Polcia E Sociedade : Casos policiais
Enviado por alexandre em 07/07/2011 14:41:50

A malfadada troca dos anis de couro (srie: Casos policiais)
Dentro da minha vivencia policial pude constatar, sem sombras de dvidas alguma, que o Delegado de Polcia combate o delinqente, protege o povo, investiga, aconselha, dirime conflitos, evita o crime, faz a paz, regula as relaes sociais e s vezes at faz o inacreditvel s para satisfazer os anseios das pessoas que o procura em busca de resoluo das contendas mais esquisitas possveis.
Dentre tantas as delegacias e cargos de direo que assumi em mais de duas dcadas de carreira policial no estado de Sergipe, tambm trabalhei no Departamento de Atendimento aos Grupos Vulnerveis da capital.
Certo dia subiu at o meu gabinete um cidado, homossexual assumido, querendo a providencia da Polcia para um fato inusitado, folclrico, que at parece ser uma piada, mas que foi bem real, com a seguinte conversa:
- Doutor, eu no sei nem por onde comear, pois a primeira vez que estou diante de um Delegado. Asseverou.
- Fique tranqilo cidado, que voc est perante a sua Policia protetora. Esta Delegacia foi criada para cuidar dos casos em que os homossexuais so vtimas, por isso esteja vontade para falar do seu problema que estamos aqui para lhe fornecer soluo. Falei.
- Sabe o que doutor... Eu no sei nem se o senhor vai poder me ajudar...
- Continue cidado, mas sem muitas delongas. V direto ao assunto!...
- que eu acertei com um amigo que tambm gay pra gente trocar, da tiramos a sorte no par ou impar para ver quem ia primeiro, ento ele ganhou e foi, mas depois no me deixou ir...
Diante do caso esdrxulo, tive que me conter para no dar uma sonora gargalhada e continuei me fazendo de desentendido dando asas a histria:
- Cidado, voc esta complicando demais, seja mais objetivo. Vocs acertaram para trocar o qu?... Ele foi primeiro e depois no deixou voc ir para onde?...
- A gente acertou pra trocar os anis de couro, a ele comeu o meu primeiro e depois no quis me dar o dele...
Morrendo de rir por dentro, dei mais corda para aquela situao hilria:
- Mas vocs colocam cada apelido no pobre do nus. Por que anel de couro?...
- Porque ele pode ficar em volta do pnis ou do dedo e assim vira um verdadeiro anel de couro... Tambm tem outros apelidos e pode ser chamado de aro, s de copa, rabo, rosquinha, dengoso, cheiroso... E o mais popular que todo mundo conhece, mas eu acho feio e chocante s aquelas duas letras para um rgo to importante, por isso gosto de usar o apelido de anel de couro, pois alm de tudo o termo sugere selar uma aliana entre as partes...
- Sei!... Muito interessante cidado, mas com essa troca de anis de couro entre voc e seu amigo no houve crime algum e por isso a Polcia no tem como interferir no caso.
- Eu sabia!... Sempre o mais fraco prejudicado. Estou muito aborrecido porque alm de tudo ele fica rindo da minha cara quando a gente se encontra. Vou terminar perdendo a pacincia e fazendo uma besteira nele.
Durante todos esses anos de atuao policial, enfrentando o perigo ou realizando investigaes importantssimas, alm de funcionar tambm como mediador, espcie de Juiz da primeira causa em milhares de contendas sociais, me senti acuado em deixar de tentar resolver aquele caso que demonstrava ser de fcil resoluo ou at mesmo pela curiosidade da novidade, resolvi ento interferir no entrave que no era da alada policial ou de alada alguma, mandando uma intimao para a parte adversa e, no dia e hora marcados la estavam os dois gays no meu gabinete para que eu resolvesse a estranha troca de anis de couro no concretizada.
Depois da fala e das explicaes da acusao que repetiu o acordo feito e a quebra do contrato verbal existente entre as partes, ento falou o acusado:
- Doutor, a histria essa mesmo, mas eu no dei porque j estava cansado, gozei e perdi a vontade...
Como vi que se tratava de pessoa menos esclarecida e de fcil traquejo, ento realizei o famoso jus inrolandis no jargo policial, palavras latinas inventadas que significam o direito de enrolar:
- Voc no homem no cidado?... O homem que homem independente da sua opo sexual cumpre com a sua palavra... Voc fez um acordo e no cumpriu... Voc enganou o seu colega... Voc cometeu um estelionato carnal, uma fraude contratual anal... Por isso eu posso instaurar um Inqurito Policial por tais crimes e solicitar a sua priso preventiva Justia...
- No doutor... A minha liberdade a coisa mais importante que eu tenho na vida, por isso eu me comprometo em cumprir a minha parte do acordo... Basta que ele acerte a hora e o local que eu dou pra ele com todo prazer... At mais de uma vez que ele queira...
Da pensando que j tinha sanado o problema emendei:
-Tudo resolvido!... Podem ir embora e marquem o local l fora que eu tenho mais o que fazer.
Mas a a suposta vtima interveio inconformada:
- Agora eu tambm no quero mais no, doutor...
- E o que que voc quer finalmente cidado?... Voc veio incomodar a Policia com qual objetivo?... (falei j chateado e arrependido em ter me metido a resolver aquela safadeza)
- Eu quero ser indenizado pelo que ele me fez!...
Parei para contar at dez, suspirei, tomei flego, recobrei a calma e levei na brincadeira indagando:
- E quanto que vale o seu anel de couro cidado?... (na verdade falei no popular e em voz spera)
- Se ele me pagar uma oncinha, est resolvido o problema e a gente at volta a amizade de antes!...
- Voc paga cinqenta reais pelo anel de couro dele?... (falei tambm no popular)
- No vale no doutor, o senhor precisa ver...
- Cidado, eu no preciso e nem quero ver nada, ouviu?... Eu estou lhe perguntando se voc paga o que ele est pedindo... Ento voc responda se referindo somente a isso, compreendido?...
- Desculpe doutor, mas cinqenta reais eu no pago, pois est muito caro. S dou vinte reais e ainda estou pagando muito...
E ento interferiu novamente o pretenso lesado insatisfeito:
- Assim tambm ele est menosprezando demais o meu anel de couro, doutor... Eu aceito quarenta reais...
Diante do espontneo leilo, era a deixa que eu precisava como Juiz da causa para bater o martelo:
- Vamos terminar com essa pouca vergonha dentro de uma Delegacia de Polcia... Nem um nem outro. Trinta reais a sentena final.
Depois de aceito o acordo e selada a paz, o suposto acusado entregou de bom grado o dinheiro ao lesado que tambm se mostrou satisfeito com a quantia recebida, e a complementei para descontrair e encerrar a audincia:
- Da prxima vez que vocs vierem aqui com um problema desse tipo, eu coloco os dois dentro do xadrez com o estuprador conhecido por Tio P-de-Mesa que est h mais de dois meses sem ver mulher.
Eles riram e um deles rebateu:
- Desse jeito melhor a gente quebrar o acordo agora mesmo, doutor!...

Autor: Archimedes Marques - Delegado de Policia Civil no estado de Sergipe. (Ps-Graduado em Gesto Estratgica de Segurana Pblica pela UFS)
[email protected]



A malfadada troca dos anis de couro (srie: Casos policiais)
Dentro da minha vivencia policial pude constatar, sem sombras de dvidas alguma, que o Delegado de Polcia combate o delinqente, protege o povo, investiga, aconselha, dirime conflitos, evita o crime, faz a paz, regula as relaes sociais e s vezes at faz o inacreditvel s para satisfazer os anseios das pessoas que o procura em busca de resoluo das contendas mais esquisitas possveis.
Dentre tantas as delegacias e cargos de direo que assumi em mais de duas dcadas de carreira policial no estado de Sergipe, tambm trabalhei no Departamento de Atendimento aos Grupos Vulnerveis da capital.
Certo dia subiu at o meu gabinete um cidado, homossexual assumido, querendo a providencia da Polcia para um fato inusitado, folclrico, que at parece ser uma piada, mas que foi bem real, com a seguinte conversa:
- Doutor, eu no sei nem por onde comear, pois a primeira vez que estou diante de um Delegado. Asseverou.
- Fique tranqilo cidado, que voc est perante a sua Policia protetora. Esta Delegacia foi criada para cuidar dos casos em que os homossexuais so vtimas, por isso esteja vontade para falar do seu problema que estamos aqui para lhe fornecer soluo. Falei.
- Sabe o que doutor... Eu no sei nem se o senhor vai poder me ajudar...
- Continue cidado, mas sem muitas delongas. V direto ao assunto!...
- que eu acertei com um amigo que tambm gay pra gente trocar, da tiramos a sorte no par ou impar para ver quem ia primeiro, ento ele ganhou e foi, mas depois no me deixou ir...
Diante do caso esdrxulo, tive que me conter para no dar uma sonora gargalhada e continuei me fazendo de desentendido dando asas a histria:
- Cidado, voc esta complicando demais, seja mais objetivo. Vocs acertaram para trocar o qu?... Ele foi primeiro e depois no deixou voc ir para onde?...
- A gente acertou pra trocar os anis de couro, a ele comeu o meu primeiro e depois no quis me dar o dele...
Morrendo de rir por dentro, dei mais corda para aquela situao hilria:
- Mas vocs colocam cada apelido no pobre do nus. Por que anel de couro?...
- Porque ele pode ficar em volta do pnis ou do dedo e assim vira um verdadeiro anel de couro... Tambm tem outros apelidos e pode ser chamado de aro, s de copa, rabo, rosquinha, dengoso, cheiroso... E o mais popular que todo mundo conhece, mas eu acho feio e chocante s aquelas duas letras para um rgo to importante, por isso gosto de usar o apelido de anel de couro, pois alm de tudo o termo sugere selar uma aliana entre as partes...
- Sei!... Muito interessante cidado, mas com essa troca de anis de couro entre voc e seu amigo no houve crime algum e por isso a Polcia no tem como interferir no caso.
- Eu sabia!... Sempre o mais fraco prejudicado. Estou muito aborrecido porque alm de tudo ele fica rindo da minha cara quando a gente se encontra. Vou terminar perdendo a pacincia e fazendo uma besteira nele.
Durante todos esses anos de atuao policial, enfrentando o perigo ou realizando investigaes importantssimas, alm de funcionar tambm como mediador, espcie de Juiz da primeira causa em milhares de contendas sociais, me senti acuado em deixar de tentar resolver aquele caso que demonstrava ser de fcil resoluo ou at mesmo pela curiosidade da novidade, resolvi ento interferir no entrave que no era da alada policial ou de alada alguma, mandando uma intimao para a parte adversa e, no dia e hora marcados la estavam os dois gays no meu gabinete para que eu resolvesse a estranha troca de anis de couro no concretizada.
Depois da fala e das explicaes da acusao que repetiu o acordo feito e a quebra do contrato verbal existente entre as partes, ento falou o acusado:
- Doutor, a histria essa mesmo, mas eu no dei porque j estava cansado, gozei e perdi a vontade...
Como vi que se tratava de pessoa menos esclarecida e de fcil traquejo, ento realizei o famoso jus inrolandis no jargo policial, palavras latinas inventadas que significam o direito de enrolar:
- Voc no homem no cidado?... O homem que homem independente da sua opo sexual cumpre com a sua palavra... Voc fez um acordo e no cumpriu... Voc enganou o seu colega... Voc cometeu um estelionato carnal, uma fraude contratual anal... Por isso eu posso instaurar um Inqurito Policial por tais crimes e solicitar a sua priso preventiva Justia...
- No doutor... A minha liberdade a coisa mais importante que eu tenho na vida, por isso eu me comprometo em cumprir a minha parte do acordo... Basta que ele acerte a hora e o local que eu dou pra ele com todo prazer... At mais de uma vez que ele queira...
Da pensando que j tinha sanado o problema emendei:
-Tudo resolvido!... Podem ir embora e marquem o local l fora que eu tenho mais o que fazer.
Mas a a suposta vtima interveio inconformada:
- Agora eu tambm no quero mais no, doutor...
- E o que que voc quer finalmente cidado?... Voc veio incomodar a Policia com qual objetivo?... (falei j chateado e arrependido em ter me metido a resolver aquela safadeza)
- Eu quero ser indenizado pelo que ele me fez!...
Parei para contar at dez, suspirei, tomei flego, recobrei a calma e levei na brincadeira indagando:
- E quanto que vale o seu anel de couro cidado?... (na verdade falei no popular e em voz spera)
- Se ele me pagar uma oncinha, est resolvido o problema e a gente at volta a amizade de antes!...
- Voc paga cinqenta reais pelo anel de couro dele?... (falei tambm no popular)
- No vale no doutor, o senhor precisa ver...
- Cidado, eu no preciso e nem quero ver nada, ouviu?... Eu estou lhe perguntando se voc paga o que ele est pedindo... Ento voc responda se referindo somente a isso, compreendido?...
- Desculpe doutor, mas cinqenta reais eu no pago, pois est muito caro. S dou vinte reais e ainda estou pagando muito...
E ento interferiu novamente o pretenso lesado insatisfeito:
- Assim tambm ele est menosprezando demais o meu anel de couro, doutor... Eu aceito quarenta reais...
Diante do espontneo leilo, era a deixa que eu precisava como Juiz da causa para bater o martelo:
- Vamos terminar com essa pouca vergonha dentro de uma Delegacia de Polcia... Nem um nem outro. Trinta reais a sentena final.
Depois de aceito o acordo e selada a paz, o suposto acusado entregou de bom grado o dinheiro ao lesado que tambm se mostrou satisfeito com a quantia recebida, e a complementei para descontrair e encerrar a audincia:
- Da prxima vez que vocs vierem aqui com um problema desse tipo, eu coloco os dois dentro do xadrez com o estuprador conhecido por Tio P-de-Mesa que est h mais de dois meses sem ver mulher.
Eles riram e um deles rebateu:
- Desse jeito melhor a gente quebrar o acordo agora mesmo, doutor!...

Autor: Archimedes Marques - Delegado de Policia Civil no estado de Sergipe. (Ps-Graduado em Gesto Estratgica de Segurana Pblica pela UFS)
[email protected]

P Enviar esta hist Criar um arquvo PDF do artigo
Publicidade Notcia