Brasil : COP30: populao da Amaznia espera por gua potvel e saneamento
Enviado por alexandre em 02/05/2025 11:20:45

Moradores de ilhas dizem que o agua e esgoto desafio

A 30 Conferncia das Naes Unidas sobre Mudanas Climticas (COP30), marcada para novembro, na cidade de Belm, reunir lderes mundiais com o objetivo de pensar e agir pelo futuro dos territrios urbanos e florestais do planeta diante dos desafios impostos pelo aquecimento global. Pela primeira vez, o principal palco das negociaes mundiais sobre o tema ser na Amaznia, um dos biomas mais estratgicos para esse debate, tanto pela riqueza de recursos naturais quando pela vulnerabilidade.

Distante apenas 1,5 quilmetro do centro histrico de Belm, a Ilha do Combu parte integrante da rea insular da cidade, que representa 65% do territrio da capital, com 39 ilhas catalogadas pela Companhia de Desenvolvimento de Belm. Para ar o local a partir da rea continental, necessrio cruzar o Rio Guam, em uma travessia que dura em mdia 15 minutos.

Esse caminho percorrido com frequncia pelo comerciante Rosivaldo de Oliveira Quaresma, 49 anos, em busca de gua mineral. Morador nascido e criado na ilha e proprietrio de um restaurante, o comerciante diz que os maiores desafios de quem vive nesse lado da cidade so gua potvel e esgoto.

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“Alguns turistas acham que a gente usa gua do rio para fazer suco, para bater aa. A a gente fala que a nossa gua desses tambores de 20 litros, e que caro para a gente, mas no tem outra opo. Ento, o consumo geralmente gua mineral”, explica.

De acordo com o comerciante, a gua do Rio Guam utilizada apenas nos banheiros e para lavagem de roupa e de loua, aps ser bombeada para uma pequena caixa dgua e ar por um tratamento caseiro. “O certo era mesmo fazer o puxado da gua do rio, fazer um tratamento mais forte e botar numa caixa para 20 famlias. L na outra comunidade, botar para mais 20. Mas o problema o valor que caro para um ribeirinho fazer.”

Diferentemente da rea continental da cidade, que na sua maioria abastecida pela rede de distribuio ligada aos mananciais da rea de Proteo Ambiental (APA) da Regio Metropolitana de Belm, como os lagos gua Preta e Bolonha, grande parte da regio insular depende de sistemas de distribuio independentes. A criao de infraestrutura tambm depende de um planejamento ambiental.

As ilhas no foram includas nas obras para a COP30, mas os comits brasileiros co-organizadores apontam a realizao de 30 obras na parte continental da cidade, entre as quais o servio de macrodrenagem de 13 canais.

A Ilha do Combu uma rea de proteo ambiental (APA) criada h 28 anos pela Lei Estadual 6.083/1997 e gerida pelo Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade (Ideflor-bio). Em maro, a instituio publicou uma nota informando que o plano de manejo para orientar o uso sustentvel dos recursos naturais da ilha e definir o ordenamento territorial s comeou a ser elaborado no ltimo ano e est prestes a ser concludo, no entanto, no foi informado quando o documento estar disponvel.

O mesmo problema ocorre com o sistema de saneamento. A maior parte das 596 famlias que vivem na ilha possui fossa sptica, mas, com o turismo crescente no local, as estruturas existentes acabam no sendo adequadas para atender tambm os visitantes. “A gente no joga o esgoto no rio ou na mata. Mas, quando enche, a gente tem que tirar e jogar na mata, sempre. E a gente no tem um apoio at o momento para resolver isso”, explica.

As excees so casos como o da professora aposentada Ana Maria de Souza, 61 anos, que, antes mesmo de empreender na ilha, decidiu adequar a prpria moradia para hospedar turistas e oferecer refeies caseiras. Junto com a ampliao do local, a moradora da ilha decidiu construir uma fossa ecolgica.

O modelo levado regio por pesquisadores da Universidade Federal Rural da Amaznia (Ufra) faz uso de tanques de evapotranspirao de baixo custo por usar entulhos e pneus como matria-prima. Tambm usa plantas da regio amaznica, como bananeiras e helicnias, que possuem alto potencial de evapotranspirao (soma da evaporao da gua pela superfcie de solo mais a transpirao de plantas).

De forma prtica, os dejetos percorrem diferentes materiais colonizados por bactrias que promovem uma digesto do esgoto sem a necessidade de oxignio e, ao final, as plantas absorvem os lquidos devolvendo a gua limpa atmosfera pela evapotranspirao. “Eu posso dizer que eu estou muito feliz, porque eu tambm tenho a fossa ecolgica na minha casa”, comemora.

De acordo com a presidente do comit da COP30 no estado do Par, Hana Ghassan, as obras esto dentro do cronograma e, at novembro, estaro concludas. At o momento, dois rios j foram canalizados. Os servios incluem, alm de canalizao de rios, instalao de gua esgoto e drenagem, alm da pavimentao asfltica nas ruas no entorno.

O tcnico em eletrnica Glaybson Ribeiro, 46 anos, vive h 25 anos em uma casa s margens do canal da Rua Timb, um dos dois locais onde as obras j foram concludas. Ele considera que o investimento no saneamento da regio trouxe uma mudana significativa.

“Antes era um sofrimento para a gente. Era uma chuva atrs da outra e todo tempo as casas ficavam cheias de gua, e a gente colocava tijolo, madeira para levantar a geladeira, o fogo. A gente saia para trabalhar e tinha que deixar tudo suspenso”, lembra Ribeiro.

O vendedor de peixe Raimundo da Costa Nunes, 63 anos, mora h 40 anos na regio e diz que precisou ao longo dos anos subir a estrutura da casa trs vezes para no ser afetado pelas guas. Agora no precisa mais se preocupar com o problema. “Tem morador que fica xingando e perguntando "cad as rvores?' Melhor quente, sem a sombra, que cheio de gua”, diz.


De acordo com Hana, a nova infraestrutura de saneamento j estava prevista na ao do governo estadual, por isso foi uma das primeiras a ficarem prontas. Com a concluso das demais, o impacto positivo alcanar cerca de 900 mil pessoas, afirma a presidente do comit. A reportagem da Agncia Brasil entrou em contato com o Ideflor-bio em busca de mais informaes sobre o Plano de Manejo da Ilha do Combu, mas at a publicao da matria no houve resposta.

Fonte:Agncia Brasil

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