 continuar a se engajar e a contar com a “troika” da Misso 1.5 para melhorar significativamente a cooperao internacional e o ambiente internacional propcio para estimular a ambio, a ao e a implementao nesta dcada crtica e manter o 1,5C ao nosso alcance. A presidncia da COP30 trabalhar em estreita colaborao com o Secretrio-Geral da ONU para aumentar a conscientizao sobre o clima e o impulso poltico em torno das NDCs, para promover a integridade da informao sobre mudana do clima e para fomentar a mobilizao pblica, inclusive no contexto da parceria entre o Secretrio-Geral Guterres e o Presidente Lula.

A presidncia da COP30 tambm realizar um Balano tico Global (“Global Ethical Stocktake”, GES) para ouvir um grupo geograficamente diverso de pensadores, cientistas, polticos, lderes religiosos, artistas, filsofos e povos e comunidades tradicionais, entre outros, sobre compromissos e prticas ticas para lidar com a mudana do clima em todos os nveis. Como o filsofo francs Rabelais nos alertou no sculo XVI, “science sans conscience n’est que ruine de l’me” (“cincia sem conscincia apenas a runa da alma”).

Por fim, a nova presidncia da COP se empenhar nos prximos meses em uma srie de outras iniciativas coletivas que visam a impactos positivos duradouros. Alm do progresso desejado nas reas j mencionadas, faremos outros anncios nas prximas semanas e meses, buscando trazer para a Agenda de Ao uma nova dinmica que se concentre em questes fundamentais para a implementao completa do GST e das NDCs.

Quando a COP chegar Amaznia, as florestas sero naturalmente um tpico central. Com base nos resultados da Cpula Amaznica de 2023, a iniciativa “Unidos por nossas Florestas” estimular o debate sobre o papel das florestas na luta contra a mudana do clima. Os temas que recebero ateno especial sero energia, cidades, tecnologia e inovao, entre outros.

A presidncia da COP30 reunir negociadores, governos, sociedade civil, setor privado e outras partes interessadas para se engajar em um exerccio sobre como traduzir os 10 anos de Paris em conquistas palpveis e incentivos para continuar agindo e fortalecendo o regime multilateral. Da mesma forma, um grupo de Enviados Especiais se envolver com os principais atores para integrar diferentes solues e dimenses do desafio climtico que continuam sendo abordadas de forma fragmentada. Em 2026, a presidncia brasileira dar continuidade a esses esforos em coordenao com a futura presidncia da COP31.

Ao invs de representar um evento isolado, a COP30 deve responder crise climtica desencadeando um “movimento de movimentos”, um movimento global de movimentos locais, multissetoriais e de vrias partes interessadas. A integrao dos movimentos em um movimento global ter como objetivo incorporar aos preparativos da COP30 os princpios da cincia da complexidade: juntos, podemos fazer com que o conjunto de nossos esforos “emerja” como mais do que a mera soma de suas partes. Mais importante ainda, esse movimento global ser capaz de recuperar nosso senso de destino compartilhado.

Construindo o amanh, fazendo histria hoje

A COP30 marcar a metade da dcada crtica da humanidade na luta contra a mudana do clima como nosso inimigo comum. Agora o momento de deixarmos para trs a inrcia, o individualismo e a irresponsabilidade para abraarmos as melhores verses de ns mesmos por meio da criatividade, da solidariedade e da perseverana. Os pases, as empresas e os indivduos que se anteciparem s mudanas radicais que esto por vir sero aqueles que prosperaro, criando resilincia e aproveitando as oportunidades de engajamento, inovao e adaptao.

Estamos vivendo um momento histrico. Os riscos sistmicos relacionados ao clima j esto dando sinais progressivos. Os choques climticos podem no vir lentamente – eles podem surgir abruptamente, em mudanas irreversveis.

Em nossa luta contra a mudana do clima – a luta do sculo – todos os atores e todos os produtos e servios estaro sob escrutnio em todos os lugares, agora e no futuro. Aqueles que se recusarem a refletir pensamento de mdio e longo prazo, polticas voltadas para o futuro e engajamento podero sucumbir aos riscos relacionados ao clima, sejam eles de reputao, transitrios, legais ou fsicos, para os quais o FSB j alertou. Aqueles que se comprometerem genuinamente a vencer a luta climtica tero o potencial de emergir na liderana em uma era de ouro de renovao, regenerao e cooperao global.

A presidncia da COP30 est determinada a servir como uma plataforma de organizao e mobilizao coletiva, um veculo em um mutiro global contra a mudana do clima. Vamos puxar as alavancas juntos. Vamos mover o mundo.

Andr Aranha Corra do Lago

Presidente designado da COP30

Brasil : Eclipse lunar poder ser visto no Brasil na prxima sexta (14); saiba como
Enviado por alexandre em 10/03/2025 10:20:18


Lua ar pela sombra terrestre, o que vai conferir um visual avermelhado ao satlite. Foto: Reproduo

Quem estiver acordado na madrugada de sexta-feira (14) ter a chance de presenciar “o primeiro eclipse lunar do ano”, fenmeno que promete colorir o cu de forma avermelhada. O espetculo poder ser visto em todo o pas, desde que as condies climticas permitam uma boa visibilidade.

De acordo com especialistas, esse tipo de eclipse acontece quando “a Lua a pela sombra terrestre”, momento em que a luz do Sol consegue atravessar parcialmente a atmosfera do planeta, tingindo o satlite natural em tons de vermelho e laranja. J a penumbra, uma parte mais externa e sutil, torna o escurecimento da Lua menos perceptvel.

Para quem deseja contemplar o eclipse, o incio da penumbra deve ocorrer por volta de 0h57, no horrio de Braslia. “O comeo do eclipse parcial ocorre s 2h09 e o total, por volta de 03h26”, mantendo-se visvel at cerca de 05h47. Vale lembrar que esses horrios podem variar de acordo com a localizao e as condies meteorolgicas.

No so necessrios equipamentos especiais para observar o eclipse, basta olhar para a Lua, aconselham os astrnomos. J o prximo fenmeno desse tipo, previsto para 29 de maro, ser um eclipse solar parcial, porm no estar visvel em nenhuma regio do Brasil.

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