Polcia E Sociedade : As galinhas dos ovos suspeitos
Enviado por alexandre em 16/08/2011 00:43:09

As galinhas dos ovos suspeitos (srie Casos Policiais)
(Archimedes Marques)

H aproximadamente uns 20 anos atrs, quando eu estava como Delegado de Polcia da Barra dos Coqueiros, um municpio litorneo banhado pelo Oceano Atlntico e que faz divisa com Aracaju atravs do Rio Sergipe, ento recebi na Delegacia a visita de uma senhora aparentando ter de 65 a 70 anos de idade, mas, bem lcida e gil, que me fez pessoalmente a seguinte denuncia:
- Doutor, eu moro em um stio aqui prximo junto com meu filho que meio estranbelhado da cabea, onde crio galinhas e junto ovos a semana toda para vender na feira aos sbados, mas a descobri que o meu vizinho anda comendo as minhas galinhas e eu quero a soluo da Polcia para ver se ele para com isso...
- A senhora sabe quantas galinhas ele j comeu?...
- A o senhor me pegou doutor, difcil de saber por que tenho umas quarenta e todas elas vivem presas no meu terreiro. Coloquei varas bem juntinhas umas das outras no cercado e no meio constru o galinheiro, mas a algumas delas conseguem pular a cerca e vo ciscar no stio dele, ento ele come todas elas...
- Mas como que a senhora sabe que as galinhas que ele est comendo so as suas?...
- Ah doutor... Primeiro porque ele no cria galinhas... Segundo porque eu conheo todas elas... Terceiro porque eu o vi comendo uma...
- Est certo, vou mandar uma intimao pra ele e se ficar constatado essa acusao a senhora vai ter as suas galinhas ressarcidas e ele ser processado.
E ento no dia marcado l estavam a nossa simptica velhinha e o suposto larapio das suas galinhas. De incio o cidado que aparentava ter uns vinte e cinco anos, negou veementemente a acusao, mas a a vtima insistiu:
- mentira dele doutor!... Ele est comendo as minhas galinhas mesmo... O meu filho estrambelhado j tinha me dito isso e no acreditei, mas, na segunda-feira ada logo cedinho, quando eu estava no galinheiro catando os ovos, escutei uns gritos de galinha que vinha de dentro do mato e a pensei que era alguma que estava pondo os seus ovos num ninho escondido, ento segui o barulho e escondida vi muito bem com esses olhos que a terra h de comer, ele nu segurando fortemente as asas da bichinha com as duas mos enfincando o negcio dele no rabo dela, na maior safadeza e chumbregancia com a minha galinha e ela, coitadinha, se esguelando de dor... S no me apresentei na hora porque fiquei com medo dele me matar, doutor...
Diante daquela situao hilria assim terminei de saber de qual maneira era que o cidado estava comendo as galinhas da velhinha, e, ento continuei a audincia falando srio e de um jeito mais severo, como se j soubesse daquele fato inusitado desde o incio:
- Mas rapaz... Voc ainda tem a cara safada de dizer que uma senhora idosa como essa, que tem a idade de ser a sua av, est mentindo?... Vou instaurar um Inqurito Policial e pedir Justia a sua priso... Voc vai mofar na Penitenciaria... Alm do mais os presos vo fazer com voc o que voc fez com as galinhas dela...
- No doutor, pelo amor de Deus, pelo amor que o senhor tem aos seus filhos, no faa isso comigo no... Eu pago quantas galinhas ela quiser e prometo que nunca mais fao isso de novo...
E ento interferiu a pretensa vtima alegando outro fato que ela achava grave:
- O problema maior doutor, que agora eu no sei quais so as galinhas que esto com os ovos galados por ele e quais as que esto com os ovos galados pelo galo. Como vou saber quais os ovos que eu levo pra vender na feira para que o povo no me reclame nada e quais os ovos que eu coloco nos ninhos das galinhas chocas para nascerem os pintinhos?...
Para no rir da situao esdrxula, tive que explicar que cientificamente e geneticamente no h qualquer possibilidade do espermatozide humano interferir no vulo da galinha ou de qualquer outro animal e que por isso no havia problema algum com os ovos das suas galinhas que continuavam sendo do mesmo jeito que sempre foram e em seguida interpelei o suposto estuprador de galinhas para o devido acerto de contas:
- Quantas galinhas voc comeu nessa sua safadeza?...
- No tenho certeza doutor... Acho que foram somente umas quatro!...
- Quando voc fala quatro porque certamente foi o dobro, por isso voc vai indenizar ela com oito galinhas...
- Tenha d de mim doutor... Eu estou falando a verdade e, alm disso, eu sou mais pobre do que ela... No meu stio tenho somente alguns coqueiros que de quando em vez vendo cocos... Eu ganho pouco... Pesco siris, alguns peixinhos engasga-gatos e cato caranguejos nos mangues para sobreviver... Tenho mulher e trs filhos pequenos pra dar de comer...
E antes que eu me pronunciasse, interferiu novamente a vtima:
- Doutor, eu agora estou querendo tambm criar patos, ento se ele me der trs patas e um pato est resolvido o problema!...
Pesando a situao econmica do acusado apesar da sua pouca vergonha, ento convenci a suposta vtima a aceitar um casal de patos, vez que, com o tempo ela certamente teria muitos patinhos que cresceriam e gerariam tantos outros.
Fechado o acordo ento finalizei a audincia com a seguinte advertncia:
- Preste ateno rapaz!... Voc me prometeu que no vai mais importunar e estuprar as galinhas dela e eu acredito, pois notei que voc um batalhador e no um vagabundo como muitos que tem neste municpio, mas espero que ela no volte aqui se queixando que voc esta comendo a prpria pata que vai dar a ela, viu?...
Hoje esse cidado vende mariscos, dentre os quais caranguejos, em uma das feiras livre de Aracaju e toda vez que o pela sua banca para comprar esse crustceo que tanto gosto, pergunto brincando se ele continua comendo galinha e ele s gargalhadas sempre me responde:
- Galinha agora s no prato, doutor, seno eu pago o pato... Vai quantas cordas no capricho?...

Autor: Archimedes Marques (Delegado de Policia no Estado de Sergipe. Ps-Graduado em Gesto Estratgica de Segurana Pblica pela UFS) [email protected] - [email protected]





As galinhas dos ovos suspeitos (srie Casos Policiais)
(Archimedes Marques)

H aproximadamente uns 20 anos atrs, quando eu estava como Delegado de Polcia da Barra dos Coqueiros, um municpio litorneo banhado pelo Oceano Atlntico e que faz divisa com Aracaju atravs do Rio Sergipe, ento recebi na Delegacia a visita de uma senhora aparentando ter de 65 a 70 anos de idade, mas, bem lcida e gil, que me fez pessoalmente a seguinte denuncia:
- Doutor, eu moro em um stio aqui prximo junto com meu filho que meio estranbelhado da cabea, onde crio galinhas e junto ovos a semana toda para vender na feira aos sbados, mas a descobri que o meu vizinho anda comendo as minhas galinhas e eu quero a soluo da Polcia para ver se ele para com isso...
- A senhora sabe quantas galinhas ele j comeu?...
- A o senhor me pegou doutor, difcil de saber por que tenho umas quarenta e todas elas vivem presas no meu terreiro. Coloquei varas bem juntinhas umas das outras no cercado e no meio constru o galinheiro, mas a algumas delas conseguem pular a cerca e vo ciscar no stio dele, ento ele come todas elas...
- Mas como que a senhora sabe que as galinhas que ele est comendo so as suas?...
- Ah doutor... Primeiro porque ele no cria galinhas... Segundo porque eu conheo todas elas... Terceiro porque eu o vi comendo uma...
- Est certo, vou mandar uma intimao pra ele e se ficar constatado essa acusao a senhora vai ter as suas galinhas ressarcidas e ele ser processado.
E ento no dia marcado l estavam a nossa simptica velhinha e o suposto larapio das suas galinhas. De incio o cidado que aparentava ter uns vinte e cinco anos, negou veementemente a acusao, mas a a vtima insistiu:
- mentira dele doutor!... Ele est comendo as minhas galinhas mesmo... O meu filho estrambelhado j tinha me dito isso e no acreditei, mas, na segunda-feira ada logo cedinho, quando eu estava no galinheiro catando os ovos, escutei uns gritos de galinha que vinha de dentro do mato e a pensei que era alguma que estava pondo os seus ovos num ninho escondido, ento segui o barulho e escondida vi muito bem com esses olhos que a terra h de comer, ele nu segurando fortemente as asas da bichinha com as duas mos enfincando o negcio dele no rabo dela, na maior safadeza e chumbregancia com a minha galinha e ela, coitadinha, se esguelando de dor... S no me apresentei na hora porque fiquei com medo dele me matar, doutor...
Diante daquela situao hilria assim terminei de saber de qual maneira era que o cidado estava comendo as galinhas da velhinha, e, ento continuei a audincia falando srio e de um jeito mais severo, como se j soubesse daquele fato inusitado desde o incio:
- Mas rapaz... Voc ainda tem a cara safada de dizer que uma senhora idosa como essa, que tem a idade de ser a sua av, est mentindo?... Vou instaurar um Inqurito Policial e pedir Justia a sua priso... Voc vai mofar na Penitenciaria... Alm do mais os presos vo fazer com voc o que voc fez com as galinhas dela...
- No doutor, pelo amor de Deus, pelo amor que o senhor tem aos seus filhos, no faa isso comigo no... Eu pago quantas galinhas ela quiser e prometo que nunca mais fao isso de novo...
E ento interferiu a pretensa vtima alegando outro fato que ela achava grave:
- O problema maior doutor, que agora eu no sei quais so as galinhas que esto com os ovos galados por ele e quais as que esto com os ovos galados pelo galo. Como vou saber quais os ovos que eu levo pra vender na feira para que o povo no me reclame nada e quais os ovos que eu coloco nos ninhos das galinhas chocas para nascerem os pintinhos?...
Para no rir da situao esdrxula, tive que explicar que cientificamente e geneticamente no h qualquer possibilidade do espermatozide humano interferir no vulo da galinha ou de qualquer outro animal e que por isso no havia problema algum com os ovos das suas galinhas que continuavam sendo do mesmo jeito que sempre foram e em seguida interpelei o suposto estuprador de galinhas para o devido acerto de contas:
- Quantas galinhas voc comeu nessa sua safadeza?...
- No tenho certeza doutor... Acho que foram somente umas quatro!...
- Quando voc fala quatro porque certamente foi o dobro, por isso voc vai indenizar ela com oito galinhas...
- Tenha d de mim doutor... Eu estou falando a verdade e, alm disso, eu sou mais pobre do que ela... No meu stio tenho somente alguns coqueiros que de quando em vez vendo cocos... Eu ganho pouco... Pesco siris, alguns peixinhos engasga-gatos e cato caranguejos nos mangues para sobreviver... Tenho mulher e trs filhos pequenos pra dar de comer...
E antes que eu me pronunciasse, interferiu novamente a vtima:
- Doutor, eu agora estou querendo tambm criar patos, ento se ele me der trs patas e um pato est resolvido o problema!...
Pesando a situao econmica do acusado apesar da sua pouca vergonha, ento convenci a suposta vtima a aceitar um casal de patos, vez que, com o tempo ela certamente teria muitos patinhos que cresceriam e gerariam tantos outros.
Fechado o acordo ento finalizei a audincia com a seguinte advertncia:
- Preste ateno rapaz!... Voc me prometeu que no vai mais importunar e estuprar as galinhas dela e eu acredito, pois notei que voc um batalhador e no um vagabundo como muitos que tem neste municpio, mas espero que ela no volte aqui se queixando que voc esta comendo a prpria pata que vai dar a ela, viu?...
Hoje esse cidado vende mariscos, dentre os quais caranguejos, em uma das feiras livre de Aracaju e toda vez que o pela sua banca para comprar esse crustceo que tanto gosto, pergunto brincando se ele continua comendo galinha e ele s gargalhadas sempre me responde:
- Galinha agora s no prato, doutor, seno eu pago o pato... Vai quantas cordas no capricho?...

Autor: Archimedes Marques (Delegado de Policia no Estado de Sergipe. Ps-Graduado em Gesto Estratgica de Segurana Pblica pela UFS) [email protected] - [email protected]



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