Brasil : Portovelhs: conhea o jeito 'beradeiro' de falar na capital de Rondnia
Enviado por alexandre em 13/03/2025 10:35:55

Quem no de Porto Velho (RO), ao conversar com um nativo da capital rondoniense, pode ficar sem entender uma parte do dilogo. que muitos moradores tm expresses peculiares para definir coisas do cotidiano, vocabulrio conhecido como “portovelhs“.

Cada estado tem seu vocabulrio prprio, como o amazons e o acreans, mas muitas dessas expresses acabam sendo parecidas devido a proximidade regional.

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A doutora em lingustica Nair Ferreira Gurgel do Amaral, reuniu mais de 500 verbetes no livro ‘Carapan encheu, voou: o portovelhs’, em que identifica e busca explicar as origens e uso de expresses dos moradores dessa “terra de muro baixo” (que acolhe todos que chegam).

Destacando que a lngua dinmica e no pode ser delimitada rigidamente, Nair Gurgel explica o porqu de haver variaes nas expresses e sotaques entre cidades de Rondnia.

“Tudo na lngua depende do processo de colonizao. Nosso jeito de falar tem muita influncia, mas como eu disse, a lngua dinmica, ela no para, ela muda, sofre influncia e por isso que Porto Velho e Guajar-Mirim, que so os dois primeiros municpios que foram criados tm sotaques diferentes do restante do estado”.

Durante a dcada de 1970, com projetos de colonizao, milhares de migrantes chegaram em Rondnia para ocupar a parte ao sul da capital. Os municpios que surgiram nesse perodo foram formados em maior quantidade por paranaenses, catarinenses, gachos e mineiros, explica Gurgel.

“Com o boom do “eldorado”, a construo da BR-364 e a vinda das pessoas do sul e sudeste pra c que foram surgindo novos municpios, entre eles Ariquemes. Ento de Ariquemes pra l, seguindo o eixo da BR tem outro jeito de falar por conta dessa influncia”, explica.

J em Porto Velho, a ocupao maior de nordestinos que chegaram na cidade no segundo ciclo da borracha. A professora acredita que, na influncia da fala, pouca coisa restou do primeiro ciclo da borracha que levou muitos barbadianos, ingleses e americanos cidade.

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J no segundo ciclo, durante a Segunda Guerra Mundial, muitos nordestinos que foram trabalhar como soldados da borracha se fixaram na cidade e deram tom ao jeito de falar em Porto Velho. “Maceta”, de origem cearense, “brocado”, “rangar” e “telez” so algumas das influncias nordestinas.

Na cidade, h tambm influncia portuguesa de forma indireta, vinda de Manaus (AM). chiado na letra “s”, lembra a professora. Outra influncia portuguesa apontada por ela o uso do “tu”.

“No tem muita influncia indgena no nosso sotaque, mas no vocabulrio temos tudo, e na culinria que toda baseada na cultura indgena, o tucupi, a farinha, macaxeira, tapioca”.

Hoje aposentada, Nair segue como professora voluntria da Unir e vende itens como camisas e chaveiros com as expresses tpicas de Porto Velho.

Como prova do dinamismo da lngua ela pontua que mesmo dentro de Porto Velho h variaes entre grupos e localidades. Alguns exemplos so os pescadores, ribeirinhos e lavadeiras. Agricultores da regio dos distritos de Unio Bandeirantes e Rio Pardo tambm tm um sotaque mais parecido com o das cidades do interior, j que foram formados por maioria mineira, paulista, gacha, etc.

Uma expresso comum a Porto Velho e o restante do estado “piseiro”, lembra Nair. No entanto, ela explica que mesmo alguns achando que ela originria de Rondnia, na verdade, durante uma das pesquisas, ela descobriu que “piseiro” vem de de Gois e Mato Grosso.

“Onde cria muito gado, ele fica preso e de tanto pisotear, chamava aquilo de piseiro. Depois, os bailes no interior eram de cho batido tambm e chamavam de piseiro onde tem festa”, diz.

Confira algumas das expresses do dicionrio portovelhs:

Arrumao – inveno
As mina pira – gria utilizada por adolescentes para dizer que as meninas gostam muito
Assear – tomar banho
Baixa-da-gua – lugar para onde se manda quem est chateado, lugar distante
Bagao – cansado
Baladeira – estilingue
Banho – balnerio
Banzeiro – movimento das guas dos rios, produzido pelo vento ou quando a uma embarcao; ondas no rio agitado
Beradeiro – pessoa que mora na beira do rio ou que sente orgulho de ser portovelhense. Antigamente, era utilizado para pessoa cafona, brega.
Brocado – fome
Cair na buraqueira – cair na gandaia, ir pra farra
Carapan – nome dado aos mosquitos sugadores de sangue
Carapan encheu, voou – provrbio usado quando uma pessoa faz uma visita rpida, come alguma coisa e vai logo embora
Caso – presdio
Catar – pegar algo
Cega – mentira ou no comparecer a um evento
Cemitrio – jogar queimada
Chabocar a venta – dar murro na cara
Cuidar – fazer algo rpido
Dar f – perceber
Dar uma pedrada na gatinha – xavecar, aproximar-se de uma garota
Desmantelado – desarrumado
Eita pau – expresso de espanto, surpresa
Enxerido – intrometido
Espocar – estourar
Fuleragem – no presta
Gaiato – fazedor de graa
Galeroso – marginal
H (ag) – papo furado
Ir pra Juquira – ir pro mato
Jauera (j era) – j foi, perdeu
Lazarento – infeliz
Leseira – preguia, falta de ateno
Maceta – coisa grande
Mais sujo que acari-bod em poo de lama – pessoa que deve muito ou que j cometeu muitos crimes
Mangar – tirar sarro, caoar
Mana – amiga, colega
Meu ovo! – discordncia com algo
Moscar – faltar ateno
No doze – algo muito bom
Nem com nojo – no mesmo
Noiado – usurio de entorpecente
Orelha seca – ajudante de pedreiro
Papagaio – pipa
Peia – coa, pisa, surra
Peteca – bola de gude, bolita
Presepada – ato vaidoso ou extravagante para atrair a ateno, palhaada, confuso
Que s, oh! – representa grande quantidade
Rabeta – pequena embarcao tipo canoa usada por ribeirinhos e movida a motor de baixa potncia
Refrigerante de dois litros – pessoa que vai bem at a metade, depois perde o gs
Saltenha – salgado de origem boliviana recheado com frango e batata
S a capa da gaita – pessoa magra demais
Te mete! – ir bem em algo, humilhar
Telez – tu leso, ?
T mesmo (T mermo) – confirmao
Tob – bobo, imbecil, idiota
Zoada – barulho, gritaria

*Com informaes da reportagem escrita por Digo Holanda, da Rede Amaznica RO ... - Veja mais em https://ouropretoonline.atualizarondonia.com/cultura/portovelhes-conheca-o-jeitinho-de-falar-na-capital-rondoniense/
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