A cada nova Conferncia das Partes (COP) ou qualquer outro evento ambiental, a responsabilidade de pressionar governos por aes concretas parece sempre recair sobre a sociedade civil. Esse fenmeno no novo, mas, com a realizao da COP 30 em Belm – um dos beros da Amaznia –, essa cobrana se torna ainda mais necessria, especialmente pela oportunidade de amplificar as vozes da regio.
A COP 29, realizada em Baku, no Azerbaijo, frustrou muitas expectativas, por falta de resultados concretos. Agora, o Brasil tem um papel central, tanto pelo peso da Amaznia no ecossistema global quanto pelas desigualdades internas que evidenciam a falta de infraestrutura bsica em muitas regies.
O primeiro desafio interno foi garantir a permanncia da COP 30 na Regio Norte. A desigualdade entre os estados nortistas e as grandes metrpoles do Sul e Sudeste evidente. Se o Brasil investisse em infraestrutura de maneira equitativa, no haveria questionamentos sobre a capacidade da Amaznia de sediar um evento desse porte.
O segundo desafio preparar a cidade para receber a comitiva de governantes mundiais. No entanto, essa preparao no deve ser um esforo temporrio para impressionar visitantes, mas sim uma poltica de longo prazo para garantir direitos fundamentais s populaes locais. O Brasil merece estrutura e desenvolvimento permanentes, no apenas quando est sob os holofotes internacionais.
O legado da COP 30 no pode se limitar realizao de um evento bem-organizado. preciso que seja um marco de transformao, onde o Brasil assuma a liderana ambiental no apenas no discurso, mas por meio de aes concretas que beneficiem tanto seu povo quanto o planeta. A responsabilidade compartilhada, e apenas com a participao ativa de governos, empresas, sociedade civil e organizaes ser possvel avanar rumo a um futuro verdadeiramente sustentvel.
Alm disso, a COP 30 precisa ir alm de discursos superficiais e compromissos mornos. comum que a sociedade civil seja cobrada a pressionar governos, mas essa presso no pode ser sua nica responsabilidade. Quando organizaes se posicionam, so frequentemente vistas como opositoras, quando, na verdade, esto apenas cumprindo um papel essencial de questionamento e cobrana por aes efetivas.
Mais do que nunca, essa uma oportunidade de trabalho conjunto entre governos, sociedade civil, empresas e organizaes comprometidas com a floresta viva e com o cuidado com as pessoas que cuidam e vivem nela.
Alm disso, fundamental que as vozes das comunidades tradicionais sejam ouvidas. Povos indgenas, ribeirinhos e quilombolas vivem as consequncias das mudanas climticas de forma direta. No entanto, muitas vezes, esses grupos so excludos dos debates ou confrontados com uma linguagem tcnica que os distncia do processo decisrio. A comunicao equitativa deve ser uma prioridade. Tornar veis conceitos como resilincia, sustentabilidade e adaptao garantir que essas populaes possam participar ativamente, no apenas como espectadores, mas como protagonistas.
A COP 30 tem o potencial de marcar uma virada na forma como o Brasil e o mundo encaram as questes ambientais. O desafio agora transformar essa oportunidade em ao real e duradoura.
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