A pandemia de Covid-19 mobilizou cientistas ao redor do mundo em uma corrida contra o tempo para compreender e combater um vrus que alterou radicalmente a vida em sociedade. Em todos os continentes, houve uma exploso no nmero de publicaes cientficas: apenas nas primeiras semanas de 2020, meses aps o vrus comear a se disseminar em escala global, mais de 500 artigos relacionados a opes de tratamento, compreenso da estrutura do vrus, mecanismos de transmisso e temas similares foram publicados.

A pandemia de Covid-19 mobilizou cientistas no mundo inteiro para entender e combater o novo vrus. Houve uma exploso de publicaes cientficas: s nas primeiras semanas de 2020, surgiram mais de 500 artigos. Eles abordavam tratamentos, estrutura do vrus, transmisso e outros temas cruciais para enfrentar a crise sanitria.

Enquanto pesquisadores ao redor do mundo aceleravam suas investigaes, a resposta brasileira no ficou para trs: entre 2020 e 2022, mais de 17 mil estudos foram publicados, com picos mensais que ultraaram 500 artigos, demonstrando uma agilidade surpreendente.

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Uma anlise feita por pesquisadores do Laboratrio de Estudos sobre a Organizao da Pesquisa e da Inovao (Lab-GEOPI) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) utilizou a base OpenAlex para estudar as dinmicas da produo brasileira — e constatou a rpida mobilizao das instituies do pas, em especial as pblicas, para enfrentar a crise de sade pblica a partir da cincia.

De acordo com o estudo que foi publicado em maro de 2025 na revista Em Questo, foram recuperados 531.708 estudos sobre temas relacionados a Covid-19 globalmente, em diversas reas do conhecimento. Desses, 17.409 so de autores afiliados a 512 instituies brasileiras. Apesar disso, 24 instituies de pesquisa concentram 61% da produo nacional — todas elas pblicas.

A Universidade de So Paulo (USP) lidera a lista, com cerca de 7,7 mil artigos publicados entre 2020 e 2022. Ela seguida pela Fundao Oswaldo Cruz (Fiocruz), com 2,1 mil publicaes, a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com 1,7 mil e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que teve 1,6 mil publicaes.

A produo brasileira tambm foi abrangente em termos de reas do conhecimento. Dentre os conceitos utilizados pelos autores para classificar os trabalhos, 90% das pesquisas enquadraram-se nas reas de Medicina, Cincia Poltica, Psicologia, Geografia, Sociologia, Cincia da Computao e istrao. A anlise mostra, sobretudo, um esforo da comunidade cientfica para compreender os diversos fatores relacionados Covid-19, buscando obter, alm das caractersticas biolgicas, as repercusses clnicas e sociais da pandemia.

Outro ponto destacado no estudo foi a forte capacidade de colaborao dos pesquisadores durante o perodo. Cerca de um tero da produo cientfica brasileira sobre a Covid-19 foi realizada em coautoria internacional, com o pas contribuindo com pesquisas de 151 naes – entre as quais se destacam Estados Unidos (24,1%), Reino Unido (13%), Itlia (6%), Espanha (4,1%), Canad (3,7%), Portugal (3,3%) e Alemanha (3,1%). Em relao aos artigos de autoria exclusivamente nacional, apenas 18,6% so produzidos por autores nicos, evidenciando a robusta estrutura de cooperao entre pesquisadores e instituies brasileiras.

Estudos prvios demonstraram que os pases mais afetados pela pandemia tambm mobilizaram intensamente suas comunidades cientficas para enfrentar a crise sanitria. Estados Unidos, Reino Unido, China, ndia, Itlia e Brasil responderam por cerca de 50% dos trabalhos publicados globalmente.

No caso do Brasil, destaca-se a mobilizao das universidades e instituies de pesquisa na busca por evidncias que pudessem responder aos desafios econmicos, de sade e sociais decorrentes da pandemia. Entretanto, essa resposta se deparou com um cenrio de resistncia governamental s recomendaes baseadas em evidncias, especialmente no campo da sade, em que as mesmas universidades pblicas responsveis pela maior parte da produo cientfica foram alvo de ataques por figuras de autoridade, alm de sofrerem cortes oramentrios e intervenes que comprometeram sua autonomia e liberdade cientfica.

A pandemia foi, portanto, um testemunho da capacidade das instituies de pesquisa brasileiras, em especial as pblicas, de se mobilizarem a fim de dar respostas rpidas e efetivas a crises sociais.

Os resultados do estudo evidenciam o papel central da cincia brasileira no enfrentamento da pandemia e a capacidade das instituies de pesquisa de responder rapidamente a desafios globais. Apesar dos obstculos, como a resistncia governamental e os cortes oramentrios, a produo cientfica nacional se mostrou robusta, colaborativa e diversificada, abordando desde aspectos biomdicos at impactos sociais da Covid-19.

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A experincia da pandemia refora a necessidade do fortalecimento da cincia nacional e na autonomia das universidades, garantindo que o conhecimento produzido possa seguir contribuindo para a sociedade, independentemente de seus desafios.

Fonte: Metrpoles