A Jumenta fogosa (srie Casos Policiais) (Archimedes Marques)
A concepo antiga de que a Polcia tudo pode, tudo resolve ainda hoje vivenciada por muitas pessoas, em destaque na classe mais pobre e com pouca cultura da nossa sociedade que sempre est entre os moradores das periferias das cidades ou nas zonas rurais. Nos meus 25 anos de atuao policial me deparei com situaes inusitadas que tive que sair da letra fria da Lei e usar de bom senso para evitar males maiores, como o presente caso que alm de tudo muito engraado: Estava eu h muitos anos atrs como titular de uma das Delegacias perifricas da chamada grande Aracaju, ento responsvel pela segurana de diversas localidades, dentre as quais o povoado Oco do Pau, hoje denominado Madre Tereza de Calcut no municpio de So Cristvo. Do ento Oco do Pau me apareceu um cidado, dono de um pequeno stio, morador de uma casinha de taipa situada numa estradinha de cho entre as brenhas do povoado, querendo registrar uma ocorrncia policial contra o seu vizinho que tambm vivia em condies semelhantes de misria, alegando que o mesmo estava mantendo relaes sexuais com a sua jumenta. Tentei de todas as maneiras explicar e convencer a ele que se o cidado no estivesse fazendo aquele tipo de sexo abertamente para configurar um possvel crime de atentado violento ao pudor a Polcia no tinha como interferir, contudo, o queixoso no se conformou de jeito algum e me falou que ento iria matar o dito cujo de qualquer maneira, pois s assim ele aprenderia a respeitar os animais dos outros. No sentido de evitar a consumao da ameaa com o provvel homicdio que ele afirmou que iria cometer, ento resolvi interferir no problema mandando uma intimao para o cidado zoomaniaco sexual e, no dia marcado l estavam os dois no meu gabinete, na minha frente para que eu resolvesse aquele diferente entrave. Assim, o queixoso repetiu toda a histria que j havia me contado anteriormente e acrescentou: - Quero ver se ele homem para me desmentir, porque eu peguei os dois dentro do mato na maior conchambrancia. Ele l grudado por detrs da minha jumenta gemendo, gritando e tudo mais e, ento resolvi procurar a Policia que para eu no ter que matar esse desnaturado, safado, tarado, sem vergonha... O acusado que aparentava ter uns cinqenta anos de idade e pouca vergonha na cara no negou o fato e ainda justificou: - verdade. Ele no est mentindo no doutor, mas a jumenta dele que culpada, pois quase todos os dias ela vem me procurar. Sempre estou trabalhando tranqilo na minha roa e a danada aparece do nada, levanta o rabo, se treme toda e fica relinchando me chamando e a eu vendo aquele monumento no me agento e termino satisfazendo a vontade da coitadinha... Tive que me segurar de todo jeito para no dar uma sonora gargalhada e colocar tudo a perder, e ento firme e srio ponderei: - O senhor sabe que existe a Lei de proteo aos animais e que o senhor est maltratando a pobre da jumenta e por isso pode ser preso?... - Maltratando como doutor, se ela est gostando?... Eu nunca bati nela. s vezes eu at tento espantar a danada, mas a ela insiste tanto, me atenta tanto que eu termino indo... - Mas mesmo assim eu entendo que o senhor est cometendo um crime por isso vou instaurar um Inqurito policial e encaminhar o caso Justia para que o senhor seja processado e preso, contudo, ainda existem alternativas para que eu no tome essa posio. Basta que o senhor compre a jumenta dele e acabe de vez com o problema ou ento aceite fazer outro tipo de acordo. Uma breve pausa para reflexo na sala fora cortada pela fala do pretenso queixoso: - No pretendo vender a minha Jumenta porque ela das boas e vai me fazer muita falta, Doutor, mas se ele quiser fao outro acordo porque melhor eu no desgraar a minha vida por causa desse infeliz... - Continue, qual seria a sua proposta?... - Se ele me der um saco de milho todo ms, justamente para ajudar na alimentao da minha Jumenta, a gente at deixa de ser inimigo e esquece tudo. - Doutor, eu tambm sou pobre e vivo da minha rocinha... Fao plantaes... uma macacheirazinha aqui, um inhamezinho acol, que eu levo no carrinho de mo para vender na feira... No tempo de manga e caju ganho mais um pouquinho... Posso at reservar um pedacinho de terra e plantar um milhozinho para a danada da Jumenta dele, mas um saco de milho todo ms fica muito pesado para mim... Se ele aceitar eu me comprometo perante o senhor a dar um saco de rao de trigo que mais barato de dois em dois meses... Para convencer o queixoso falei que realmente era uma boa proposta e que estava dentro das condies financeiras do acusado. - doutor, vou aceitar porque no estou querendo prejudicar a minha vida, nem quero saber desse negcio de Justia que demora muito, e alm do mais ele no gente ruim, at um bom vizinho, s tem esse defeito... E ento complementou descaradamente o acusado: - Doutor, o senhor pode ter certeza que eu no vou mais atrs da Jumenta dele... Quanto a isso o senhor tem a minha palavra de homem, mas se ela vier me procurar de novo eu posso perder a cabea e fazer safadeza com ela novamente porque a carne fraca... Quero que ele prenda a danada e tambm se comprometa que no vai fazer nada comigo caso volte a acontecer... Aceita todas as condies, ento finalizei a audincia quebrando o ltimo gelo para que os dois pudessem descontrair e fazer as pazes, saindo satisfeitos com o acordo selado, com a seguinte frase ao desavergonhado cidado: - Se voc e a Jumenta resolverem se casar e o dono dela aprovar podem me procurar que eu tambm posso fazer o papel de Padre para abenoar essa linda unio!...
Autor: Archimedes Marques (Delegado de Policia no Estado de Sergipe. Ps-Graduado em Gesto Estratgica de Segurana Pblica pela UFS) [email protected] - [email protected]
A Jumenta fogosa (srie Casos Policiais) (Archimedes Marques)
A concepo antiga de que a Polcia tudo pode, tudo resolve ainda hoje vivenciada por muitas pessoas, em destaque na classe mais pobre e com pouca cultura da nossa sociedade que sempre est entre os moradores das periferias das cidades ou nas zonas rurais. Nos meus 25 anos de atuao policial me deparei com situaes inusitadas que tive que sair da letra fria da Lei e usar de bom senso para evitar males maiores, como o presente caso que alm de tudo muito engraado: Estava eu h muitos anos atrs como titular de uma das Delegacias perifricas da chamada grande Aracaju, ento responsvel pela segurana de diversas localidades, dentre as quais o povoado Oco do Pau, hoje denominado Madre Tereza de Calcut no municpio de So Cristvo. Do ento Oco do Pau me apareceu um cidado, dono de um pequeno stio, morador de uma casinha de taipa situada numa estradinha de cho entre as brenhas do povoado, querendo registrar uma ocorrncia policial contra o seu vizinho que tambm vivia em condies semelhantes de misria, alegando que o mesmo estava mantendo relaes sexuais com a sua jumenta. Tentei de todas as maneiras explicar e convencer a ele que se o cidado no estivesse fazendo aquele tipo de sexo abertamente para configurar um possvel crime de atentado violento ao pudor a Polcia no tinha como interferir, contudo, o queixoso no se conformou de jeito algum e me falou que ento iria matar o dito cujo de qualquer maneira, pois s assim ele aprenderia a respeitar os animais dos outros. No sentido de evitar a consumao da ameaa com o provvel homicdio que ele afirmou que iria cometer, ento resolvi interferir no problema mandando uma intimao para o cidado zoomaniaco sexual e, no dia marcado l estavam os dois no meu gabinete, na minha frente para que eu resolvesse aquele diferente entrave. Assim, o queixoso repetiu toda a histria que j havia me contado anteriormente e acrescentou: - Quero ver se ele homem para me desmentir, porque eu peguei os dois dentro do mato na maior conchambrancia. Ele l grudado por detrs da minha jumenta gemendo, gritando e tudo mais e, ento resolvi procurar a Policia que para eu no ter que matar esse desnaturado, safado, tarado, sem vergonha... O acusado que aparentava ter uns cinqenta anos de idade e pouca vergonha na cara no negou o fato e ainda justificou: - verdade. Ele no est mentindo no doutor, mas a jumenta dele que culpada, pois quase todos os dias ela vem me procurar. Sempre estou trabalhando tranqilo na minha roa e a danada aparece do nada, levanta o rabo, se treme toda e fica relinchando me chamando e a eu vendo aquele monumento no me agento e termino satisfazendo a vontade da coitadinha... Tive que me segurar de todo jeito para no dar uma sonora gargalhada e colocar tudo a perder, e ento firme e srio ponderei: - O senhor sabe que existe a Lei de proteo aos animais e que o senhor est maltratando a pobre da jumenta e por isso pode ser preso?... - Maltratando como doutor, se ela est gostando?... Eu nunca bati nela. s vezes eu at tento espantar a danada, mas a ela insiste tanto, me atenta tanto que eu termino indo... - Mas mesmo assim eu entendo que o senhor est cometendo um crime por isso vou instaurar um Inqurito policial e encaminhar o caso Justia para que o senhor seja processado e preso, contudo, ainda existem alternativas para que eu no tome essa posio. Basta que o senhor compre a jumenta dele e acabe de vez com o problema ou ento aceite fazer outro tipo de acordo. Uma breve pausa para reflexo na sala fora cortada pela fala do pretenso queixoso: - No pretendo vender a minha Jumenta porque ela das boas e vai me fazer muita falta, Doutor, mas se ele quiser fao outro acordo porque melhor eu no desgraar a minha vida por causa desse infeliz... - Continue, qual seria a sua proposta?... - Se ele me der um saco de milho todo ms, justamente para ajudar na alimentao da minha Jumenta, a gente at deixa de ser inimigo e esquece tudo. - Doutor, eu tambm sou pobre e vivo da minha rocinha... Fao plantaes... uma macacheirazinha aqui, um inhamezinho acol, que eu levo no carrinho de mo para vender na feira... No tempo de manga e caju ganho mais um pouquinho... Posso at reservar um pedacinho de terra e plantar um milhozinho para a danada da Jumenta dele, mas um saco de milho todo ms fica muito pesado para mim... Se ele aceitar eu me comprometo perante o senhor a dar um saco de rao de trigo que mais barato de dois em dois meses... Para convencer o queixoso falei que realmente era uma boa proposta e que estava dentro das condies financeiras do acusado. - doutor, vou aceitar porque no estou querendo prejudicar a minha vida, nem quero saber desse negcio de Justia que demora muito, e alm do mais ele no gente ruim, at um bom vizinho, s tem esse defeito... E ento complementou descaradamente o acusado: - Doutor, o senhor pode ter certeza que eu no vou mais atrs da Jumenta dele... Quanto a isso o senhor tem a minha palavra de homem, mas se ela vier me procurar de novo eu posso perder a cabea e fazer safadeza com ela novamente porque a carne fraca... Quero que ele prenda a danada e tambm se comprometa que no vai fazer nada comigo caso volte a acontecer... Aceita todas as condies, ento finalizei a audincia quebrando o ltimo gelo para que os dois pudessem descontrair e fazer as pazes, saindo satisfeitos com o acordo selado, com a seguinte frase ao desavergonhado cidado: - Se voc e a Jumenta resolverem se casar e o dono dela aprovar podem me procurar que eu tambm posso fazer o papel de Padre para abenoar essa linda unio!...
Autor: Archimedes Marques (Delegado de Policia no Estado de Sergipe. Ps-Graduado em Gesto Estratgica de Segurana Pblica pela UFS) [email protected] - [email protected]
|